POESIA BARROCA BRASILEIRA
ANDRÉ FIGUEIREDO MASCARENHAS
Membro da Academia Brasílica dos Esquecidos, academia de letras do Brasil Colônia fundada em 1724, sob o patrocínio do vice-rei D. Vasco Fernandes César de Meneses na cidade de Salvador, na Bahia.
Cipião desterrado de Roma
Soneto
Vendo Roma, que são prêmios escassos
Triunfos a Cipião quantos devia,
Ordena, que o desterro (ação impia!)
Da obrigação notória rompa os laços.
Como de Macedônia nos espaços
De Alexandre o valor já não cabia,
Mostra Roma que em si já não podia
Cipião receber ovantes passos.
A Cipião porém terror de Marte
Depois que África vence, e Ásia doma,
De si mui pouco vai, que Roma aparte.
Descuidado o desterro não o toma,
Que se o forte tem pátria em toda a parte,
Cipião em qualquer parte vive em Roma.
*
Amor com amor se apaga
Soneto
Amor quando domina é tão isento,
Que despreza as ações inda mais finas,
Porque nem de finezas peregrinas
Se deixa suavizar o seu tormento.
Pois, como o raio, Amor, sempre violento,
Demonstrações talvez fazendo indignas,
Só se paga de estragos, e ruínas
Donde quer que respira o seu alento.
Mas se Amor tem de raio visos, logo
Não é muito que um peito, que ele estraga,
Em outro Amor não tenha desafogo.
Qual do raio veloz, que os ares vaga,
Só se chega a apagar com outro fogo,
Assi’ um Amor com outro só se apaga.
Página publicada em dezembro de 2018
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