HENRIQUE WAGNER
Poeta, contista e crítico de cinema e de literatura, colunista do jornal Sopa poesia e afins, e do site ExpoArt, Henrique Wagner publicou os livros de poesia: O grande pássaro e As horas do mundo e o ensaio A linguagem como estética do pensamento. Reside em Salvador, Bahia, onde nasceu no dia 16 de maio de 1977. Homem exótico teve uma infância cheia de medos e complexos. Criança reprimida, recalcada e com tédio. Assim, logo que completou seus18 anos, entregou-se ao casamento, sentindo-se à vontade para o retorno à casa paterna, logo que se findou o amor. O fruto deste casamento chama-se Miguel Wagner, que hoje conta dez anos de idade e vive em Brasília com a mãe. No âmbito materno, disputa com afinco, uma verdadeira guerra narcisista, quando se ver naquela que não é espelho. “Somos ambos neuróticos e impulsivos”. Na doçura do pai, encontrou o amor. Sua luta maior é interna. Típico dos poetas, realizarem suas grandes obras em meio as suas angústias e ansiedades. Com Henrique Wagner não foi diferente. Mas, não somente o sofrimento te inspira, também, os amores, dentre eles o amor de irmão e principalmente o amor paterno. Texto extraído de http://apoesiadobrasil.blogspot.com.br
|
WAGNER, Henrique. As horas do mundo. Salvador, BA: Secretaria de Cultura, Fundação Cultural do Estado, Empresa Gráfica da Bahia, 2001. 105 p. 15,5x21,5 cm. (Coleção Selo Editorial Letras da Bahia, 68) Ilustração da capa: Roberto Machado. ISBN 85-7505-014-1 “ Henrique Wagner “ Ex. bibl. Antonio Miranda
AUTO-RETRATO
Sempre ausente,
posando
para um outro
retrato.
DESFILE
Árvores frondosas de folhagem nova.
Um ar sobrando, sentindo falta de gente.
Gente que ia chegando em seus carros,
sob um céu de azul tão olhar de menino louro!
Filas de automóveis novos se formando
ao longo das mais próximas calçadas.
Conversas, pedras, piadas, muito movimento.
Assim se via, mesmo que não fosse, um desfile de vestidos
vivos, cheios de detalhes e protuberâncias,
ternos tenros, homens velhos, moças velhas, um desfile
do tempo, que às 6 horas, mais ou menos, havia
acabado. O tempo havia acabado para o enterro.
OS VELHOS
Já não alcançam mais o que cresceu
das plantas de seus próprios pés.
Assim, furtam-se de colher os frutos maduros,
e esperam que caiam apodrecidos em sua cama.
Esperam que caiam, e caem,
e há respeito de garganta encoberta,
há um respeito profundo pela gravidade.
Então seus frutos fazem o que devem fazer:
despencam no tempo exato de cada um,
e vão apodrecendo, enquanto os olhos voltados para o chão
se alegram por nele não ver um espelho,
mas o negrume da terra,
a escuridão do abismo arenoso
— um universos de eternas raízes.
SONETO FÚNEBRE
Todas as horas morrem da mesma morte.
Se jovens ou decrépitas, há hora exata
morrem. Inteiras, só disputando o dia
— sim, o futuro sabe delas precoces.
O pêndulo — maneira da hora viver
um pouco mais, ou ser a hora completa.
O pêndulo, e esqueci já o que ia dizer.
O pêndulo: coisa e sem meta.
Há um cheiro de morte gritando no tempo,
mas as horas são, foram sempre silentes,
ainda que achem eco em seus minutos.
Todo começo de hora traz bruscamente
o final dum milênio, o fim dum minuto.
Todas as horas morrem eternamente.
HERA 1972-2005. Antonio Brasileiro et al.. organizadores. Salvador, BA: Fundação Pedro Calmón; Feira de Santana, UFES Editora, 2010. 712 p. fac-símile. ilus. (Memória da Literatura Baiana). ISBN 978-SS85-99799-14-7 Ex. bibl. Antonio Miranda
OS POMBOS
O vate paraibano teve o busto
ausente em toda a sua curta vida,
e ausente de si mesmo viu crescida
a angústia de não ser, vivendo Augusto.
Fantasma de si mesmo, ergueu-se o susto
de versos em eterna despedida,
e o pouco que viveu, viveu a custo
de toda a poesia preterida.
Viveu a alma, apenas, desnutrida,
a carne pusilânime, maldita,
agora endurecida pelo busto.
Viveu a sombra, sempre empedernida,
e o corvo, a sua ave preferida,
não reconhece mais o pobre Augusto.
IARARANA – revista de arte, crítica e literatura. Salvador, Bahia. No. 8 – 2002-2003. Ex.bibl. Antonio Miranda
Henrique Wagner ganhou o Segundo lugar no Prêmio Iararana de Poesia 2001 – 2002, que reproduzimos aqui a página com os poemas:
Página publicada em maio de 2016. Ampliada em janeiro de 2019 |