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GONÇALO SOARES DA FRANCA

 

Nascido em 1678, em Salvador, Bahia, e falecido em data desconhecida mas posterior a 1724, GONÇALO SOARES DA FRANCA foi membro supranumerário da Academia Real da História, de Lisboa, e um dos fundadores da Academia Brasílica dos Esquecidos, onde apresentou as Dissertações da história eclesiástica do Brasil, vários poemas em português e uma epopeia em latim intitulada Brasilia, dada como perdida. Além disso, vários textos seus tinham sido incluídos numa coletânea publicada por Sebastião da Rocha Pita em 1709 a propósito da morte de D. Pedro II. Este livro parte da (re)descoberta de um corpus inédito contido num códice da Biblioteca Pública de Évora e mostra-nos um Gonçalo Soares da Franca que, sem se afastar do registo dominante no barroco de língua portuguesa, é capaz de nos transmitir, sobretudo nos poemas burlescos e satíricos, uma impressão de frescura e de crónica bem-humorada do Brasil de finais do século XVII e inícios de setecentos, num espaço que vai da Baía a Sergipe.

Fonte da biografia: https://sigarra.up.pt/fcup/pt/

 

 

Soneto

 

Hoje que, remontada ao firmamento,

Fênix pertende do Brasil a história,

das flamas emplumar-se da memória,

sacudindo os carvões do esquecimento.

 

A vossa proteção o seu intento

com justa confiou digna vanglória,

que onde as armas, e as letras têm vitória,

têm os anos, e os tempos rendimento.

 

Não tema pois, a história a cinza obscena,

se eloqüente uma mão, e outra alentada,

põem na estampa dos Ceus qualquer Camena:

 

que era glória lograsse eternizada,

para os vôos, arrojos nessa pena,

para os rasgos, impulsos nessa espada.

 

 

 

Epitáfio

 

A que vês, ó caminhante,

(em desenganos da vida)

fixa estrela hoje luzida,

Luminar ontem errante,

a golpes dous num instante

deve a mudança, em que gira;

ao ponto da morte expira,

mas tanto sem sobressalto,

que acertou alvo tão alto,

porque pôs tão Alta a mira.

 

 

 

Página publicada em dezembro de 2018


 

 

 
 
 
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