GOULART GOMES
Goulart Gomes (Salvador, Bahia, 1/5/1965) é graduado em Administração deEmpresas, Especialista em Literatura Brasileira (UCSAL) e pós-graduando emComunicação Integrada (ESPM-RJ). Criador da linguagem poética Poetrix e um dosfundadores do Grupo Cultural PÓRTICO. Publicou os livros: Anda Luz (1987), TodoDesejo (1990), Sob a Pele (1994), Trix, Poemetos Tropi-kais (1999), LinguaJá, oTerritório Inimigo (2000), Esfinge Lunar e Outros Enigmas (2001), poesias, apeça teatral A Greve Geral (1997), o cordel A Divina Comédia (1989), Todo Tipode Gente, contos (2003) e Matrix Revelations – Tudo o que Você Queria Sabersobre o Filme, ensaio (2005).
Obteve 62 prêmios em concursos de poesia, prosa e festivais de música, destacando-se duas Menções pela Academia Carioca de Letras e União Brasileira de Escritores (RJ, 2000 e 2001) e o Primeiro Lugar no Prêmio Escribas de Poesia (SP, 2002). Integrou 27 antologias no Brasil, Cuba, Espanha, USA, Itália e Coréia do Sul e, ainda, trabalhos divulgados no México, Portugal e França.
» Homepages: www.geocities.com/goulartgomes e www.movimentopoetrix.com
= Veja também ENSAIO: POETRIX: UMA PROPOSTA PARA O NOVO MILÊNIO, por
Jussara Midlej e Goulart Gmes.
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EN ESPAÑOL
POEMA IRMÃO
Vamos erguer o tronco
meus Irmãos do Campo
arrancar nossas raízes
erguermo-nos sobre os homens
dar-lhes sombra, frutos e grãos
a terra a quem lhe rega a suor
quem da planta dos pés lhe conhece os sulcos
e com as mãos cheias
semeia
Vamos abrir as bocas e tinir as chaves
meus Irmãos das Fábricas
nossas botas e capacetes lembram lutas
onde só nosso sangue correu;
o grito agonizante das sirenes nos diz
que é hora de acordar
e não vender nossas vidas
Vamos construir nosso tempo
meus Irmãos dos Andaimes
temos uma pá de razões
e um caminhão de desesperanças;
não viemos de peito aberto, mas concreto
e se há uma massa a ser misturada
esta massa somos nós
Vamos registrar nosso número
meus Irmãos das Salas
de penas apenadas
e mostrar nosso papel
Queremos as mesas de nossas casas também fartas
arquivar nossas necessidades
Vamos caminhar, meus Irmãos de Trabalho
com nossos próprios passos
e tornar ouvida nossa Vontade;
não mais pedir, mas fazer
não mais oferecer, mas cobrar
o justo preço que tudo tem
Cada homem uma letra, uma semente, um tijolo
no trabalho maior que podemos fazer:
erigir nossos sonhos
darmos os braços
unir nossa voz
para que nossos filhos sejam muito mais
Irmãos!
GOMES, Goulart. Linguajá. O território inimigo. Salvador, BA: Fundação Cultural do Estado, 2000. 94 p. “Goulart Gomes “ Ex. bibl. Antonio Miranda
ALEGORIAS
Carnavais
chocam-se cimitarras
ao som dos baixos altos
das guitarras
máscaras que retiramos
das formigas as cigarras
nestes dias
todos os prelúdios são iguais
alegorias de alquimistas
trôpegos
não há o que dizer
além dos surdos gritos
dos momos
os saltos das múmias
e os trejeitos dos monos
este minuto não vai ser
igual àquele que vai ser
cinzas de desejos
o que restou?
CORRENTEZA
Passavam pelas águas lívidas
retalhos ofuscantes de passado
embalados na dança líquida
em canoas quadriláteras
Vinham contra a maré
(ou era eu quem ia?
difícil costurar)
e me bem ou maldiziam:
não eram meus
corriam na rolimã das gotas
desancorados, desarrimados
por afora
nem doces nem salgados
Não me pertenciam
inútil lançar teias
amolar anzóis
Minha nave indômita seguia
irretroátil
para canto algum
GOMES, Goulart. Lorem ipsum. Poetrix escritos entre 2007 e 2015.. Itabuna, BA: Mondrongo, 2016. 120 p. 11x14,5 cm ISBN 978-85-5557-0278 Ex. Biblioteca Nacional de Brasília, doação de Aricy Curvello.
DESCARTO-ME
sinto, penso, logo, omito
sei que sou eu mesmo
meu malvado favorito
ESPELHO D´ÁGUA
as trutas se banham nas nuvens
enquanto o sol rompe as gotas
navego ou flutuo?
VEIO VINHO
longa noite vazia
a poesia me preenche
enquanto a garrafa esvazia
ÓBITO
em sua memória tomarei um porre:
importa, mesmo como se vive
não como se morre
O VATE
visito Lisboa
pelas ruas sigo
os passos de Pessoa
TEXTOS EN ESPAÑOL
Traducciones de Gabriel Solis
BATALLA FINAL
Si mañana me condenan a muerte
o si el Halley besa ávidamente la Tierra
quiero ver por último el brillo de tus ojos.
Cuando la playa invada mi huerto
y el magma se derrame en mi sala
inhalaré profundamente tus cabellos.
Cuando la lava del Vesubio y
el suspiro de los vendavales
asomen en mi calle,
será en tu pecho que estaré reclinado
(des)esperando el último momento.
Aunque toda la sal de los océanos
y toda la tierra de las montañas
aterricen en mi techo,
sólo tus labios enterrarán mi cuerpo.
Los tanques grises del Tío Sam estacionarán
en el Abaeté
y herirán el faro con sus puñales
pero yo estaré acostado
encima, abajo, bajo, sobre, al lado
en ti, de cualquier manera,
cuando todos se vayan, proyectil indetonado.
Y cuando los patriots y exocets deshagan mis nubes
no habrá día siguiente:
estaré en la tumba de tus brazos
explodiendo en millones de átomos, desintegrándome:
el último soldado desconocido ...
ELEGíA
Hoy eres shangai-lá
deseo de todo lo que no hubo
por miedo, cobardía
o ganas de negar
por destino, ironía
ciudad vacía, torre de marfil
aquí
fuiste Taj Mahal
en la madrugada sonrisal
un brillante girasol
a la luz de la luna;
tú eras desnuda
estatua de cristal
Madrid, desierta y linda,
era
espera ... tal vez Seul
en plena Guerra Fría!
saloon de far-west
al medio-día
bailarina de can-can
en el Moulin Rouge
tu fuiste la Bahía:
hechizo, magia
y nada más
es hoy fantasía
Colombina y Arlequin
no sabes en mí
vacío de escotilla
en nave espacial
que quedó
no eres normal
eres simplemente el todo
Navidad en pleno julio
desayuno en Carnaval
alma: esencial
amor adolescente
en lecho conyugal
más bella que mujer de treinta
eres linda
aunque distante,
aún
EMBELLEZAMIENTO
Causa peligro cuando belleza es mucha
espanta, araña el suelo de desespero
asombra, simula contentamiento
porque de todo nos perdemos un poco
y queda en las cosas un olor de gente
como el embarazo de la luna
que embrutece la razón
cuanto hasta maullido de gato o grito de grulla
los ablanda
una mujer es su bulto
y lo que le cabe de intocable
de imperturbable
o cuando se renueva por las crías
remolino de belleza enloquece
hincha las arterias, pone vértigos
mejor prender el cuerpo dentro suyo
(entregarlo es cosa fea
provoca remordimiento)
y belleza supone plenitud
ALEGORíAS
Carnavales
se chocan cimitarras
y el sonido de los bajos altos
de las guitarras
máscaras que retiramos
de las hormigas, las cigarras
en estos días
todos los preludios son iguales
alegorías de alquimistas
torpes
no hay lo que decir
además de los sordos gritos
de las farsas
los saltos de las momias
y las muecas de los monos
este minuto no será
igual a aquél que va a ser
cenizas de deseos
¿lo qué quedó?
LA GRAN AUSENCIA
De mí soy sólo mitad
otra se desencuentra
en perdidos atajos
de caminos mal recorridos ...
Empapada en la fuente del pasado
y maldita en sollozos desesperados
mi meta resbaladiza
se refugia en los escombros,
hasta huye de la luz de la luna;
mi voluntad es huidiza
y mi cobardía es sombra
sobra de antigua edad,
cortina de claustros
oliendo a azufre y mirra.
Mi soledad se alimenta
de voz humana
y en metástasis contamina.
Hay derrotas presas en la pared
palabras frías que son mis trofeos.
Héroe sin glorias
de incierta historia
y mitad sin futuro.
Extraídos de POESÍA DE BRASIL, volumen 1. Org. de Aricy Curvello.
Bento Gonçalves (Brasil): Proycto Cultural Sur/Brasil, 2000. 188p.
ANTOLOGIA POETRIX , 5 / organizador Goulart Gomes. São Paulo: Scortecci, 2017. ISBN 978-85-366-5212-2
Ex. biblioteca de ANTONIO MIRANDA
[ O POETRIX é terceto contemporâneo de temática livre, com título e um máximo de trinta sílabas. Proposto, inicialmente, como uma evidente alternativo do HAIKAI, mantendo sua forma em tercetos mas subvertendo o seu conteúdo, ao admitir título, rimas, figuras de linguagem e um maior número de sílabas. Maiores informações sobre a sua estrutura, podem ser lidas no BULA POETRIX, no site www.movimentopoetrix.com.br ]
PARALISIA
poesia
ela nos salva?
ou nos anestesia?
POEIRA
uns, pretos
outros brancos
ECLIPSE
após tanto calor
só quero conquistar
meu lugar à sombra
ETERNA JUVENTUDE
delta filosofal
em teu colo
a ciência do Bem e do Mal
ELIXIR DA IMORTALIDADE
profunda alquimia
teus pelos dourados
toda magia
DESPERTADOR
tuas curvas tortas
minhas retas curvas
deduzem o infinito
APÓS LAVAR OS PRATOS E
FECHAR A TORNEIRA
epitáfio da morte:
o silêncio
é para os fortes!
TATUAGENS
sem agulhas nem tintas
as cicatrizes estão na alma
as marcas, na memória
DOMA-DOR
sigo aqui
acorrentando meus monstros
para que não me devorem
RELAÇÕES PREMIADAS
pela pena reduzida
conto tudo
ou não digo nada?
ELLE ET LUI
sem água, areia ou costela
Deus, para tirar um sarro,
os criou do mesmo marro
OH!LIMPO
deuses nos ferem
recordam-nos
que somos imortais
*
VEJA E LEIA outros poetas do POEMATRIX em nosso Portal:
Página publicada em fevereiro de 2024.
Página ampliada em janeiro de 2017 |