| CARLOS ALBERTO BASTOS  BARBOSA    C. A. Bastos Barbosa,  41 anos, nasceu na Bahia e criou-se nas águas do Velho Chico [Rio São  Francisco], em Ibotirama. Cursou Jornalismo na capital Salvador.
 Bacharel em Direito, fez em cordel seu trabalho final de Filosofia do Direito:  “A Justiça em Hans Kelsen”, que foi publicado pelo jornal Correio Brasiliense,  de Brasília, e pela revista Universitas/JJus.
 
 Compôs em parceria músicas que venceram festivais em Ibotirama.
 É parceiro de Dominguinhos em duas  canções: Brincadeiras de Rua.
 Águas de cacimba é seu primeiro  livro publicado.
 Antes de se aposentar, foi Assessor e Gerente Executivo nas áreas de Imprensa e  Publicidade das Caixa Econômica Federal, e Chefe de Divisão na Assessoria de  Comunicação Social do Ministério do Planejamento, em Brasília.
   BARBOSA, Carlos Alberto Bastos.  Água de cacimba. Poemas reunidos. Brasília,  DF:           edição  do autor, 1998.  86 p.   14 x 21 cm.               Ex. bibl. de Antonio  Miranda     Faço poesia popular. Penso, como alguns,  que a questão é dar novossentidos e usos às palavras, Rearrumar prateleiras. Raspar rapaduras.
 De certa forma, este livro é por  conta da baianidade que me
 ocupa desde o berço. Conversa de pescaria, de beira-do-cais, de espiar as cores  do tempo se dissolvendo na ponta do nariz.
   
                     CENA DE RUA
 dez horas da manhã
 
 um homem arrasta-se na calçada
 em frente ao prédio da reitoria
 de cócoras
 
 defeca
 
 limpa-se com a mão direita
 que esfrega em seguida numa poça d´água
 
 no instante seguinte
 o sinal abre para os carros
 que fecham a cortina
 do breve espetáculo humano
      RESUMO     tudo se resumea gestos de impaciência
 semicoantrolados
 
 pois tudo se resume
 a restos de inocência
 d´alma deletados
 a porque tudo se resume
 a um estado de insolvência
 falseado
 a um caldo de tormentas
 literalmente entornado
 
 posto que entrelaçado
 pela ânsia de esconsos labores
 pela fúria que nos trouxe
 a esse apogeu
 de bazar de shopping
     MENINO DA ROÇA    acorda meninoo galo cantou
 o dia tá claro
 o sol despontou
 
 calça as precata
 lava os ói
 enrola a esteira
 as costas nuim d´[oi
 
 pegue o baldin
 não pense na fome
 a cabra dá leite
 e não sabe teu nome
 
 teu brinquedo é este
 dia santo ou azado
 com tempo melhor
 brincarás dobrado
    arriba meninová pro roçado
 capina o terreno
 deixa alimpado
 
 arriba menino
 o pote secou
 vai dar meio-dia
 a lenha acabou
 
 depois vá na rua
 fiar no armazém
 óleo e açúcar
 pro mês que vem
 
 teu brinquedo é este
 dia santo ou azado
 com tempo melhor
 brincarás dobrado
        O ESPELHO
 de repente
 soube
 ler nuvens
 ouvir pedras
 cantar silêncios
 sentir doçuras em farpas
 
 de repente
 não soube mais
          o caminho da piao sentido das placas
 ligar a luz
 esperar
 rir
 
 de repente
 nada mais acontecia
 tudo era um só espelho
 e nele você me ardia
 
 *
   VEJA  e LEIA outros poetas da BAHIA em  nosso PORTAL:   http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/bahia/bahia.html      Página publicada em abril de 2021 
 |