ODDER POGGI de Figueiredo
Poesias esparsas em jornais de Manaus, Amazônia.
MELLO, Anisio. Lira amazônica - Antologia. Vol. I São Paulo: Edição Correio do Norte, 1970. 286 p. Ex. bibl. Antonio Miranda
CHEIA AMAZÔNICA
E rola um turbilhão dáguas barrentas
invadindo a floresta, esbravejando. . .
Vão-se os barrancos se desmoronando,
samaumeiras vão caindo lentas. . .
E pouco a pouco as praias alvacentas
vão imergindo, as águas solapando,
no bôjo caudaloso vão levando
as árvores vetustas e opulentas!
Dias se passam e triste a natureza
é um quadro do dilúvio universal,
de ineditismo parodoxal. . .
Em cima dágua a arca — uma tapera. . .
Noé — audaz caboclo que fizera,
resistindo ao destino com braveza!
S O N E T O
Quando o teu lábio morno poisa langue
Na carne de meu lábio, num desejo
É um beija-flor que vem sugar meu beijo.
Beijo de amor, de luz, de vida e sangue!
Quando teu lábio repousar dolente
Vem no meu lábio reviver, sonhar. . .
Sinto em minh'alma em brasa a flama quente
Do teu divino beijo, a crepitar!
Quando o teu lábio e o meu paralisados,
Na sensação de um beijo unificados,
Celebram a vida em fúlgido esplendor. . .
Sinto em meu ser uma inspiração divina,
Porque teu beijo é um sonho de morfina. . .
Porque teu lábio é um tálamo de amor!
(Do "0 Jornal", 16-12-62, Manaus, in
"Velhos Tempos", de André Jobim, cit.
rev. "Vitória Ré¬gia", n.° 1, out., 1931).
A F I N I D A D E S
Todo mundo tem na vida o seu poeta,
cujos versos tanto guardam afinidades c
om os gostos da sua alma de esteta,
vibrando-lhe todas sensibilidades. . .
Nosso romance de amor e a própria trama
da existência, estão neles retratadas:
as mesmas quimeras doces de quem ama,
as desilusões das que não foram amadas. . .
Os motivos de beleza e de estesia
que nos deslumbram os sentidos de poesia,
cies também não nos deixam de entrever. . .
E quando o espírito está desenganado,
eles são empola d'óleo canforado
que nos alenta de novo a reviver. . .
Página publicada em novembro de 2020
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