DILSON SOLIDADE LIMA
Nascido em Sertânia, Estado de Pernambuco, Dilson Solidade Lima é poeta, compositor e graduado em Letras Vernáculas pela Universidade estadual de Feira de Santana. É autor dos livros As Vestes do Vento, Inenigmática e Voos em Descuido (todos pela Scortecci Editora).
LIMA, Dilson Solidade. As vestes do vento. São Paulo: Scortecci, 2014. 127 p. 14x20,5 cm. ISBN 978.85.366.3613.9 ex. bibl. part. Salomão Sousa.
Aqui, nesta poética coletânea denominada de Inenigmática, o poeta nos apresenta seu desvendamento em versos de límpido vislumbre, soando a sílaba exata e acendendo o facho das ideias a tantos apagado face à degradação conceitual e lírica do mundo. / Sua verve percorrendo sinuosos caminhos temáticos e expandindo as portas do pensamento, abrindo-as à experimental leitura; fazendo do leitor um verdadeiro cúmplice e coautor da obra, transmutando-a em cristalina matéria pura. Fonte: http://www.scortecci.com.br
Virá minha vez,
(oh Maquinista do Tempo)
em que só serei.
FÊNIX SEMÂNTICA
Enquanto a solução espero (desencontrado)
vou entrando nestes meandros —
penetrando o vão destes milênios
(e mistérios) onde me arrastro como um Creso,
um Corisco condenado!
Enquanto espero e exaspero escrevo
para que meus sóis não sejam de desassossegos,
para que o ainda há em mim não se apague:
chama última a arder no céu-azul-maçã da tarde
em meio a sonhos, amor, ainda verdes...
Sim, ainda verdes! Verdes enquanto espero...
Espero enquanto e desespero e escrevo
enquanto Parmi Veder Le Lagrime soa a esmo
o carrossel do mundo segue e já não segue o mesmo...
Entre palavras, perpetuamente, me condeno.
NO CÓRTEX
Tecla
o eclipse
desses dias
com a mesma
fome de antes
sem sonho
e sol
de poesia,
amigo só
dos instantes.
Clica
e desliga
o tempo (
catastrófico
cronômetro)
Mesmo
que teus dedos
não mais queiram
(quem dera)
decantar...
Conjuga-te
e inicia
os dias lindos
que desesperavas
ter.
AS CANSEIRAS
Peço — qualquer dia —
minha carta de alforria
e saio deste mundo
pela porta dos fundos!
Nesta gula por nadas,
perdi-me na estrada...
Mas um dia te encontro
— oh luz do iniludível!
A GLÓRIA SEM DENTES DO DR. CHESKRUVSKA
Toco o ânus do mundo,
sinto seu esplendor protático
se dilatando, diluindo:
elétricos tentáculos
ultra nervosos.
Liquidificadores a salada batem dos átomos
onde báquicos cérebros basbaques
bebem do atlântico açúcar do homem até o talo.
Bebo um rabo de galo
e quedo, semântico,
nas avenidas sem sintaxe
onde a ordem é o esporro
das agudas garras agudas
de um deus semimorto
sem odes e ódios
(dádivas de bolso
) sexo aberto a projéteis,
trânsitos exalar.
Pairo, intrincado, à trincheira...
A cabeça pelos trópicos planetas...
Rememoro os hieróglifos atônitos
dos que amanheceram de suicídio
num dia de sol insípido
parindo a lua (
papiros craterizados ao acaso
) sem fundo monetário
interirracional.
LIMA, Dilson Solidade. Inenigmática. São Paulo: Scortecci, 2014. 121 p 14x20,5 cm. ISBN 978.85.366.3611.5 Ex. bibl. part. Salomão Sousa.
“Estros amanhecidos, amadurecidos frutos de uma verve que se desenrola à fluidez das mais singelas coisas e que jamais descanse face à impassividade lírica do e dos tempos em seus des(encontros). Tal qual Schopenhauer, o mundo como representação da vontade quando explana, belamente, a vida.” ÁLVARO RAZEC DO AMARANTE
CONFISSÕES A POLITANO
Não tive sorte
no amor,
não tive sorte
nas cartas /
não tive sorte
e a morte
sempre
me acompanhou
desde muito cedo
com seu medo
— estilete
esterilizante —
que a hora certa
aguarda
de nos pular
à garganta.
PROJETO HUMANUS
Qual o crânio
que à frágil formiga pisa,
aos pássaros atira pedras/
com camundongos:
experiências
e ao cavalo, rédeas...
Assim a Morte
(edaz vizinha)
sobre o muro
da matéria vã
e nos alcança
quando a noite
ainda é só manhã
mal resolvida...
Assim a Vida, roda da sorte:
que entre fracos e fortes
não há sol ou si menor!
Só a dor redime o homem,
este eterno devedor.
TÁCITA TORMENTA
Como um vento à deriva
foi se atracando
e me chamando:
Vida! Vida!
Balsa perdida,
sereia da sorte
sem rumo e sem norte,
porto ou partida.
Nau que naufraga
antes das águas
da tempestade e
que se esvai, cedo ou tarde.
Página publicada em março de 2017