POESIA BARROCA BRASILEIRA
FRANCISCO PINHEIRO BARRETO
Foi membro da Academia Brasílica dos Esquecidos, academia de letras do Brasil Colônia fundada em 1724, sob o patrocínio do vice-rei D. Vasco Fernandes César de Meneses na cidade de Salvador, na Bahia.
Ao Assunto Lírico
Soneto
Do rigoroso inverno combatido
jaz o Álamo triste, e desfolhado,
que a um pobre a quem persegue o fado
a desnudez lhe serve de vestido.
A verde gala que o Abril florido
para ornato gentil lhe havia dado,
de pura inveja o vento lhe há levado,
só pelo ver no vale bem nascido.
Neste estrado fatal da sorte dura,
o remédio, com peito generoso,
a tanto mal a Hera lhe segura.
Abraça-se co tronco lastimoso:
ficam ambos coa mesma compostura,
fermosa a Hera, o Álamo pomposo.
BAHIA
À religião, às leis nenhum respeito;
ufano o vício, o mérito escondido,
favoneado o crime, e não punido;
muitas sociedades sem proveito;
para cabalas cada vez mais jeito;
em juiz qualquer zote convertido;
austero e violento o corrompido
nos mais notando o mínimo defeito;
por aqui, por ali, casas roubadas;
carne muito barata em teoria;
todas as coisas úteis malparadas;
ruim prosa nos jornais, ruim poesia;
francesas contradanças já cansadas:
“eis aqui a cidade da Bahia”. *
*Remissão ao último verso do soneto em que Gregório de Matos encarnece da mesma cidade.
Página publicada em dezembro de 2018; PÁGINA AMPLIADA EM junho de 2020
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