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HÉLIO SIMÕES
(1910 – 1987)
O poeta nasceu em Salvador, Bahia, Brasil, no dia 21 de dezembro de 1910. Formado em Medicina em 1932.
Foi professor de Literatura Portuguesa na Faculdade de Filosofia da Bahia. E chegou a dirigir a referida faculdade e depois o Instituto de Letras e o Departamento Cultual da Universidade Federal da Bahia.
QUANDO ME VOU POR ESSAS RUAS...
Nas tuas velhas ruas decadentes
de prédios coloniais
nestes becos
meandrasos
labirínticos
de sombra secular,
revives, oh! Bahia evocadora,
a faustosa idade dos governadores
o áureo tempo dos teus vice-reis!...
Tenho a impressão de recuar na história,
todas as vezes que, silencioso
e reverente
como quem corre um templo,
atravesso uma dessas velhas ruas
olhando esses portões vetustos
religiosamente
como
quem
remira os fechos de um missal antigo.
E a verdade bíblica do Eclesiastes,
ecoa em mim,
acabrunhadoramente,
ao distinguir sobre os portais artísticos
o recorte heráldico de um brasão
que o desprezo republicano
caiou...
E, se passa ante mim nestes momentos,
nestas horas de evocação
algum velho de longas barbas brancas,
descubro-me respeitoso
e curvo-me ao saudá-lo,
como se o velho fosse
Thomé de Souza.
(1928)
CAVALINHO DE JUDEU
Cavalinho de judeu voa na beira do rio. Toca na água, sente frio, levanta, voa mais alto, torna a descer outra vez.
Levezinho, voa rente da corrente.
Dá uma volta. Novamente toca o rio, sente frio, torna a subir, a voar, torna de novo a descer.
A asa é tão transparente que a gente nem vê bater.
Fica parado no ar, (Dentro do rio - que frio! -
há um cavalinho também).
Desce, voa, voa, desce, sempre a descer e a voar. Até que num rodopio molha as asas, cai no rio.
É o rio que o vai levar...
Cavalinho de judeu nunca mais há de voar.
(1951)
Página publicada em março de 2020
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