PAULO Cunha QUEIROZ
Nasceu em Parintins, Estado do Amazonas.
MELLO, Anisio. Lira amazônica - Antologia. Vol. I São Paulo: Edição Correio do Norte, 1970. 286 p. Ex. bibl. Antonio Miranda
A B S T R A Ç Ã O
Nas regiões do céu, nos seus altares,
Num carro alado e azul eu vou passando...
Vou conhecendo esses ignotos lares
Onde os sonhos se vão multiplicando.
Além, surge a Babel dos meu sonhares,
Que com o tempo se vai desmoronando...
Sodomas velhas surgem-me aos milhares,
E para trás, sangrentas, vão ficando.
Mais além, uma estrela em riso nasce,
Que vai cobrindo do infinito a face,
Que semelha uma fauna esguelada!
E entre o encanto da lua e entre o sorriso
Das estrelas, no céu claro eu diviso
Cintilações de luzes da alvorada!...
(In Amazonas Ilustradas, no. 3,
Manaus, IX e XI, de 1952.)
Publicado com a dedicatória
"Ao poeta Alencar e Silva."
É T A R D E
É tarde, ó Deus. Bem sei que é muito tarde,
O perdão implorara a uma alma impura.
Já o fogo da vida em mim não arde...
Dai-me por leito — tetra sepultura.
No cárcere da Dor sou um covarde.
Há dezoito anos que meu ser procura
Um consolo, evocando sem alarde...
Um lenitivo atroz — a campana escura.
Meus sonhos de esperança se acabaram...
Os castelos de amor.. desmoronaram
Sob o simoun do tempo que se espalma.
E eis que resta da vida: esta saudade,
Tombou-se o sonhar da mocidade
No ergástulo de dores da minhalma!...
SUPREMO DESEJO
Que de minhalma eleva-se aos espaços...
Quando chegar a hora derradeira,
Deixa que eu morra nos teus lindos braços!
Dentre as rosas para mim és a primeira,
Ó flor gentil dos cândidos regaços!
Vem ser a luza de minha cabeceira,
Bálsamo santo para os seus cansaços.
Ó alma bela, céu dos meus amores,
Agravam-se afinal as minhas dores...
Faze-me, ó flor, este último desejo:
Quando descer meu ser à fria campa,
Antes porém de se fechar a tampa,
Dá-me como hóstia a rosa do teu beijo!...
(In "O Centro", n. 33, Ago-set. 1952, Manaus (AM).
Página publicada em novembro de 2020
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