HUMBERTO PORTUGAL DE LIMA

(1931-1998)

 

Advogado, poeta, romancista, ensaísta, maestro, cantor e compositor erudito. Nasceu em Salvador, em 8 de abril de 1931, filho de Godofredo Alvares de Lima e Rosa Barbosa Portugal de Lima. Por diversas vezes foi premiado por seus romances históricos e poemas. Optou pela arte ainda criança, quando aos cinco anos começou a estudar música. Autor prolífico, tem diversas obras inéditas, entre as quais o romance histórico A bala de ouro. Faleceu em 1998.

 

 

LIMA, Humberto Portugal de.  Salvador, cidade amor e da saudade. Volume I.           Salvador, BA: Secretaria de Cultura e Turismo, Fundação Cultura do Estado, Empresa Gráfica das Bahi, 2002.   239 p.  ilus. ISBN 85-7505-058-3  Foto da capa: Jesus Antônio S. Carneiro.   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

     IGREJA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO

(Chamada de Igreja dos Pretos)

 

Ei-la na ladeira do Pelourinho,
Com toda a sua clássica imponência!
Construída por escravos, foi o ninho
Que abrigava as vítimas da inclemência

 

De alguns senhores da época. Caminho
Da esperança e da fé, sem opulência,
Completou o postal circunvizinho
Dos sobrados de límpida aparência.

 

Ali, com seus princípios, foi formada
A Irmandade que negros congregava,
Hoje como ontem, bem organizada.

 

E em seus dias de festa, como escrava
Que Deus já libertou, é consagrada
Com missa que, há séculos, se rezava!

 

 

 

LADEIRA DO TABOÃO

 

O velho elevador não mais funciona.
Mantendo a tradição que lhe deu nome
De Taboão, e que o tempo não consome,
Ainda se ergue tão firme, que emociona!

 

A ladeira que tem marcado, em zona
De históricos eventos, seu renome,
Desce discreta e na baixada some,
Só deixando o passado vivo, à tona...

 

Há um comércio vário! E algumas tendas
De artesãos, sapateiros e alfaiates,
Prestam serviços de tão parcas rendas...

 

Enquanto alguns meninos com rebates
Na rua jogam bola e, entre contendas,
Dão inveja a dois trôpegos mascates...

 

 

FORTE DE SÃO MARCELO

 

 É o guardião da secular cidade
Que veio a se chamar do Salvador.
O sol de todas as manhãs, em flor,
Suas muralhas rígidas invade...

Manteve, há séculos, a prioridade
De sob as ordens do Governador
Guardar os presos com maior rigor,
Desagravando a régia sociedade.

De lá fugiu, numa estratégia estranha,
Bento Gonçalves. Decisões pressagas*
Marcaram a exceção dessa façanha!

Imponente, ainda ostenta, além, as plagas,
Sua estrutura pétrea que se banha
No mesmo mar de tão tranquilas vagas.

 

 

Página publicada em março de 2017