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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAMILLO DE JESUS LIMA

 

(1912 – 1975)

 

 

(Caetité, estado da Bahia, Brasil, 8 de setembro de 1912 — Itapetinga28 de fevereiro de 1975) foi um poeta brasileiro.

Filho de Francisco Fagundes de Lima e D. Esther Fagundes da Silva trazia no sangue a estirpe de várias famílias tradicionais da cidade: Fagundes, Lima, Cotrim e Prisco. Mas seu sobrenome não seria Lima, e sim Fagundes, como consta do registro de nascimento. (...)
Como ocorria a todos os estudantes daqueles tempos, Camillo simpatiza com as idéias comunistas. Qual seu tio-avô Plínio de Lima, que abraçara a causa da igualdade entre os homens com o abolicionismo, Camillo defende uma sociedade mais justa, e irá pagar alto preço por isto.

 

Tornando-se tabelião ("oficial de registro de imóveis e hipotecas"), mora em Vitória da Conquista, Macarani e Itapetinga. Talentoso, desdobra-se em jornalista, escritor, professor, deixando extensa obra literária, do romance ao conto, mas é na poesia que se consagra, já em 1942, com o livro Poemas, recebedor do Prêmio Raul de Leoni da Academia Carioca de Letras (edição de "O Combate", que publicou quatro de seus livros).

 

Também publicou: As Trevas da Noite Estão Passando ("O Combate", em colaboração com Laudionor Brasil, poemas, 1941); Viola Quebrada ("O Combate", poesia, 1945); Novos Poemas ("O Combate", id., ib.); Cantigas da Tarde Nevoenta ("Edição de Artes Gráficas - Salvador", poesia); Memórias do Professor Mamede Campos (romance); A Mão Nevada e Fria da Saudade ("Edições MAR", poesia), A Bruxa do Fogão Encerado (contos); Vícios (contos); Bonecos (Perfis); O Livro de Miriam (Poesia, 1973, impresso na gráfica de "O Jornal de Conquista" para "edições MAR"); Cancioneiro do Vira-mundo (Poesia), e outros tantos escritos, publicados em todo o país, muitos ainda inéditos. (...)

Camillo era redator d'O Jornal de Conquista, e morava em Macarani, quando foi preso e levado para a Vitória da Conquista, onde já estavam detidos Pedral Sampaio (prefeito da cidade) e Reginaldo Santos (redator d'O Combate), dentre outros. Eis o resumo deste episódio, sob a descrição de Emiliano José (escritor e jornalista, autor da biografia de Marighella); (...)De 1964 até sua morte, em 1975, Camillo jamais deve ter se reabilitado. Foi justamente naquele ano, quando o Brasil havia mergulhado no período mais negro da ditadura, com Geisel na Presidência, que as perseguições se acentuam. Morrem misteriosa e acidentalmente Anísio Teixeira, Juscelino Kubitschek, João Goulart… morre, misteriosamente atropelado em Itapetinga, o poeta Camillo de Jesus Lima, Caetiteense, como haveria de ser.

Texto completo em: https://pt.wikipedia.org/

 

 

 

Poema escrito no final da Guerra Mundial, publicada em Novos Poemas, 1945:

 

 

 

QUANDO ASSASSINAM CRIANÇAS

 

Flameja, olho feroz, um sol de brasa.
Voa no céu a lúgubre coorte
De asas negras de aviões lançando morte.
Troa e atroa a metralha e tudo arrasa.

 

Dir-se-ia que Satã, no roçar da asa,
Semeara o mal e o horror, de sul a norte.
A terra é tinta de um vermelho forte,

Sangue que de mil veias extravasa.

 

Vozes pedem socorro, desvairadas.
Pernas sangrentas... carnes laceradas...
Trágicos trismos de mil bocas tortas...

 

E a sirene gargalha, em voz tremenda,

Ogre mau e fatídico de lenda,
-Vendo as feridas das crianças mortas...

 

 

 

Poema do livro Cantigas da tarde nevoenta (Edição de Artes Gráficas - Salvador Edição de Artes Gráficas – Salvador, 1955):

 

 

 

A UM PARNASIANO

 

Não tenho, como tu, a alma de grego. Tenho a alma de um bárbaro indómito Ctestada de sol, batida das intempéries.

Não posso levar minhas emoções para a casa, como tu fazes. Porque eu não resistiria trazer dentro de mim essa tormenta Explodiria, com certeza, se guardasse dentro de mim esse vulcão

imenso.

Minha poesia vem como o anátema dos profetas: Indómita, louca, sem peias, desatinada. Sobe com a fumaça do meu cachimbo, [Saídas pelos lábios, ríspida e bárbara, como os meus gritos

de amor e sofrimento.

Eu tenho todas as dores humanas dentro de mim:

Gritam operários caídos dos andaimes.

Gemem meninos com fome.

Abençoam mães martirizadas.

Amaldiçoam prostitutas bêbadas.

Que rimas eu acharia para essa tormenta poética?

Que metros meus dedos poderiam contar para esse turbilhão emotivo?

Não. Minha poesia não é, como a tua, a flor cuidada nos interiores

silenciosos.

Minha poesia é aquele cardo selvagem de Bandeira,

Que as mãos dos homens nunca puderem tornar delicado.

Não tenho, como tu, a alma de grego.

Tenho a alma de mongol.

Não nasci vendo o céu sereno e o mar azul.

Nasci recebendo na face a chicotada da neve das estepes imensas.

Tu contornas teus versos de mármore com o cinzel delicado. Como se fizesses colunas para salões fidalgos. Tu facetas teus versos de ouro com o buril,

Como se eles fossem um mimo de Celini para as mãos das princesas.

Os meus versos, eu os atiro a esmo, nas faces dos maus.

São blocos de pedras que eu tiro da alma, com marteladas fortes.

Para construir, com a argamassa do sangue e das lágrimas,

0 grande monumento, disforme e rude, ao sofrimento universal.

Não. Eu não tenho, como tu, a alma de grego.

 

 

 

 

 

CANTIGAS DA TARDE NEVOENTA

 

Voltar para Camillo

Por que é que a tua mão perversa bate no meu rosto?

Por que é que marcas o meu dorso magro com as estrias roxas

Do teu chicote cruel?

Por que é que as tuas unhas deixam manchas negras na minha pele?

Se é só porque eu disse aos que clamam que, um dia, tudo mudará,

Se é só porque eu afaguei as almas dos infelizes com o carinho da minha esperança

Continua a bater, porque eu não me calarei.

 

Por que escarras na minha barba suja de terra?

Por que esmagas a minha mão calosa com o teu tronco de ferro?

Por que mandas os teus carrascos esmagarem os meus pés com as patas dos teus cavalos?

Se é só porque eu disse que o pobres devem ter pão,

Que todos os homens são iguais;

Se é só por isso, continua a escarrar na minha barba suja de terra,

Continua a esmagar minhas mãos calosas no teu tronco de ferro.

Continua a mandar o teu carrasco

Esmagar os meus pés doloridos e roxos,

Porque eu jamais me calarei.

 

Dize tu, poderoso, dize tu, César,

Se alguém pode conter a tormenta que estala;

Se alguém pode deter a torrente dos rios

quando eles descem, como avalanches, das montanhas.

 

Dize tu se alguém pode deter o dia rubro que engole, como um dragão de fogo, a noite negra,

E espalha ouro e carmim no horizonte infinito.

Como é que tu queres, com teus castigos desumanos,

Deter a torrente da revolta e a infinidade de esperanças que saltam do meu coração?

 

Bate, César... Maltrata... Esmaga... Tortura...

Mas eu ouço o tropel dos cavalos na noite.

Vejo sangue correr... Vejo a terra vermelha.

Vejo homens em luta. Ouço a música suave

Que adormece os infelizes e sobe ao céu com a fumaça das casas pobres dos proletários...

 

César, que mão alva é esta que estende pão às crianças famintas?

César... que tropel é este que ouço, dentro da noite?...

Bate, César

 

 

(Academia Caetiteense de Letras - Caetité - Bahia – 2003)

 

 

 

Página publicada em março de 2020


 

 

 
 
 
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