D. MARTINS DE OLIVEIRA
Desembargador e poeta baiano.
De
D. Martins de Oliveira
Poemas. 1o. Volume. Ilha das Quimeras
Rio de Janeiro: edição do autor?, 1953. 136 p.
VELAS AO MAR
O mar da vida alarga-se aos destinos...
Parte uma asa de vela branca ao vento
E outra volve de torvos desatinos.
Encontram-se. Um viajor traz o tormento,
Cobre-lhe a fronte o suor da desventura;
No outro há um riso de sonho ou de loucura.
— Ela! Façamos juntos a jornada!
Vou à pesca de pérolas da vida!
— Alerta! Chego, agora, de arribada...
Trago minha alma desiludida!
— Vem comigo aos país lindo da glória!
— Como engana a sereia da esperança!
Eu vou buscar a morte por vitória...
Segue sonhando assim, ó pobre criança,
Nem saiba eu nunca o fim da tua história...
LABAREDA
(Bailado de Eros Volúsia)
DESENOVELA-SE o novel de fogo!...
Desenrodilha-se o fogo da paixão!
A língua longa da labareda
Esta e elástica lambe o ar.
Sede de tudo consumir!
Ânsia das cosias afagar,
Para, afagando-as, destruir!
É um diabo rubro e alucinado
Que sai da forja de sua dor
Para dançar o seu bailado
De amor.
E há um macabro desconjuntamento!
O fogo move-se estratégico e infernal;
Arranca touças de cabelo ao vento
E em cada fio fulvo fulge uma cobra coral,
Que foge lépida, escapulindo,
Em botes lúbricos devorando,
Crepitando!
Tremeluzindo...
Sarabandando!...
E rodopia a chama,
No bailado do instinto que se inflama,
Na febre dos ódios e paixões,
Envolvendo troncos, florestas, corações.
E após tamanha maravilha,
No palco, eu o braseiro estrela,
A paixão já se enovela
E a labareda se enrodilha.
PARÁBOLA DA REDE
A Monsenhor Aníbal L. Mata
GALILÉIA. Jesus contempla o lago
Genesaré, azul, cambiando cores.
Homens do mar os mais finos lavores
Entesouram da voz do grande Mago:
“O reino celestial que vos propago
É como a rede ao mar dos pescadores
Que peixes bons e espécies inferiores
Colhe nas malhas, no arrastão pressago.
É quando a rede à praia é recolhida,
Guardam a qualidade apetecida
E a que é má lançam fora impenitentes.
Anjos virão, também, justo salvando,
Os maus lançar ao fogaréu infando,
E prantos se ouvirão, ranger de dentes!
Página publicada em setembro de 2010 |