EDIMILSON SANTOS SILVA MOVÉR
Nasci em 15 de abril de 1940, no entanto leio poesia desde os meus (saudosos) tempos de menino, sempre gostei de poesia, sou de família de poetas, mas, não creio na transferência pela via genética do dom da poesia. A meu ver ser poeta é um estado d´alma, alguns adquirem este dom, ou já nascem com ele, enquanto outros só o adquirem tardiamente, (sendo este o meu caso). No início, embevecido, ou por não entender o que acontecia me intitulei de "Antigo poeta novo".
A ROSA DOS MENINOS
Pensem nas crianças mudas telepáticas
Pensem nas meninas cegas inexatas,
Vinícius de Moraes
Esqueceram as crianças que morrem de fome?
Esqueçam os malucos governos insanos!
Que o filho do morro por si mesmo se dane?
Mandantes covardes governos tiranos!
Deixaram a menina rota mal vestida!
Vivendo na rua sem ter esperanças,
Trocando seu corpo por uma comida?
E eles nos salões, a encherem as panças!
Dólares em cuecas, reais nas suas malas,
Presídios lotados e mortes sem fim...
Escolas invadidas em todas suas salas,
Nunca vi nada igual e, tão triste assim!
Pobreza inaudita, só ataca aos mais dóceis.
Por culpa dos ricos, avaros e ignóbeis.
Guerras terríveis o futuro nos traçam
Falanges e gangues que nos ameaçam.
Vi lá do alto, a Rosa de Hiroxima
Qual nuvem imensa cobrindo a cidade
Matando a esperança e a doce menina,
Sucumbe o planeta sem sua mocidade.
Mil dores, mil sentires, mil chorares,
Inda vejo o poeta do Condor dos ares...
Livros, à mão cheia anuncia o Castro!
Vi no horizonte o fulgor do astro
E o rugir medonho do fragor da luta,
Eis que a guerra maldita e a dura disputa
Virá acabar com a vida dos meus pequeninos,
Instantes últimos, da insanidade humana!
Ruirá então, a única esperança dos meninos.
Vitória da Conquista. 08/10/06
TRANSUBSTANCIAÇÃO
As coisas que mais amamos costumam simplesmente desaparecer.
Cadê você? Evaporaste, desapareceste de minha vida!
Que mal vos fiz? Porque te desintegrastes tão sutilmente?
Nem partículas quânticas de vós eu vi na despedida
Procurei em vão nos desvãos do ódio vil e inclemente
Que mata e machuca os corações de forma dolorida,
E não vos encontrei! Nem mesmo o teu cheiro deixaste!
Não gostavas mais de mim! Isto eu notava sabiamente,
Sumindo assim de vez, vi que eu sou somente um traste,
Não achei nem os quarks de que foi feita a tua partida,
Não só partiste de vez, também meu coração partiste!
Fez-me lembrar os versos tristes de Camões que eu lia!
Trocaste-me pelo ódio, daí tornei-me um ser bem triste,
Labão pai de Raquel, eis que trocou Raquel por Lia!
Vi-me sozinho, pasmo e mudo, pois simplesmente sumiste!
Preferiria servir Labão mais sete anos, mesmo em vão!
Para poder sonhar com o dia que a mim retornarias,
Com os mesmos sonhos e anseios do nosso amor fremente,
Vivendo da esperança de um dia ser de novo a tua paixão,
Imagem translúcida e holográfica do meu amor ausente!
Materializada de forma efêmera, no ar, em visão virtual,
Pouco importando se eu estivesse morto ou vivo neste dia,
Tentaria lépido, vos ver, e vos sentir bem perto e sensual,
Somente por um momento fugaz ver-te passar esvoaçante!
A lembrança do teu sorriso, na escuridão resplandeceria,
Num sutil relance ver passar nove anos desse amor alucinante,
Sofrendo, esperando e sonhando com o dia em que vos reveria,
Transubstanciaste em ódio o amor maior dos dois amantes,
Quero que me perdoes! O destino fatídico ainda nos destruiria,
Não vos culpo! Assumo a culpa pelos meus erros delirantes,
Mas a vida é mesmo assim e vós, com outra nunca me dividiria,
Só nunca esperava que o teu ódio, um dia, ainda nos separaria,
Trocaste-me pelo ódio, e por nada neste mundo eu vos trocaria…
Vitória da Conquista, Ba. – 09 de dezembro de 2006
RÉQUIEM PARA O AMOR SEPULTO
Inúteis são os prantos por amores já sepultos...
REQUIESCAT IN PACE
Prantos inúteis nas vãs e tristes despedidas
Dos perdidos amores que já não voltam mais.
Caminhos já percorridos, fechadas as saídas
Todos os corações vazios de amor, certezas tais!...
Deixem-me morrer na dor e na tristeza... Viver jamais!
Prantos inúteis, amargor e dores desmedidas
Todas envoltas nas brumas dos tempos invernais,
Amores sufocantes de primaveras já esquecidas
Emoções mortas, oh! Dores amargas e desiguais!...
Deixem-me morrer na dor e na tristeza... Viver jamais!...
Prantos inúteis, dores ferais tristes e sentidas
Lembrar em vão, os sonhos que não voltam mais,
Sonhos sombrios e loucos, paixões empedernidas
Tristeza infinita de sofrer por coisas tão banais!..
Deixem-me morrer na dor e na tristeza... Viver jamais!
Prantos inúteis, sentir paixões enlouquecidas
É querer todos os princípios sem os seus finais,
Querer no mundo mudar coisas já estabelecidas
Amores perdidos, não grites, não me enlouqueçais!...
Deixem-me morrer na dor e na tristeza... Viver jamais!
Prantos inúteis, sofrer pelas paixões perdidas
Só a dor a nos pungir nos percursos infernais,
O desamor cobre a alma com suas chagas doloridas
Desatinadas dores, ferem-me com tormentos bestiais!
Deixem-me morrer na dor e na tristeza... Viver jamais!
Prantos inúteis, por obscuras esperanças decaídas
Ser ou não Ser? Sem amor e com desamores tão brutais,
Não estanquem o sangue das minhas chagas e minhas feridas
O último canto do amor nos fere a alma com versos mortais,
Deixem-me morrer na dor e na tristeza... Viver jamais!
Página publicada em janeiro de 2011 |