EURICLES DE MATOS
(1888 – 1931)
Poeta simbolista — assinava Evrycles em seus textos—, e jornalista baiano (Bahia, Brasil), diplomado pela Escola Normal.
Vivendo no Rio de Janeiro, onde foi secretário do jornal A Noite e posteriormente em O Globo, onde chegou a ser diretor (a partir de 1925). . Publicou sonetos na afamada revista Fon-Fon.
Em Salvador, Bahia, existe a EURICLES DE MATOS.
SENHORA DA SAUDADE
Como eu Vos quero bem, Senhora da Saudade!
Lírio Preto que sois porque viveis de preto,
Parodiando um Martírio estranho e predileto
De um torvo coração, vivendo na orfandade.
E assim não me quereis, Senhora da Saudade!
Vós, toda Compaixão, Vós toda meu Afeto,
Nascida para estar num mundo mais secreto,
A partilhar Amor, Carinhos e Bondade.
E bem triste que sou e bem tristonho vivo,
Cativo dessa Dama e dessa Flor cativo,
Eu tão velhinho já na minha Mocidade!...
E ah! Sonho meu de Amor, estranhamente santo,
Ouvi o que Vos digo, estático de Espanto:
—Como eu Vos quero bem, Senhora da Saudade!...
ENCANTAMENTO
São saudades de um Bem que nunca tive
as que sofro, disseram-me. Em verdade,
um Bem sorriu-me na primeira idade,
gozando-0 em sonhos muita vez estive...
Foi-se-me, a conquistá-Lo, a mocidade.
Minha vida senti como em declive...
E onde esse Bem que sei para mim vive,
por Quem sou Cavaleiro da Saudade?...
Vê-lo não me bastava. E não me basta
guardá-Lo, hoje, somente na lembrança
— Segredo em forma de Anjo - pura e casta!
Encantamento! Os olhos no Céu ponho
e, alma aberta, tê-Lo-ei, doce Esperança,
baixando à terra - o Bem que foi meu Sonho!
Página publicada em março de 2020
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