EVA LEONES
EVA LEONES nasceu em Pedras, interior da Bahia, e se mudou para Osasco, São Paulo, ainda criança.
Atualmente vive na capital paulista, mas já passou por Rio de Janeiro, Londres, Lima, Montevidéu e Brasília.
Doutora em Letras pela Universidade de São Paulo, tem entre seus objetos de estudo e reflexão a relação da poesia com a leitura e com a cultura popular.
É também organizadora de projetos e professora de cursos e oficinas livres sobre literatura e formação de leitores e escritores.
Escreve poesia e narrativas breves desde a infância. Tempo / pássaro é seu primeiro livro.
LEONES, Eva. Tempo /pássaro. Brasília, DF: Claudine Maria Diniz Duarte, 2018. 104 p. 13,5 x 19 cm. ISBN 978-85-924942-2-3
Ex. bibl. Antonio Miranda
manhã
Se não me engano, aí está o plano:
Deixar o tempo do desengano,
Fechar a porta ao mundo insano,
Abrir janelas, dançar nas frestas
Do teu querer.
Na mesa posta:
Olores vários,
Fomes de ver,
Suor e enigma,
Terras à vista,
Flor e paisagem;
E no dizer, envolto em panos,
Pães à espera, lâmpadas finas,
Telhas e pássaros.
E eu não me engano:
Neste poema,
Nesta distância,
- Seu alarido,
Seu alvoroço,
E o corpo é apenas Parte do
plano.
armadura
Onde estão os pássaros
A esta hora?
Por que será
Que o balanço dos ramos
E a brisa da noite
Nas folhas, nas árvores
Os silencia?
Onde estão os pássaros
Ao meio dia?
Coloco a armadura
E abro a janela
Procuro esses pássaros
Procuro meu voo
Para além das nuvens
Procuro o meu canto
Meus passos na brisa
Nos troncos do sonho
Coloco a armadura
Não posso voar
Espero que a noite
Me traga o luar
Onde estão os pássaros
Nos ramos das árvores
Onde estão os pássaros
Que vão me levar?
Nos galhos mais firmes
Nas folhas mais verdes
E nestas raízes
Da minha armadura
Você vem pousar
Trazendo na voz
O canto dos pássaros
Trazendo nos passos A brisa do tempo
Que você ficar
quero-quero
O que ouve o pássaro?
O que ele espera?
Em que momento
O seu querer
Se altera
E o seu dizer se adoça
Ou se encrespa,
Defesa repentina de um Querer?
O que é um querer
Que se exaspera
E se repete e se esmera
Em dizer?
Quando é que ele
Se eleva e se extasia
Em música, dor e volúpia
Do dizer?
E por que fazer o ninho
No meio da cidade,
Expropriando
A cidade,
Arranhando ouvidos
E violões
Que esperam?
OU será que não esperam ?
Página publicada em junho de 2019
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