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PETRARCA MARANHÃO
Petrarca da Cunha Melo Maranhão (Manaus, 1913 — Petrópolis, 1985) foi um poeta brasileiro. Ainda jovem foi morar no Rio de Janeiro onde se diplomou em direito em 1935.
Desde 1936 dedicou-se à produção e publicação de trabalhos literários: "Turbilhão"(ensaios de crítica literária), "Miniaturas" (poemas e trovas), "Ronda de Estrelas" (poesia), "Ouro e Cinza"(trovas), "Os Advogados do Diabo" (crônicas) e em folhetos e na imprensa muitas crônicas e poesia.
ALBUM DE POESIAS. Supplemento d´O MALHO. RJ: s.d. 117 p. ilus. col. Ex. Antonio Miranda
DE RONDA DE ESTRELAS
A Lei da Vida
Todos nós temos sempre em cada dia, Uma ínfima dose de ventura: Para cada minuto de alegria, Outros tantos instantes de amargura . . .
Se, acaso, alguns momentos de euforia Fazem da vida um sonho de ventura, Logo uma sombra má nos angustia, Nos vem turbar aquela paz tão pura . . .
Afinal, não se sabe por que lei E por que inexorável fatalismo Hão de andar, lado a lado, riso e pranto!
Eu também – ai de mim! – de nada sei . . . Sei que me curvo ao meu determinismo, Vivendo entre a ilusão . . . e o desencanto!
A Ela
(À Capitu do “D. Casmurro” de Machado de Assis.)
“O’ flor do céu, ó flor cândida e pura” Em quem meu pensamento se resume! Flor bendita de mágico perfume, Que embevece minh’alma de ventura!
Da seta de Cupido o afiado gume Em raios mil no teu olhar fulgura, Representante ideal da formosura, Mulher magnífica! Meu Celso nume!
No mundo, quando a mim mais nada valha, Serás meu guia e único fanal! Da vida em meio à luta intensa e forte,
Quando tu fores minha, à própria morte Declararei, por fim, de vez, triunfal: “Perde-se a vida, ganha-se a batalha”! . . .
Saudades do Amazonas
Desde que te deixei, ó terra minha, Jamais pairou em mim consolação, Porque, se eu longe tinha o coração, Perto de ti minh’alma se mantinha.
Em êxtase minh’alma se avizinha De ti, todos os dias, com emoção, Vivendo apenas dentro da ilusão De voltar, tal qual vive quando vinha.
Assim, minh’alma vive amargurada Sem que eu a veja em ti bem restaurada Das comoções que teve em outras zonas,
Mas para torná-las em felicidade, É preciso matar toda a saudade, Fazendo-me voltar ao Amazonas!
E S C O L H A
Neste dilema, o que é que tu preferes? Sinceramente, amor, dize-me aqui: Que eu ame em ti, a todas as mulheres Ou em todas as mulheres ame a ti? . . .
Claro Enigma (Variação)
Eu quis fazer um poema todo esdrúxulo, Um poema estratosférico e algo exótico, Que fosse ao mesmo tempo heróico e másculo, Ainda que sem rima, idéia e métrica. Quis escrever um poema todo excêntrico, Um tanto claro, um tanto enigmático, Um “claro enigma” apático e esotérico, Futurístico, místico e vesânico, Um tanto parecido com os patéticos Poemetos futuristas cabalísticos, Escritos pelos gênios marinéticos . . . Mas, se caso, estes versos melancólicos, Que não são protestantes nem católicos, Não agradarem meus leitores líricos, Não me chamem de tolo nem lunático, Nem me taxem, tampouco, em tons satíricos, de trêfego, de frívolo ou de pérfido . . .
MARANHÃO, Petrarca. Sonetos petrarqueanos. Rio de Janeiro: Editora Pongetti, 1965. 16 p. 13x19 cm. “ Petrarca Maranhão “ Ex. bibl. Antonio Miranda
O REI DOS RIOS
(À Laura da Cunha Mello Maranhão, minha Mãe)
Vem de longe o Amazonas, o gigante caudaloso, feliz, tentacular, maior que o Mississippi e que o possante rio Nilo, de glória milenar...
Do Telhado do Mundo, ele, insinuante, desliza da montanha, a ultrapassar vales, terras, florestas, sempre avante, rumando na distância, para o mar...
Busca o estuário, em que deve, finalmente, arremessar, violento, inquietas águas, num lance magistral, largo e imponente...
A tudo vence, como um herói romântico : rompe diques, barragens, pedras, fráguas, projetando-se, olímpico, no Atlântico!...
EM LOUVOR DO SONETO CLÁSSICO
(A Adelmar Tavares)
Saudemos na Poesia, ao soneto perfeito, clássico em seu fluir, correntio e fugaz, sonoro em sua rima, alado em seu conceito, proeza de que ele só e só ele é capaz...
Saúde-se no Verso, a esse milagre audaz da arte de traduzir, eloquente e escorreito, tanto um suave sentir, de deleite e de paz, quanto um clangor de guerra a rebentar do peito!
Glória ao talento eterno... Ariel, ente imortal, génio do ar, a surgir no soneto ideal, que por séculos já toda uma história abarca.
Glória & bela criação, deveras empolgante, que a alturas se librou, de forma emocionante, na apoteose triunfal de Laura e de Petrarca.
Página publicada em novembro de 2009; ampliada e republicada em abril de 2019.
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