PAULO MONTEIRO
Nasceu em Manaus. Suas primeiras publicações foram alternativas (Fanzines), em que misturava seus poemas com suas colagens.
MONTEIRO, Paulo. Jazz para rinocerontes. Belo Horizonte: Editora Moinhos, 2017. 13,5 x 18 cm. 58 p. Ilustração da capa: Lily Oliveira. ISBN 978-85-92579-17-3 Ex. bibl. Antonio Miranda
Olhos da serpente
figuras penduradas
no tempo
copos quebrados pela loucura
dedos amputados
guardados no congelador
amanhã tentarei costurá-los
minha fome aumenta
o tempo não aguenta mais as figuras penduradas
enquanto os anjos ainda pulam de prédios
e cabeças são perdidas em reuniões
na sexta-feira santa
fazendo sombra na calçada
onde moças caminham
com suas mãos engessadas
ainda há inocência
nos olhos da serpente.
Sete demónios da solidão
sete demónios quebram copos em minha casa
penetram meus pensamentos
entidades que não conheço
sete demónios correm em minha casa
pisam no meu peito enquanto durmo
mastigam meus dedos
sete demónios gritam em minha casa
mandam-me escrever suas palavras
e todas viram poema.
Última Santa Ceia
rostos tímidos percorrem corredores escuros
vivos, mas trémulos pelo medo constante
com dores nos peitos cobertos de palha
onde bate um terremoto de alta periculosidade
balanços que descem aos dedos sólidos de
amores deixados para trás
num vão iluminado por olhos de anjos desgraçados
compartilhando a última santa ceia.
Página publicada em novembro de 2018
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