GUSTAVO FELICÍSSIMO
Gustavo Felicíssimo é natural de Marília, interior de São Paulo, radicando-se na Bahia a partir de 1993. Reside desde janeiro de 2007 em Itabuna. Escritor e empreendedor cultural. Graduando do curso de Letras (UESC). editor da Mondrongo Livros.
FELICÍSSIMO, Gustavo. Desordem e outros poemas inéditos. Ilhéus, BA: Mondrongo , 2015. 70 p. (Horizontes) ISBN 978-85-65170-88-8 Ex. bibl. Salomão Sousa
DEFINIÇÃO DE FERNANDO PESSOA
Nesse bar ordinário
eu penso na tua solidão
e no reflexo da Esfinge que és
Nesse bar ordinário
eu penso em ti
como um cão impetuoso
com tantos outros por dentro
Nesse bar ordinário
eu penso que és
em si
o fingimento
Penso que és uma luz
mas os que se encontram
não o alcançam
Por isso é mais preciso asseverar
os desencontros
as criaturas repartidas
prostradas nesse bar ordinário
onde o que te espelha
— de algum modo —
são esses estilhaços
essas ilhas
a angústia de sentir pensando
de o sentir-se tão distante.
Nesse bar ordinário
sinto que és o meu ópio —
minha dose diária de Absinto.
DECLARAÇÃO DE PRINCÍPIOS
Para Cristiano Jutgla
Dane-se essa moda do politicamente correto,
essa mania de não poder desagradar nunca,
afinal, a existência não é mais que um incêndio.
Que importa restarem versos em chamas?
Que importa a bondade dos liquidados?
Não procurar a verdade na imensidão da verdade,
senão na força falsa de um imbecil diplomado
é o mesmo que não se aplicar em traduzir
o que a vida mesma está sempre a nos dize.
Não tecerei alvíssaras a mais pura mediocridade.
Não vencerei o tolo jogando o seu jogo.
Ele surge como se fosse um astro,
mas é o farol apagado no meio da imensidão.
Assim ele marcha: num cortejo fúnebre.
Assim se mantém: com muletas que não
o sustentam.
Nenhuma filosofia o alimenta ou ampara.
Estúpido, que na estupidez se espelha,
eu nasci declarando guerra a você:
eu já nasci odiando a tua mediocridade.
Página publicada em março de 2018
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