CARVALHO FILHO
José Luiz de Carvalho Filho nasceu na casa dos pais, na Ladeira dos Aflitos, em Salvador, no dia 11 de junho de 1908, terceiro filho de José Luiz de Carvalho, guarda-livros da Companhia de Seguros Aliança da Bahia, e de Julieta Teonila Freire de Carvalho. Residiu na capital baiana a vida inteira, mudando-se para o bairro dos Barris desde os 4 anos. Estudou no Colégio Antonio Vieira, completando o secundário no Colégio da Bahia. Formou-se bacharel pela Faculdade de Direito da Bahia, em 1932. Exerceu, sucessivamente, a partir de 1934, os cargos públicos de Promotor, Procurador da Justiça e Desembargador do Tribunal de Justiça da Bahia., aposentando-se como presidente do Tribunal, em 1978. Casou-se com Olga Vieira de Sá, em 1935, com quem teve 3 filhos. Lecionou na Faculdade de Direito da Universidade Católica do Salvador, que ajudou a fundar em 1956, chegando a ser vice-reitor da UCSAL. Foi eleito para a cadeira n.º 31 da Academia de Letras da Bahia, em 1958, e ocupou a vice-presidência da ALB, de 1970 a 1972. Durante o governo de Luiz Viana Filho, a partir de 1967, foi Procurador Geral da Justiça e Secretário de Justiça. Recebeu a comenda de Grande Oficial da Ordem do Mérito da Bahia, em 1976, e a Ordem do Mérito Judiciário da Bahia, em 1984. Integrou o Conselho Estadual de Cultura, de 1983 a 1987. Morreu em casa, aos 86 anos, em 2 de setembro de 1994, oito meses após o falecimento da esposa.
O poeta Carvalho Filho ingressou no mundo literário na primeira hora do movimento modernista na Bahia, em 1928, como integrante do grupo que se formou em torno da revista Arco & Flexa, ao lado de Eugênio Gomes, Pinto de Aguiar, Eurico Alves, Hélio Simões, Godofredo Filho (seu amigo da vida inteira) e outros, sob a liderança de Carlos Chiacchio. Ainda em 1928, publicou seu primeiro livro, Rondas (Livraria Duas Américas, Salvador), ao qual se seguiram Plenitude (A Nova Gráfica, Salvador, 1930), Integração (Editora e Gráfica da Bahia, Salvador, 1934), Face Oculta (Tipografia Naval, Salvador, 1947), Seleção de Poemas (Livraria Progresso Editora, Salvador, 1955), Face Oculta (com a poesia reunida e o inédito Inscrição no Tempo, Universidade Federal da Bahia e Livraria Progresso Editora, Salvador, 1959), O Deserto e a Loucura (Edições Macunaíma, Salvador, 1976) e Poemas (com a poesia reunida e o inédito Insônia Sonhada, Artes Gráficas, Salvador, 1994).
Autor da biografia: Luis Antonio Cajazeira Ramos em: http://www.jornaldepoesia.jor.br
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De
Carvalho Filho
O Deserto e a loucura
Capa e ilustrações de Calasans Neto.
Salvador: Edições Macunaima, 1976. 63 p. 33 x 23 cm
Inclui folheto “Intodução” Edição 500 exs.
Ser e Morte
Na morte
é o ser que anoitece para sempe
ao centro do universo?
ou o universo
é que se extingue em fuga e ausência
em torno da essência do ser eterno?
*
Além do mundo semeado deste instante
hoje a morte estéril
morreria em mim.
Semen Est Verbum Dei
Do silêncio
incrustado na noite
como árvore lustremente
de cristal
e do instante absoluto
alga e mito
crucificado na noite
como essência imemorial
— é que caem no mais fundo
do ser infinito
o sêmen e o fruto
da beleza e do mal.
Fruto
Nem cor nem luz, blasfemo
no azul, sangue de engaste
oscilando, frágil, no extremo,
sobre o abismo, da haste.
Poema
Ver e contemplar.
Sentir e amar.
Sofrer e meditar.
Que o rumor das palavras reveladas
e a luz amorfa
das lágrimas esquecidas
sejam voz morta e memória
quando o azul do tempo
baixar.
E que do ser extinto
num chão de raízes e cristais
só reste uma certeza:
— a marca em silêncio da procura
da verdade
sobre a cinza pura da tristeza.
CINCO POETAS: Florisvaldo Mattos, Godofredo Filho, Fernando da Rocha Peres, Carvalho Filho , Myriam Fraga. Salvador: Edições Macunaima, s.a. 85 p. 17 x 23 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda
Perfil
(1928)
condição vertical é uma surpresa plantada no mundo.
Os instintos irmanados
cirandam em tôrno do coração atónito
e aguardam.
O corpo reveste a alma deslumbrada
ou a alma sustém e conduz o corpo temente ?
Aos olhos abertos não se revelam
OS rumores que sobem do limbo do ser
obscurecendo as perspectivas.
Ouço cânticos se emplumando no aquário da madrugada.
Os mistérios vão começar na alvorada sonora.
O êxtase equilibra o mundo maravilhoso
dos mitos e das alegorias.
Só a luz da Alma é branca
e nela flutua em aseenção o fumo das dores
queimadas nas próprias origens.
O coração é estrela
levitando no alto entre
as muralhas que limitam o abismo.
Aguardo a revolta do mar contra os penedos.
Ser e Tempo
(1965)
Concebamos do tempo.
Fecundados de tempo,
que à noite o nosso espírito paire
sobre as águas.
Que as águas por nós semeadas
de tempo, de tempo
contaminem o tempo abrigado nas florestas.
Que, fermentado de tempo, o tempo
em si mesmo gerado nas florestas
se irradie em calor nos ventos e no azul.
Que, imantados de tempo,
o azul e os ventos germinem de tempo a paz humana
das distâncias.
E que a paz das distâncias, transubstanciada
em tempo, queime
perene em nós no tempo.
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http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/bahia/bahia.html
Página publicada em maio de 2011;
Página ampliada em dezembro de 2020
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