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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

VIOLETA BRANCA
 

Violeta Branca Menescal de Vasconcelos nasceu em Manaus, no dia 15 de setembro de 1915 e faleceu no Rio de Janeiro, em 7 de outubro de 2000. Ocuparam-se de sua obra, dentre outros, Genesino Braga, Tenório Telles e Marcos Frederico Krüger, tendo merecido , de Almir Diniz, em seu livro Mulheres, a homenagem de um soneto intitulado Canto de Liberdade. Não são poucas, contudo, as homenagens que ela tem recebido no decorrer destes últimos dez anos, destacando-se, para estudo e consulta, Violeta Branca (O poetismo de vanguarda), ensaio e documentário de Carmen Novoa Silva, de quem foi amiga até a data de seu trespasse. Vale a pena reler este livro, no qual, também, comparece uma transcrição da Antologia Poética da Mulher Amazonense, do escritor Danilo Du Silvan, editada em 1984. Embora sem os recursos formais de Cecília Meireles, nem, também, sua profundidade conceitual diante do mundo, Violeta Branca, afinal, segundo Tenório Telles, pertence à primeira fase do modernismo. ¨Seu discurso poético é fluido, despojado de qualquer pretensão acadêmica¨, conclui esse mestre. Feminina, inclusive, não nos parece, em nenhum momento, preocupada com o gênero de sua própria  inquietação lírica ou existencial, enfatizando, sobretudo, a monumentalidade interior que se apressa a fazer de seu canto um jornal de surdinas e confidências, algumas vezes pueris, mas sempre como se estivesse entre árvores e pássaros.   Jorge Tufic

 

BRANCA, Violeta.  Reencontro -  poemas de ontem e de hoje.  2ª. edição.  Manaus, AM: Academia Amazonense de Letras; Edições Governo do Estado do Amazonas – Secretaria de Estado da Cultura, 2012.  146 p. (Série Violeta Branca, v. 8)  15x21 cm.  ISBN 978-85-64218-29-1  Ex. Biblioteca Nacional de Brasília, doação de Francisco Marques de Vasconcelos Filho.

 

         NOTÍCIAS

Vento que vens de longe
nas horas de maré alta,
vento que nunca trazes
notícias de quem me falta.
Vento que já passaste
entre veleiros nos portos,
em ti só escuto as palavras
de saudade dos meus mortos.
Vento de mãos abertas
abrindo as salas desertas
onde guardo o meu sossego,
leva contigo essa angústia
que ame atormenta e exalta
mais o desejo e o apego
que tenho por quem me falta.

 

         CLARINADA

É impossível prolongar o êxtase e viver,
pois o instinto explode num clarão
e a plenitude do amor é quase morte
no milagre total da integração.
Partem-se as correntes, as dúvidas, os medos
no sentimento exato.
E enquanto vão surgindo clarinadas e auroras
nos momentos de encantos insuspeitos
eu, consciente e mágica desato
os laços que me prendem aos preconceitos.

 

         LIMITAÇÃO

É limitado o espaço:
quatro paredes de vidro,
peixes perdidos no aquário
vendo paisagens de aço
e caminhos não concluídos,
pois o tempo é secundário.
Lá fora vozes jeitantes
proclamam lutas, renúncias.
Sou um peixe do aquário,
meu corpo afunda na água
entre mil pedras cortantes,
por isso não escuto as minúcias
do que dizem os apelantes
cheios de ódio e de mágoa.
Bendigo as quatro paredes
que me defendem dos gritos.
Faço parte dos aflitos
mas sou impotente aos apelos
porque no aquário em que vivo
os problemas e os atritos
jamais poderei resolvê-los.

 

         O LEQUE

Feito de sândalo e rendas tenho o leque
que pertenceu à minha tetravó
foi sempre guardado com carinho,
talvez por isso o tempo
não o tinha transformado em pó.
Com ele e moça índia
— que tinha também sangue francês —
escondera na certa o riso puro
faceira junto ao noivo português.
Mas quem saberá se nas horas de enlevo
quando mais alto lhe falava a origem
de filha da terra manauara,
em vez do leque requintado,
não quiser a ventarola simples
feita de palha e penas coloridas
para ao calor da noite perfumada e clara
abanar em silêncio o bem-amado.

 

         MEU DOGMA

Não abro mão do que quero,
nem fujo do terno enleio
das coisas que eu tolero
no mundo de onde leio
nos astros a afirmação
das minhas ânsias insofridas,
e vejo a continuação
da minha vida em outras vidas.
Não me afasto do esquema
que o meu ser vertical semeia.
Morro sempre num poema,
ressurjo com a lua cheia,
uso símbolos e pertenço
a um ritual que tonteia
os que não têm força nem senso
para transpor o infinito.

 

BRANCA, Violeta.  Ritmos de inquieta alegriaOrganização e estudo crítico Tenório Telles. 2ª. edição, revista e aumentada.  Manaus, AM: Editora Valer, 1997.  116 p.  (Série Coleção Resgate, 1)  14x21 cm.  Capa: Álvaro Marques.  Foto: Leonide  Principe.  Apresentação de Marcos-Frederico Krüger.  ISBN 85-86512-02-8  Ex. Biblioteca Nacional de Brasília, doação família de Francisco Vasconcelos.

 

         DOIS "TANKAS" DE MINHA TERRA

I       

Nos poemas que ora escrevo
não há, como outrora,
a suavidade de um enlevo...
São ardentes, tropicais:
têm o cheiro de terra molhada
e o gosto das frutas maduras...

São versos saídos d´água
como a Iara
e embrenhados pelas matas escuras...
E sabem você, por que eles são, agora, assim?
É que os dias estão cheios de sol,
e o sol se desfez em entusiasmo dentro de mim...

 

II

Eu quiser ter os braços muito longos,
mais longos que as palmeiras esguias destas zonas,
maiores que as cobras grandes,
maiores, até, que os rios
que retalham o Amazonas...
E assim abraçar e apertar
contra o meu peito,
toda inteira, a minha terra,
e guardar para mim, só para mim,
a poesia das lendas que ela encerra...

 

VITÓRIAS-RÉGIAS

 As minhas mãos são vitórias-régias diminutas,
onde o sol vem dormir
quando o céu se enche de estrelas.
E é por isso que sou branca,
mais branca do que as praias e que  a lua..
E tenho esse desejo insaciável de luz,
sempre luz
de tanta luz, que me obrigue a cerrar
os olhos curiosos
que têm os mesmos fulgores das minhas manhãs claras
sobre as águas espelhantes dos igapós
na pátria das iaras...

 

Página publicada em março de 2017


 
 
 
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