ANTONIO RlSÉRIO
Poeta, antropólogo, tradutor e ensaísta, nasceu em Salvador (BA), em 1953. Publicou, entre outros títulos, os ensaios Carnaval ijexá (Editora Currupio, 1981), Textos e tribos (Imago, 1993), Caymmi, um autopia de lugar (Perspectiva, 1993) Avant-garde na Bahia (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, 1995), Oríki, orixá (Perspectiva, 1996), Ensaio sobre o texto poético em contexto digital (Fundação Casa de Jorge Amado, 1998) e Uma história da. cidade da Bahia (Ornar G. Editora, 2000) Publicou uma tradução de Altazor, do chileno Vicente Huidobro, em parceria
com Paulo César Souza (Arte Editora, 1991). Seus poemas foram reunidos em Fetiche (Fundação Casa de Jorge Amado, 1996).
Veja também: POESIA VISUAL DE ANTONIO RISÉRIO – FREDERICO BARBOSA
Vea también: TEXTOS EN ESPAÑOL
See also: TEXTS IN ENGLISH
RISÉRIO, Antonio. Fetiche. Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado, 1996. 106 p. 15x21 cm. (Casa de Palavras – Série Poesia, 02) ISBN 85-7278-005-X
VIA CAIAPO
saudade existe
quando você está
ao alcance
mão
mas quando eu
estou longe
não
PARA O MAR 3
Águas marinhas
sobem acima
do nível do mar.
Sambaquis submersos
na memória
das marés.
Barco sem saída
e eu aqui
nesse convés.
VIA PAPUA
desamarra a quilha, canoa
desamarra a quilha
e voa
(vai pelo ar
pelo mar
e sobre a ilha;
voa sobre o que
se armadilha)
mas voa leve, canoa
e leva uma estrela
na ponta da proa
cruza o mar, a névoa
o peito, a boca, a língua
almas que invadem nuvens
dobras de angra e de íngua
(mas voa leve, canoa
há uma estrada inteira
na ponta da tua proa)
e que o ar mais leve a leve
e faça das algas do céu
a minha única
e exclusiva
coroa,
canoa.
ARTE POÉTICA
na serra da desordem
no piracambu tapiri
em cada igarapé do pindaré
em cada igarapé do gurupi
existe uma palavra
uma palavra nova para mim
RISÉRIO, Antonio. A banda do companheiro mágico. Salvador, BA: 1980. s.p. ilus. p&b 16x21 cm. Foto capa: Armandinho de Juazeiro / Zè Luiz de Ipiaú. Arranjo visual: André Luyz e Antonio Risério. Arranjo visual do autor e de André Luiz. “Axé Clube de Criação” aparece na área do colofão sem especificar a sua participação editorial específica. (EA)
Um dos poemas ilustrados: eu sou o carnaval
Ouça a música:https://www.youtube.com/watch?v=kOTc6Oe49_M
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Poemas extraídos de NA VIRADA DO SÉCULO: poesia de invenção no Brasil, organização de Claudio Daniel e Frederico Barbosa. São Paulo: Landy, 2002. 348 p.
ISBN 85-87731-63-7
De
Antonio Risério
ORIKI ORIXÁ
Ilustrações de Carybé
São Paulo: Editora Perspectiva, 1996.
190 p. ISBN 85-273-0080-x
Antonio Risério é um caso de crítico-poeta que merece mais atenção. No sentido de que sua poesia é exemplar, não no sentido moralista que atribuem a Cervantes, mas de criar exemplos que remetem à essência da criação. "Oriki Orixá" é um de seus (muitos) intentos, pois já incursionou nas diversas frentes da poesia de vanguarda de nosso tempo. O livro é de 1996, assim que não estou fazendo uma resenha, mas um tributo ao poeta.
Na apresentação, o mestre Augusto de Campos resume tudo: "Assim como Eliot disse de Pound ser ele o inventor da poesia chinesa para o nosso tempo, podermos afirmar, guardadas as proporções, que Antonio Riserio está inventando a poesia iorubá para nós." Querendo dizer que Riserio traduz para a poesia escrita a oralidade do original que o motivou. Com a habilidade de poeta, em sua recriação. Mas é o próprio Risério que explicita: "Trata-se da primeira tentativa feita, entre nós de recriação poética de orikis, a partir dos textos iorubanos originais". E pretende que sua transcriação alimente a nossa poesia contemporânea, quer dizer, "em termos inspiradores — ou seja, como uma poética capaz de alimentar de algum modo a produção contemporânea, e não como relíquia salva de um naufrágio". ANTONIO MIRANDA
Sabemos das restrições causadas pela nossa lei de direito autoral, que não contempla o "fair use" no caso da divulgação sem fins lucrativos, assim que vão apenas dois exemplos:
ORIKI DE OGUM
Silêncio. Cale-se a fala.
Nada na casa em nada bata.
Inhame novo ninguém vai pilar.
Ninguém vai moer nada.
Não quero ouvir menino vagindo.
Cada mãe que amamente o seu filho.
Quando Ogum despontou
Vestido de fogo e sangue
O pênis de muitos queimou
Vagina de muitas queimou.
Senhor do ferro
Que enraivecido se morde
Que fere ferroa e engole
Não me morda.
Ogum foi a Pongá - Pongá ruiu
Foi a Akô Irê - Irê ruiu
Chegou ao rio - e as águas dividiu.
Terror que golpeia a vizinhança.
Ogum Oboró, comedor de cães, toma teus cães.
Ogum Onirê sorve sangue.
Molamolá fareja farelos.
Dono da lâmina, cabelo come
Senhor da circuncisão, come caracol
Ogum entalhador, madeira come.
Suminiuá, Ajokeopô.
Não me torture, Ogum terror.
Mão comprida
Que livra teus filhos do abismo
Livra-me.
(AO, pp. 105-106)
ORIKI DE XANGÔ 1
Lasca e racha paredes
Racha e crava pedras de raio
Encara feroz quem vai comer
Fala com o corpo todo
Faz o poderoso estremecer
Olho de brasa viva
Castiga sem ser castigado
Rei que briga e me abriga
(MOA, p. 94)
POESIA JOVEM ANOS 70. Seleção de textos, notas, estudos biográfico, histórico e crítico e exercícios por: Heloísa Buarque de Hollanda, Carlos Alberto Messeder Pereira. Colaboração: Lula Buarque de Hollanda. Consultoria: Leila Miccolis, Maria Amélia Mello. São Paulo, SP: Abril Educação, 1982. 112 p. 15x21,5 cm. “ Heloísa Buarque de Hollanda “ Ex. bibl. Antonio Miranda
AUTORES BAIANOS: UM PANORAMA; BAHIANISCHE AUOTEREN: EIN PANORAMA; BAHIAN AUTHORS: A PANORAMA; AUTORES BAHIANOS: UN PANOROMA. Organização Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB). Salvador, Bahia: P55 Edições, 2013. 471 p + 10 p. s/ com as biografias dos autores nas quatro línguas. p. 18x25 cm. Inclui textos dos poetas Antonio Risério, Daniela Galdino, Florisvaldo Mattos, Karina Rabinovitz, Kátia Borges, Luis Antonio Cajazeira Ramos, Myriam Fraga, Roberval Pereyr e Ruy Espinheira Filho e traduções ao alemão, inglês e espanhol. Col. A.M.
ABAITE YA
Fetiche", 1996)
para augusto de campos
"Their concept of a garden is a
reproduction on a dwarfish scale of nature
they see around themselves. It makes a
characteristic contrast with the modern
horizontal park dotted with geometric
patterns of flower-beds and shady trees
planted at regular intervals in parallel lines
as in French gardens of the Cartesian age."
- Shunkichi Akimoto.
morai mizu
yumê-sakura
no chão
da lagoa escura
yumê ah
ah yumê ah
ah yumê
yumê-sakura
no chão
da lagoa escura
o sol bashô
à doce brissa
caracol
ka-dô
lua branca
areia branca
uma polegada
escura
odô ya
a conta de vidro kai
o som da água
graveto kanji
kioto ketu
uma cidade:
mairi
asagao ya
oh ipoméia
abaité ya
a ideia
de uma
orquídea
sereia no ideograma
areia no brinquedo
ipupiara em ikebana
semilua em leque
a mulher bem nua
dama kasa não é minha
yamakochi
nem é tua:
sozinha sozinha
a mulher flutua
yamabuki
exu samurai
terreiro kabuki
sendas de okunrin
satoriki
um jardim enfim
onde eu ronin
onde eu chonin
diga sim ao sim
lua na neve
okê aro
me sento dentro
de uma peça nó
noite de outono
emi hakuryo
nenhum hagoromo
os olhos no cio
alakorô alakorô
oh oxotokanxoxô
o rei menos o reino
o cheiro de uma cor
TEXTOS EN ESPAÑOL
ABAITE YA
(“Fetiche", 1996)
para augusto de campos
"Their concept of a garden is a
reproduction on a dwarfish scale of nature
they see around themselves. It makes a
characteristic contrast with the modern
horizontal park dotted with geometric
patterns of flower-beds and shady trees
planted at regular intervals in parallel lines
as in French gardens of the Cartesian age."
- Shunkichi Akimoto.
morai mizu
yumé-sakura
al fondo
de la laguna oscura
yumé ah
ah yumé ah
ah yumé
yumé-sakura
al fondo
de la laguna oscura
el sol bashó
a la dulce brissa
caracol
ka-do
luna blanca
arena blanca
una pulgada
oscura
odóya
la cuenta de vidrio kai
sonido de agua
ramita kanji
kioto ketu
una ciudad:
mairi
asagao ya
oh hipomea
abaité ya
la ¡dea
de una
orquídea
sirena en el ideograma
arena en el juguete
ipupiara en ikebana
semiluna en abanico
la mujer desnuda
dama casa que no es mía
yamakoshi
ni es tuya:
solasola
la mujer ondula
yamakubi
exú samurai
terrero kabuki
sendas de okunrin
satoriki
un jardín al fin
donde yo ronin
donde yo chonin
diga sí al sí
luna en nieve
oke aró
me siento dentro
de una obra no
noche de otoño
em hakuryo
ningún hagoromo
los ojos en celo
alakoró alakoró
oh oxotokanxoxo
el rey sin el reino
aroma de un color
TEXTS IN ENGLISH
ABAITE YA
("Fetiche", 1996)
for augusto de campos
"Their concept of a garden ¡s a
reproduction on a dwarfish scale of nature
they see around themselves. It makes a
characteristic contrast with the modern
horizontal park dotted with geometric
patterns of flower-beds and shady trees
planted at regular intervals in parallel lines
as in French gardens of the Cartesian age."
- Shunkichi Akimoto.
morai mizu
yume-sakura
on the floor
of the dark lagoon
yume ah
ah yume ah
ah yume
yume-sakura
on the floor
of the dark lagoon
the sun, basho,
to the fresh breeze
seashell
ka-do
white moon
white sand
a dark
thumb
odoya
the glass bead kai
the sound of water
kanji stick
kyoto ketu
a city:
mairi
asagao ya
oh morning glory
abaite ya
the idea
of an orchid
mermaid in the ideogram
sand in the toy
ipupiara in ikebana
half-moon a fan
the women all naked
lady kasa is neither my
yamakochi
nor yours:
alone alone
the woman floats
yamabuki
eshu samurai
terreiro kabuki
paths ofokunrin
satoriki
a garden in short
where I ronin
where Ichonin
say yes to yes
moon in the snow
oke aro
I feel like part
of a drama - noh
night in autumn
emi hakuryo
no hagoromo
the eyes in heat
alakoro alakoro
oh oshotokanshosho
the king less the kingdom
the scent of a hue
MEDUSA. revista de poesia e arte. Curitiba - PR Editor Ricardo Corona N. 9 - fev.-março 2000Ex. bibl. Antonio Miranda
*
VEJA e LEIA outros poetas da BAHIA em nosso Portal:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/bahia/bahia.html
Página ampliada em junho de 2022
Página publicada em janeiro de 2009; aampliada e republicada em fevereiro de 2011. Ampliada e republicada em abril de 2014, republicada em agosto de 2014.
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