SÔNIA MARIA NEVES BITTENCOURT DE SÁ
Nasceu em 1960, em Manaus, Amazonas.
Bacharel em filosofia e graduação em Licenciatura em Educação Física pela Universidade de Brasília nos anos de 1992 e 1982 respectivamente. Em 2011 obteve o grau de Mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento pelo PRODEMA/UFPB, PB. Especialista em Bioética pela cátedra Unesco/UnB, 2007, Saúde do Adolescente em 1998 pela Faculdade de Ciências da Saúde/ UnB. Especialista em Natação pela PUC/MG e em Pesquisa na área de Educação Física com concentração em Biomecânica da natação em 1987, pela UFSM/RS.
Nos últimos anos desenvolveu trabalhos no ensino fundamental e médio na área de filosofia, particularmente no programa de filosofia para crianças em Brasília.
Foi aprovada em 2009 em concurso público para a FUNASA em terceiro optando por continuar em João Pessoa desistiu da vaga. Em 2010 trabalhou como coordenadora pedagógica no Centro Educacional Cenecista Felipe Tiago Gomes em João Pessoa na Paraíba. Atualmente trabalha como voluntária em um projeto social de informática no bairro da Penha (2011 a 2013) e ministra aulas de natação no sindicato dos bancários de João Pessoa-PB
RAPSODIAS. Selección de poesia contemporânea. Montevideo:Bianchi editores, 2006. 164 p. Ex, bibl. Antonio Miranda
ENGANO
Agora
moro na orgia
e no regozijo.
Meus olhos estão cegos
pelo reflexo do meu próprio olhar.
Embrutecido tato
pela rotina que ofereço a sensibilidade.
Envenenado paladar
na experiência do meu próprio sabor.
Enganado olfato
no incessante desejo de odor.
Ensurdecida escuta
no exílio da audição.
Embevecido pensar.
A vida
espectro do que pensa ser real,
enganada pela vaidade
do que supõe ser o saber
nada faz
do que viver o irreal.
A TEXTURA DA VIDA
Contemplo
o sol que reflete
na parede inacabada.
Sou umedecida pelo
cheiro da chuva
que não chegou ainda.
Vagueio no balanço do galho
na tarde parada.
Silêncio, silêncio.
Escuto minha respiração
dentro do cachorro
deitado à porta,
vigiando o nada.
FOTOGRAFIA
Como fotografar
o que é fugidio?
Como fotografar
a beleza em movimento
que não pertence à inércia?
O sofrimento que se esvai
na morte ou na esperança
do momento seguinte
que já não pertence a retina.
A fotografia
não capta a realidade,
mas o passado
envelhecido abruptamente
nos seus milésimos de segundo.
IMPOTÊNCIA
Onde estão seus braços
arrancados nesta insana
guerra.
Fecho meus olhos
para que não sirvam de espelho
a tua profunda e perplexa dor.
Quem dera
que fosse eu
o oleiro
para moldar com barro
os teus membros perdidos.
TRAÇOS
Quero as cores.
Não as conhecidas ou naturais.
Quero as escondidas,
as que estão por nascer
nas possíveis combinações do artista.
Quero as linhas
Não as que traçam o cotidiano,
mas as que rabiscam a mente
num turbilhão de ideias confusas.
Quero o engano
da criação.
A dor soturna
do fracasso
pela impossibilidade
real de subverter a ordem.
LETRAS DE BABEL 3. Antología multilíngüe. Montevideo: aBrace editora, 2007. 200 p. ISBN 978-9974-8014-6-2 Ex. bibl. Antonio Miranda
Memorandus
Procuro
e não te encontro.
Descubro que a soma das partes
não representa o todo.
Teu corpo és tu
sem ser.
Procuro por ti
a aliança devolvida no teu dedo
não és tu.
Invoco o mistério da vida
na carne inanimada.
Perdida na multidão
olhando as mil faces que perfilam
sob a vista embaçada,
compreendo a tua existência encarnada
na minha pele
enquanto
memória.
Ninna
E ajoelhada
sob a mira implacável do revólver
fez seu último pedido:
a boneca.
Perplexo, sem a
compreensão da boneca
abaixou a arma
e partiu.
Spectrum
Ser espectro
transitar por tantos mundos
e não pertencer a nenhum.
Forjar a identidade
no espelho vazio,
oferecer a lucidez
no preparo da mortalha.
Soltar
Retirei de mim
todos os pontos de apoio
e flutuei
na alegria de ser mortal.
Quimera
Ah! Como chora a criança
que perdeu sua asa.
Castrada.
Imagina-se pequena
mas aprenderá
com a queda
que a vida vai muito além.
Página publicada em junho de 2020;
Página ampliada em setembro de 2020
|