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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

CYRO DE MATTOS

 

Escritor, poeta, advogado e jornalista, nasceu em Itabuna, sul da Bahia, em 1939.  É membro da Academia de Letras da Bahia. Estreou como ficcionista com o livro de contos Os brabos (Prêmio A fonso Arinos, Academia Brasileira de Letras). Como poeta publicou, entre outros, Vinte poemas do Rio e Cancioneiro do Cacau. Prêmio Nacional Ribeiro Couto, Prêmio Centenário Emílio Mora, da Academia Mineira de Letras e Indicado para o Prêmio Jabuti 2002.

 

Publicado em Portugal, Estados Unidos, Rússia, Dinamarca, Alemanha, Suiça e México.

 

 

O poeta baiano (de Itabuna) Cyro de Mattos participou da Feira Internacional do Livro em Frankfurt, Alemanha, no dia 9 de outubro de 2010,   quando então,  a partir das 3 horas, autografou exemplares de  sua  antologia poética  Zwanzig Gedichte von Rio und andere Gedichte (Vinte Poemas do Rio e Outros Poemas), no stand 151 B  de sua editora – Projekte-Verlag (www.projekte-verlag.de). Durante a Feira do Livro, a editora montou uma exposição com exemplares e um banner da capa do livro..

 

 

Ver texros bilingue FRANÇAIS   - PORTUGUÊS- 


PORTUGUÊS - ESPAÑOL

 

POEM IN ENGLISH

 

I T A L I A N O

 

MATTOS, Cyro de.   Poemas de terreiro e orixás.  Belo Horizonte, MG: Mazza Edições, 2019.   96 p.    Capa: Maurício Negro.  Projeto gráfico: Élio Silva.  ISBN 978-85-7160-723-1   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

 

N A Ç Ã O

 

Gritos como sinais
ecoam na planície,
saltam centelhas
das vozes ligadas
na corrente frenética
embarcada na Africa
para a Bahia negra
caindo no transe.
Nenhum outro batuque
trepidando na alma
tem mais grandeza
do que esse que faz
as distâncias perto,
joga raios do céu,
bate envolto em magia.
Canta, trepida, embala,
precipita ventos, falas
nesse tum-tum febril
que o coração arrebata.

 

 

 

S a g r a d a   C o l  i n a

 

A manhã é uma pomba,
reza e canta. Abraço
na barca da glória.

 

Visões encantam
nas baianas negras
de branco vestidas.

 

Vozes de Africa
chegam do cortejo
com água de cheiro.

 

Epa Babá! Epa Babá!
Ao largo, escadaria
a bênção e a graça.

 

Jarros derramam
cachos perfumados.
Sem a paz tudo é nada.

 

 

 

I A N S Ã

 

Epârrei! Epârrei!

 

 

Destemida venceu
na peleja o marido.

 

Aguerrida natureza,
nem de eguns tem medo.

 

Raios, trovões
na Casa maneja.

 

Gritos lancinantes
no ritmo do ilu.

 

De repente muda,
tecida de pluma.

 

Como Rainha de Báli,
quando lá chega,

 

Põe para correr
todas as larvas.

 

 

 

 

Cyro de Mattos 
VINTE E UM POEMAS DE AMOR
Ilustrações de Edsoleda Santos.
São Paulo: Dobra Editorial, 2011. 
56 p.   ISBN 978-85-63550-27-9

 

Segundo Lêdo Ivo, nos poemas de Cyro de Mattos, a respiração do amor rege os versos como que numa modulação do mar, da palavra alta à confidência.

 


Erótico

 

 

V

 

Do amor me dizes no sal de teu corpo
E de beijos sob um sol que me tem
Em mar tão meu. E revelas teu sexo
Em que navego sedento, mergulho,
Sou tragado, mas não morro. Retorno
A teus seios que beijo tantas vezes
Para matar essa fome que me mata
De ardores e gemidos como sempre.
De palavras machucadas na boca
E de tremor de lábios por entre afagos
Sei dum susto esplêndido, indescritível,
Que é o gozo que me tem em tuas mãos.
Nessa chuva que molha nossa pele,
No que é bonito e sinto nos meus braços
Então desejo que as dunas andem
E vejam nosso amor além do mar
.

 

 

VIII


Sede dos teus seios.
Meu corpo no teu corpo
É uma única boca,
Lambe os pontos
Mais longínquos.
Numa urna alaranjada,
vermelha, branca.
Chovida de procuras.
Como é possível o amor
Vazar tanto vinho?

 

 

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Textos extraídos de POESIA SEMPRE, Ano 13, n. 20, março 2005. (Publicação da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro) p.1-01-105

 

 

LUGAR

 

Entendo ser real

Estar na relva

Como meu canto

Sedento de amor.

Neste rumor secreto

Verde minha palavra

De brotar em cada um.

Se não sou semente

Dos sonhos que beijei

Cantando na chuva.

Lá dentro trancado.

Cúmplice do eterno

Riscado num instante

Direi não sou de fato

E no caos desencanto-me.

 

 

LUGAR (II)

 

Ainda que seja

Um grão no deserto

A palavra é meu lugar

Onde tudo arrisco.

Irriga minhas veias

Como a chuva à terra

Em suas mil línguas.

Antiga, bem antiga,

Me anuncia no vale,

Me consuma real,

Viajante cativo

Da solidão solidária.

Sem esse jeito

De ser flor e vento.

Sonho e música,

Palavra só amor.

Não há espanto,

A lágrima, o beijo,

O riso, o epitáfio.

Não há o sentido.

 

 

A PALAVRA AUSENTE

 

Não existisse

Com seus limites

Diante do mundo

Sem interrogar o tempo

De Deus ou por acidente

Onde bem ou mal

Sinto-me um bocado,

Revejo-me no outro

Como a mim mesmo

Por certo o deserto

Não ia me afigurar

Desencanto e solidão,

Metáfora do nada.

Ao ruído dos dentes,

Que tudo muda,

Urde fragmentos, sonhos,

Que sentido haveria

O silêncio de tudo,

Fundo, profundo?

Jamais o convite ao amor,

À saudade, à razão, à fé,

Contradições que me fazem

Inocente na travessia,

Do inexorável submisso..

 

 

A PALAVRA PRESENTE

 

Dá vôo à razão

Na leitura do mundo.

Equilíbrio nos vazios

Por entre mistérios

Que soam absurdos.

Simulação do real

Na emoção do ser elo

Íntimo das coisas.

Ritmo agudo do ver.

Ouvir e falar silêncios

Onde me usa o amor

Resvalando na vida

Que o tempo engole.

Nas litanias do mal,

No refrigério da relva

Fogo eterno de cantores

Desde não quando.

 

 

BOVINO

 

Ruminante a flor.

Culpado mas sem pecado.

Morre sem rancor.

 

 

 

MATTOS, Cyro de.  Natal permamente.  Salvador, Bahia: Edições Macunaíma, 1986.  34 p.  ilus.  15,5X21 cm.  Desenhos de Calazans Neto.  “ Cyro de Mattos “  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

MANJEDOURA

 

O que mais encanta

é acontecer o menino

nas migalhas

deste chão sonoro

e ganhar grãos azuis

na manjedoura dos ares

 

 

 

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De

POEMAS ESCOLHIDOS

Segundo Prêmio Literário Internacional

Maestrale Marengo d´Oro – Gênova, Itália, 2006

São Paulo: Escrituras, 2007

(Edição bilíngüe Português-Italiano)

 

 

O MENINO E O MAR

 

Era a primeira vez

Que o tinha ido ver o mar.

Todo alegre, de calção,

Peito nu e pé no chão.

 

Quando viu tanta água

Fazendo barulho

Sem parar, disse:

 

— Pai, me dê a mão.

 

 

RIO MORTO

 

Vejo tua face invisível

Na claridade das águas,

Espumas lavadeiras nas pedras

Diversicoloridias de roupas.

O céu azul de nuvens mansas.

A lua derramando prata

No areal deixado pela cheia.

Eu sou aquele menino

Que engoliu tua piaba

Para aprender a nadar.

Eu sou aquele menino

Que pegou tuas borboletas

Nos barrancos voando em bando

Eu sou aquele menino

Que sentiu com tuas boninas

A proposta livre da vida.

Eu sou aquele menino

Magro, esperto, traquino

Em tua paisagem luminosa.

Não havia, amor, dúvida,

Ares sombrios pegajosos

Cobrindo tua ilha com tesouro

Guardada por almas de piratas.

Nessa manhã de banho ausente,

Susto nos peraus e remansos,

O sol sem vidrilhar a correnteza,

Tristes meus olhos testemunham

Tua descida pobre e monótona.

Tua morte lentamente com sede

Inventada nas bocas de vômito...

Cachoeira o teu nome

Do rio que chora água.

 

 

DUNAS

 

         Ilumino-me

         de imenso.

                   Ungaretii

 

No sempre

Do vento.

No agora

Do silêncio.

Iluminado

Em solidão.

 

 

O EVENTO TERNO

 

Sentido não haveria

Do aroma sem canto.

A aderência perfeita

Toca o mistério,

A natureza se impõe

Na luz deste céu sonoro.

Na nervura da pétala,

Tremor translúcido,

O pássaro tece e acontece.

 

 

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Cyro de Mattos
VIAGRÁRIA
São Paulo: Roswitha Kempf Editores, 1988.    s.p.

 

DA ESTRADA

Eu que me sei
casco no calendário
temporal despenho
estrias no passo
atoleiro assombração
no açoite mapa brabo
compartilho o empaco
de suor e solidão
quanto mais viajo


DO RESUMO

O passo de légua
meu batismo
o rosto cabisbaixo
meu bocejo
assovio em andadura
me constato e sigo
lenço na testa
canga no crepúsculo
aqui chego
no armazém ao largo
de amêndoas pálidas
e igualdade de peso

 

 

 

 

 

NA ODE AO COQUEIRO

 

Palmas ao céu

de quem em oração se purifica

 

Sal enraíza

doce unidade em caixa de surpresa

 

Viga polida

de quem se banha em suave maresia

 

Fortim vegetal

diálogo destamanho com outro verde

 

Cabelo de fúria

quando pulso se despedaça ao vento

 

Filtro de sol

pontas de estrela em convívio de lua

 

Corda de música

murmuras asas na calidez de beijo aéreo

 

Abano de praia

iluminada emoção de retreta aos domingos

 

Verde escalada

linha telúrica a seguir outra linha

 

 

 

TEXTS EN FRANÇAIS   -  TEXTOS EM PORTUGUÊS

 

 

MATTOS, Cyro de.  De tes instants dans le poème: poésie bilíngue portugais-français. Traduit du portugais (Brésil) para Pedro Vianna.  Paris: Éditions du Cygne, 2012. 87 p.   *Collectionn “Poésie du monde”.  14x21 cm. ISBN 78-2-84924-294-0   Col. A.M.


Lieu

Bien qu'il ne soit

Qu'un grain dans le désert

Le poème est mon lieu

Là où je risque tout.

Il irrigue mes veines

Comme la pluie la terre

Avec ses mille langues.

Ancien, si ancien,

II me proclame captif

De la solitude solidaire

Disant les silences.

Sans cette façon

D'être fleur et vent,

Rêve et musique,

Un seul mot, l'amour,

Absence d'étonnement,

De larme, de baiser,

De rire, d'épitaphe,

Absence de sens.

 

 

          Lugar

 

                    Ainda que seja

Um grão no deserto

O poema é meu lugar

Onde arrisco tudo.

Irriga minhas veias

Gomo a chuva a terra

Em suas mil línguas.

Antigo, tão antigo,

Anuncia-me cativo

Da solidão solidária

Dizendo silêncios.

Sem esse jeito

De ser flor e vento,

Sonho e música,

Palavra só amor,

Não há o espanto,

A lágrima, o beijo,

O riso, o epitáfio,

Não há o sentido.

 

 

Chauve-souris

 

Ma voix est la voix

qui porte la forêt sombre

mon aile est l'aile

qui se mesure à la nuit

ma faim est la faim

qui vole aveugle effarouchée

mon vers est l'envers

qui me porte en rut et en ténèbre

ma quête en quête de moi

se révèle sur la face obscure

 

 

Morcego

 

Minha voz é a voz

Que carrega a mata escura,

Minha asa é a asa

Que peleja contra a noite,

Minha fome é a fome

Que voa cega e assustada,

Meu verso é o inverso

Que me carrega em cio e treva,

Minha busca em que me busco

Se revela na face obscura.

 

 

La Roue du Temps

 

J'ai élevé des lucioles

Pour les voir la nuit

Briller dans la chambre.

 

J'ai nagé comme un poisson agile

Dans les eaux le plus claires

Du Fleuve aux Eaux Douées.

 

Tel un oiseau

J'ai pris chaque envol

Avec le vent le plus haut.

 

J'ai marché comme une bête en liberté

Sans avoir peur de rien

Sur les chemins de la brousse.

 

Mais l'enfance a la saveur

D'un fruit qui finit

A l'âge des hommes.

 

 

A Roda do Tempo

 

Criei vaga-lumes

Para vê-los à noite

Brilhando no quarto.

 

Nadei como um peixe ágil

Nas águas mais claras

Do Rio de Agua Doce.

 

Como um pássaro

Tive cada voo

Com o vento mais alto.

 

Andei como bicho solto

Sem ter medo de nada

Nos caminhos do mato.

 

Mas a infância tem o sabor

De uma fruta que termina

Na idade dos homens.

 

 

MATTOS, Cyro de.  Ecológico.  Viseu, Portugal: Pàlimage Editores, 2006.  98 p.  14,5x21 cm.    Capa: Vincent Van Gogh:  “Seara com ciprestes”.   “ Cyro de Mattos “  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

Tropas

 

Vinha o vento dizer

Daquele silvo,

Perene de guizo

A manhã de música.

O ouro dos cascos

Em chão de cascalho

Aqui desta curva.

Como flor na poeira

Com o amante festivo

Das ancas do tempo

Por que não retornam?

 

Pluviário

 

Precisou desabar

A dor do mundo

Nos ombros diluvianos,

Se achar precário remo

No desconhecido rumo.

 

Com águas ao redor

Ainda não aprendeu

Que braço ao abraço

Entre ventos em aflição

A rota fica mais fácil.

 

 

 

MATTOS, Cyro de.  Canto a Nossa Senhora das Matas. /Gesang auf Unsere Liebe Frau Van der Wäldern.  Tradução Curt Meyer-Clason.  Ilustração de Calasans Neto.  Salvador, BA: Fundação Casa de Jorge Amado, 2004.  159 p.  ilus. (Col. Casa de Palavras) Texto em Português e Alemão. “ Cyro de Mattos “ Ex. bibl. Antonio Miranda

 

VEREDAS

 

Havia os que penetravam a mata escura,

Havia os que improvisavam moradas,

Havia os que derrubavam os paus grandes,

Havia os que brigavam com onça,

Havia os que semeavam o capim das pastagens,

Havia os que pisavam em cobra,

Havia os que caminhavam com as estrelas,

Havia os que sonhavam com a lua.

 

Não foram esses com mãos de madeira grossa

que em léguas de terra amarga

de sol a sol na primeira planta

colocaram na bainha o punhal da noite escura?

 

 

 

MATTOS, Cyro deCancioneiro do cacau: epopéia e mistérios da civilização do cacau na Bahia, de sua origem aos dias atuais.  José Haroldo Castro Viera: pesquisa iconográfica.  “Prêmio Nacional de Poesia Ribeiro Couto da União Brasileira de Escritores, para livros inéditos, em 1997.  Rio de Janeiro: Ediouro, 2002.  281 p. 16x23 cm “ Cyro de Mattos “ Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

CANOA

 

Açoitada no temporal.

Romaria e oferenda

no colo da Mãe d'Água.

Pegando o peixe.

Cruzando o perau.

Trazendo a feira.

A galinha, a semente,

o porco, o cão.

Correio das águas.

Levando o cacau.

Tomando banho de prata.

Remanso em carícia de lua.

Deslizando como folha

no amanhecer fundamental.

 

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS - ESPAÑOL

 

 

MATTOS, Cyro de.  Onde estou e sou. Donde estoy y soy.  Brasília, DF: LER Editora, 2013.  120 p.  14x21 cm.  ISBN 978-85-64898-36-3  “ Cyro de Mattos “  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

De minha paisagem

A cada novo amanhecer
As sombras do tempo.
O autor de memórias.

A cada queda do sol
O passageiro da agonia..
A gaveta inevitável

 Ó claro verso no jardim
E a separação escura
Sob o peso do mistério.

Para o tudo e o nada
A consciência acusa-me
Na saudade de cada coisa

De acenos da manhã
E sonhos desmanchados
Com sobras este exílio.

 

 

          De mi paisaje

 

          A cada nuevo amanhecer
          Las sombras del tempo.
          El autor de memorias.
         
          A cada crepúsculo
          El pasajero de la agonia,
          El cajón inevitable.

          Oh claro verso en el jardín
          Y la oscura separación
          Sobre el peso del misterio.

          Para todo y para nada
          La consciencia e acusa
          En la nostalgia de cada cosa.

          De gestos de la mañana
          Y sueños desmanchados
          Con restos de este exilio.

 

 

Semáforo

Quem socorre esse marujo
De ilhas e milhas, redes
E arpões? Quem escuta
Esses gritos na goela
Das águas, no verdor
Homicida de incertezas
Pesadas por salinas
E desvãos? Quem enxuga
Essa chuva batendo
No mastro fuga e lamento,
Busca e encalhe, sermão
E deserto, insônia
E farol? Quem espanta
Essas sombras de gaivotas
Certeiras e elucida
Essa aurora nas vagas
Cantantes de peixe e anzol?

 

 

          Semáforo

 

          ¿Quién socorre a ese marinero
          De islas y millas, redes
          Y arpones? ¿Quién escucha
          Esos gritos en la garganta
          De las aguas, en el verdor
          Homicida de incertidumbres
          Pesadas por salinas
          Y esconderijos? ¿Quién seca
          Esa lluvia golpeando
          En el mástil fuga y lamento,
          Búsqueda, y encalladura, sermón
          Y desierto, insonnio
          Y faro? ¿Quién espanta
          Esas sombras de gaviotas
          Certeras y elucida
          Esa aurora en las olas
          Cantantes de pez y anzuelo?

 

 

MATTOS, Cyro de.  Poemas iberoamericanos.  Coimbra, Portugal: Palimage, 2016.  74 p. Apresentação por Carlos Felipe Moisés.  ISBN: 978-989-703-147-2  Ex. bibl. Antonio Miranda


Submerso no curso invariável
deixo que vá meu verso-água
[...] solidões que me atravessam.

 

    “O poeta Cyro de Mattos volta agora a público, com este Poemas ibero-americanos, coletânea que reafirma o que sua poesia tem de mais regional e, simultaneamente, de mais universal.”

     “A referência a “avenidas” enseja uma observação a respeito do conflito campo x cidade ou Natureza e Civilização, na poesia de Cyro de Mattos, um conflito latente, mal insinuado neste Poemas iberoamericanos. Seus versos mais tocantes e inventivos, como os até aqui transcritos (e muitos outros poderiam ser acrescentados) parecem brotar espontaneamente da terra, do ar, das águas, de onde o poeta extrai a massa vocabular e as imagens “campestres” que formam a substância de quase todos os poemas. Já o cenário urbano não desperta nele a mesma comovida empatia de que é alvo a paisagem natural. / O poeta não esconde sua preferência pelo campo. Não chega a ignorar a cidade, mas esta aparece muito escassamente, quase sempre só de passagem.”     FELIPE MOISÉS

 

 

                Mares de Ilhéus

 

                Vozes duma canção
                Nas vagas do verde.
                Por entre os azuis
                Batem, voltam, batem
                Contando minha história.

                Vejo em aflição o mar
                Na barra de Ilhéus.
                Afogam-se as ondas
                Dos que silenciam
                Com o navio Itacaré.

                Todo esse desespero
                De índios nadadores
                Mergulha no sangue.
                Bebem o extermínio
                Ventos, luas e marés.

                No Engenho de Santana
                África agora se atreve
                Na certeza das manhãs,
                Batucam que batucam
                Tambores sem cambão.

                Rio acima o sonho fluis,
                Ondas da vegetação
                Inundam o olho azul
                Animado pelas galhas
                Do príncipe europeu.

                Tudo que sei de mim
                Por terra, ar e mar
                Flutua nas espumas,
                Na clave dos ocasos
                Vem de longe cantando.    

           

 

                Poeta Rafael Alberti    

       

                 Ó marinheiro na terra
                 Com as insígnias do sonho.
                 Os campos da infância
                 Nos idos leves do vento,
                 Ramos que a pomba leva
                 Contra as garras da guerra.
                 Vejo no barco da poesia
                 Rimas que não se apagam
                 No tempo a cantar a vida
                 Mais o outro mais o mundo.
                 Da forja que ilumina tanto
                 Terra e mar não são em vão,
                 Razão do grito que lancina
                 Com o poeta Rafael Alberti.  

 

 

                 Toledo

 

                 Rendo-me aos ares de Toledo.
                 Rendo-me à visão que é sensação
                 De fortaleza impenetrável,
                 Muralhas elevadas ao redor
                 Da cidade no topo da rocha.
                 Um museu sob o claro sol
                 Engastado na Idade Média.

                 Torres longe dentadas onde
                 Outrora ficaram sentinelas,
                 A ronda com espada e lança.
                 Noites expectantes sob a dura
                 Vigília à espreita da morte.

                 Um menino que não esqueço
                 Lembra os filmes que assistiu
                 Na hora alegre de sua cidade.
                 Nada era melhor no mundo,
                 No cinema a ovação do amor,
                 No final o bem vencia o mal.

                 Ivanhoé, Os Três Mosqueteiros,
                 Os Cavaleiros da Távola Redonda,
                 Heróis com glória, ídolos eternos,
                 Defensores de cidadelas, ideais
                 Elevados, façanhas incríveis.
                 Conquistava-se o coração do povo,
                 O amor impossível da filha do rei.

                 Perco-me por entre castelos
                 Com diferentes historias.
                 Na aventura com amigos de lá,
                 Nessa viagem feita de instantes
                 Sempre agarrados à alma.      

   
                                                            

 

 

POEM IN ENGLISH    &   PORTUGUÊS

 

 

NEW BRAZILIAN POEMS. A bilingual anthology after Elizabeth Bishop. Translated & edited by Abhay K.. Preface by J. Sadlíer. Rio de Janeiro: Ibis Libris, 2019. 128 p. 16 x 23 cm. ISBN 978-85-7823-326-6 

Includes 60 poets in Portuguese and English.

 

                                      CYRO DE MATTOS

 

Dunes

 

I illuminate myself
with immensity.

-        Ungaretti

 

During ever presence
of wind.

During ever now
of silence.
Illuminated
in solitude.

 

 

 

Dunas

 

Ilumino-me
de imenso.

-        Ungaretti

 

No sempre
do vento.
No agora
do silêncio.
Iluminado
em solidão.

 

 

 

 

TEXTO  ITALIANO

 

 

 

MATTOS, Cyro de.  Il bambino camelô.  Ilustrazioni di Zéflavio Teixeira.  Traduzione di Antonella Rita Roscilli.   Cantdrano (RM): Gioaracchino Onorati, 2018.   48  p. ilus.  ISBN  978-88-255-0844-4  

 

 



 

MATTOS, Cyro de. O Discurso do rio.  Ilhéus, Bahia: editus, Editora da UESC, 2018.            (Coleção Infância Livre, volume 1).  56 p.  ilus.
Ao  final do livro inclu uma seção com     “Algumas Opiniões sobre a Poesia de Cyro de Mattos.”  
Ex. (autografado) da col. Antonio Miranda.


 

 

De Completudes e Prazeres

 

Canto porque soube que fui completo,
Todo alegre, de calção, peito nu.
Vivendo apenas do azul, tão azul,
Nos instantes incríveis do herói. Canto

Molhado de coisas e seres tidos
No mundo para que sejam sentidos,
Tocados com prazer a cada dia.
Canto quando à vontade eu existia.

Por ser feito ora afoito, ora sereno,
Melhor só no céu, desse canto eu sei,
Não faz parte dele o poço de azares,

As grandes correntezas que enfrentei,
Felizmente sem a voz dos pesares
Refletia-me nas água do eterno.
 

 

 

MATTOS, Cyro de. Águas de Meu Rio.  Capa: Mafalda Maia.  Coimbra, Portugal: Palimage . 2024.  39 p. ISBN  978-989-703-302-5   
                                                    Ex. biblioteca de Antonio Miranda

 

“Poeta de voz límpida, como o seu rio, de música e sabedoria do silêncio, “  Carlos Nejar, poeta e ficcionista. Membro da Academia Brasileira de Letras.

 

                V

            
Estendem-me triste
             as águas que outrora
             correram puras.
             Teceram vítreo o olho
             que filtrava o arco-íris,
             a escama que brilhava
             sob a praia da lua,
             a guelra que respirava
             rubra o sol na manhã
             ritmada de cores e cantos.


              VII

              
Até o jumento na ilha
               vencedor da enxurrada
               deixou de ser o herói
               que empolgou a cidade.
               Seus berros comoviam
               aos que estavam na história.
               Lá no meio do imaginário
               só o vazio, nada, mais nada.
               Decerto eu e a solidão
               no eco que em pesar
               agoniza e se evapora.


               XII

                     
Bastava encontrar-te
                de calção e peito nu
                para tornar-me nave,
                translúcido o coração,
                estrela na capanga
                guardada na coleção
                de mais linda ilusão
                onde a alegria morava.


                XVII

                
Se não volta o pescador,
                 o aguaceiro, o areeiro,
                 sorvidos na água nevoenta
                 pelo menos os peixes
                 no destino de ser peixe
                 deixem que apareçam
                 na clara água da corrente.

 

 

 

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Página publicada e republicada em abril de 2024.         

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