EDMAR VIEIRA
Natural da Fazenda Vencedora, cidade de Planaltino-BA (1974). Desde os sete anos vive em Maracás. Participou da coletânea Concerto lírico a quinze vozes (2004). Atualmente é diretor da Escola Municipal Clemente Mariani, em Planaltino e cursou Letras na UESB, na cidade de Jequié.
IARARANA – revista de arte, crítica e literatura. Salvador, Bahia. No. 10 – dezembro 2004. Ex. bibl. Antonio Miranda
CANÇÃO DOS ANOS
O espelho declara:
já não é mais tempo
de jogar bolas de gude
meu rosto na parede
apresenta um ciano desbotado
e entendo, por fim, que
cada parte de tudo tem seu custo
O amor, a diversão, as horas
o carro, o pensamento, o ato
o livro, o emprego, a palavra
o tudo e suas cifras
A Bíblia confirma a tese:
esta alma não é dádiva
esta alma não é grátis
não é minha
Pousei tudo sobre a balança
e nada vale o mistério esferóide
daquelas velhas verdes gudes
planetas por onde andei
Io. POEMA DE INTERNAÇÃO
Nos quatro cantos da sala,
quatro leitos, e cada usuário
respirando a soma de todas as dores
Um - sentado - oito dias sem poder deitar
outro - deitado - 17 dias sem levantar
o terceiro dorme o sono injusto dos justos
o quarto lê a Bíblia e suspira pesado
A vida é mesmo isto que se vê
todas as conexões mentais retidas
encalacradas na podridão da matéria
todos os desejos contidos e reprimidos
pela dor nos rins, no coração, na uretra dor
- equação em que todo mundo é igual
Eu vi o dia entrar e sair pela cortina
contei as gotas de soro e de sangue
somei os gritos e os gemidos
as agulhas e as seringas,
os metros e metros de esparadrapo
Eu vi, pasmado, o tempo perder a pressa
A dor é o antídoto contra a vaidade
Página publicada em junho de 2019
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