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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

EXPEDITO ALMEIDA

 

nasceu em Juazeiro, na Bahia, nas margens do Rio São Francisco, onde viveu por entre barcas, ilhas, vapores, cantos e lendas que compunham a história da comunidade ribeirinha.

Amante da literatura, desde a infância já rabiscava sonhos no papel. Cursou Filosofia na Universidade Católica de Salvador. Foi Diretor do Museu Regional do São Francisco e Coordenador de Cultura do Centro João Gilberto em Juazeiro.

Participou da equipe que desenvolveu o projeto de revitalização do Centro Histórico de Salvador, através do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia.

Livros publicados: "Curare" (1981) e "Canções de Água Doce" (1989).

 

ALMEIDA, ExpeditoTecendo lã junto à fogueira.  Salvador, BA: Secretaria de Cultura e Turismo, Fundação Cultural do Estado, 2003.  
117 p.  15x21 cm    Ex. bibl. part. Antonio Miranda

 

 

“Sua metáfora é o tempo: devorador, assustador e enlouquecedor.
Sua luz é o sol e a lua, é o humano dentro de si.
Sua poesia é sedutora… transcende a visão imediatista, fugindo do que é óbvio e do lugar comum.
Expedito Almeida se faz ver!”    CHICO SENNA

 

 

O fio da navalha

 

 

Minha esperança

está ficando velha

e eu, em rugas, igual a ela,

sigo atónito de tanto esperar...

 

Marcas do nada... nada...

tempos inexistentes, fotografias não clicadas,

amores perdidos e insónias a granel

compõem minha vida, ávida por brilhantes

abismos!

 

E crudelissimamente feliz,

desejo beijos de curare e seus punhais sem

fim...

viagem só de ida, vinho e formicida, e o tiro do caçador de mim!

 

Minha esperança

está ficando velha

e eu, agonizante, igual a ela,

tento o equilíbrio no fio da navalha!

 

E eu não sou
o que se quer ver
quando se olha!

 

 

 

Queixa

 

Quando eu puder falar com Deus, por certo,

sei que vou me queixar.

 

Vou me queixar em juízo, vou me queixar com juízo vou me deixar falar...

 

Oxalá, muito não seja, e sei lá,

talvez Ele nem me apareça talvez só me faça esperar!

 

 

 

Dor de vidro

 

Justo hoje que compus um verso.

Justo hoje que estou de bem comigo,

me vem uma dor de vidro

a romper no fígado,

uma angústia, uma flor de jazigo,

amarela e lilás!

 

Justo hoje que a noite faz frio e eu aqui no meu rio entre o abandono e a cachaça, tento esquecer do trágico e esboço um riso...

Eu, absoluto dono de minha desgraça!

 

Baudelaire bate à porta

e, numa figura torta

em dor de convulsão,

minha alma sórdida

contorcendo-se em alucinação

expõe cortes e ais...

E louca, num impulso derradeiro,

foge, fecha a porta e abre o gás!

 

 

 

Página publicada em janeiro de 2017



 
 
 
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