ESTUDO
Parco amor do meu peito, hás também
de dormir no escuro Hades,
hás de ser o voo calmo de uma ave
cega, hás de perder-te,
perder-te, em longas Grécias.
CAPRICHO NO. 1
meu peito,
fruto de amplos e dúbios
silêncios;
voz que morre, luz
que nada engloba de mim;
parvo pássaro negro
sem asas, que há de voar para além
dos meus enigmas.
SOBRE A COR E O SER
p/lorge Luis Borges
Nunca saberei quem sou.
Por todas as esquinas os versos me espreitam
e nenhuma palavra é da minha cor.
Não estamos inocentes nem fantoches
e a lágrima amiga endurece-me o coração.
Por muitas mesas de bar minha alma vagou:
não fiz pacto com nenhum demónio...
Nunca saberei quem sou.
Mas todas as comparsarias estão desfeitas.
INTRA-RETRATO
Pária, divago bêbado nos sete mundos, setecentos
pecados.
Farto do ócio, do ácido escorrendo na consciência,
partilho com deuses e demónios meu ledo sofrimento.
Cá no íntimo inferno mágico e profano das palavras,
transcrevo versos azuis de carícia
e silencio confuso
e cego.
HERA – (REVISTA HERA ) Dezembro 1992. Diretor e Ilustração: Antonio Brasileiro. Feira de Santana, Bahia: Edições Cordel, 1992. 25 p. ISSN 00101-1065 Ex. bibl. Antonio Miranda
POEMA No. 3
Em dias nublados
tranco-me no recinto das minhas dores
e como um louco
reescrevo o destino do homem.
EXERCÍCIO DE OUTUBRO No. O1
Onde buscar meu diamante bruto?
nas mil infâncias distantes?
nos mil sonhos não sonhados?
Onde me resolver, onde estar hoje?
Navegando no Aqueronte
ou perdido no beco
do noturno país
da morte?
Onde meu diamante
sonho dorido
busca inatingível
vida inalcançável
onde nosso diamante?
na rua direita do prazer
ou sob sete invioláveis
séculos de silêncio?
Onde buscar meu diamante bruto
para lapidá-lo?
*
HERA no. 10 – Direção: Roberval Pereyr / Paio Soares. Capa:
JurXI Dórea. Feira de Santana – Bahia: Gráfica Gravatá, 1978.
88 p. Ex. biblioteca de Antonio Miranda
MOIRA
e lá se vai sísifo, de novo
como uma criança
que a cor vermelha do brinquedo
ludibria,
a levar por mais mil anos
a pedra montanha acima.
AD LIBERTUM
devoramos na última refeição
o único poeta da humanidade:
não mais seremos homens, animais
— não mais seremos.
DEDICADO
para os homens comporei um poema falso
falso como esse espetáculo que vivemos,
para os deuses não comporei poemas
nem elegias,
eles que se danem e nos deixem em paz.
ONIPOTÊNCIA
uma galáxia maluca
solta peidos universo afora.
os homens a chamam de louca,
e a galáxia onipotente,
desenha sem pressa a reta final
da humanidade.
*
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Página publicada em março de 2024.
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Página ampliada em novembro de 2022