ARGEMIRO GARCIA
Nasceu em São Paulo, em 1960. Graças a seu pai, Argemiro, e a seu
professor Wilson que se interessou pela poesia. Casou-se com Mariene: tiveram quatro filhos, Gabriela, Leonardo, Pedro e Gabriel. Hoje, moram em Salvador.
Participou das seguintes antologias:
Álbum In Verso. Macaé, RJ: Petrobras, 1995.
Brusca Poesia. Salvador, BA: Grupo Cultural Pórtico, 1996.
Antologia Escritores & Poetas da Bahia. Salvador, BA: Petrobrás, 1997.
Anuário Pórtico 1997. Salvador, BA: Grupo Cultural Pórtico, 1997.
Antologia Poetrix. Salvador, BA: Movimento Internacional Poetrix, 2002.
Antologia Pórtico 1. Salvador, BA: Grupo Cultural Pórtico, 2003.
Mantém o blog "Canto de Anjo", sobre o filho caçula, que é autista:
http://www.cantodeanjo.blogger.com.br
o blog "Cronica Autista", de notícias sobre autismo
http://www.cantodeanjo.blogger.com.br
e o blog "Imbloglio",
http://www.imbloglio.blogger.com.br
de Crônicas, poesia e tudo o mais.
JANELAS
Olho da janela e o que vejo?
Formigas de azulejo
escalam muros de pedra;
anjos de face rosada
velam santos e orixás;
outros anjos, de cara suja,
percorrem praias e ruas,
à cata de latas e lixo.
Em torno, um e outro bicho
passam também a fuçar.
Rabiscos riscam tapumes e uma garatuja
Assina-se nas paredes. Solidão flutua no ar.
Janelas, sempre janelas!
Assisto através delas
o mundo que teima em passar.
Gotas escorrem do vidro:
Lágrimas? Suor?
Liberdade, Paraíso, Amaralina,
Copacabana, Imbetiba, Ondina,
quantas ruas será que eu, ainda,
percorro até me encontrar?
MORRO ACIMA, MORRO ABAIXO
A cidade sobe, num jeito de presépio,
pelas curvas de nível e ladeiras.
Sobem, acima dela, pipas, pássaros,
nuvens de fumaça, como um véu;
sobem sonhos e orações num escarcéu.
A cada chuva descem,
nas sarjetas,
suores, sujeiras e dissabores,
incertezas e esperanças
que aguardam outro dia,
outra chance, a loteria,
para se concretizar.
PAZ
Não sou guerreiro.
Não sou herói.
Guerreiros não vacilam nas grandes batalhas.
Prefiro lençóis a mortalhas.
Não puxaria um gatilho,
mas uma enxada.
Dignidade se constrói
com tijolos e cimento,
calos, calva e cãs.
Medalhas e bravatas? Coisas vãs.
VIRA-LATAS
a Marilda Confortin e Manuel Bandeira
Filitas peito facas,
feito lápides, são estacas
cravadas no coração do Brasil.
MARINHEIROS
Sobre a pedra, uma gaivota
observa o remador
e estuda sua rota.
VIDA
A vida é um mistério
escancarado
livro aberto em idioma
ignorado,
escrito em pele humana,
pergaminho,
mapa ilegível
do caminho.
(Extraídos de. Antologia Poética Pórtico – 1 / Goulart Gomes, org. Salvador: Pórtico Edições, 2003. 120 p.
ANJOS BARROCOS
Todo santo de pau oco
espera um pouco
espera um beijo
um soco.
Todo santo de pau oco
aguarda um pouco
um sorriso
um riso rouco
e guarda em si
um louco
desejo de carinho
um jeitinho.
Todo santo de pau oco
se guarda
e guarda em si
um prêmio
um tesouro,
pedra, ouro,
e espera sempre um pouco.
Macaé, 21/02/90
ESTAÇÃO RODOVIÁRIA
Um gato passa caçando
na madrugada sem mistérios.
Vozes, tosses, impropérios
e um par de tamancos longínquos
ecoam pelo saguão;
o vapor da cafeteira
envolve o guarda ao balcão.
Dúzias de óculos me espiam
sem olhos atrás da vitrina
não sei como enxergariam
com essa luz que ilumina
menos que a minha sombra.
O chiado da vassoura
e a risada que estoura
sublinham o não-silêncio
da noite baiana cansada.
Salvador, 19/7/87
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