Fonte: www.convivergeriatrico.com.br
MOISÉS LINDOSO
(1922-2008)
Padre MOISÉS Bernardino LINDOSO, nascido em Itapinima, município de Manicoré, Amazonas, em 8 de março de 1922. Estudou as primeiras letras rio seu município natal e fez o curso secundário no então Ginásio D. Pedro II, em Manaus, e, em 1949 ingressou no Seminário de São José desta cidade. Fez o Curso de Filosofia e o 1° ano de Teologia em Fortaleza, tendo completado os estudos eclesiásticos em Roma. Ordenou-se em março de 1956, na Catedral de Manaus. Foi professor do SENAC, colaborou com o SESC, foi capelão da Casa da Criança e Assistente da Joc em Manaus, sendo atualmente Assistente Regional da Joc (setor Norte) em Belém, Pará. Tem publicado um livro de poemas: PLENITUDE, — Sérgio Cardoso & Cia. Ltda. — 1961.)
POÉTICA
Quero meus versos puros talhados
nas carnes alvas do luar
finos, breves, estilizados
e mais a harmonia do mar.
Quero meus versos como sons claros
dos cítaredos nas frondes altas
gotas do belo, cândidos, raros
e mais o sacral das minhas oblatas.
Quero meus versos bagas de orvalho
iluminados, sol do verão
essência viva, bater do malho
louvor perene à criação.
Quero meus versos águas cantantes
cirandas soltas nas noites claras
plenitude dos meus instantes
felicidade, alegria rara.
Quero meus versos canções perdidas
de pastoreies em altos montes,
palavra-sangue de tantas vidas
e mais a harmonia das fontes.
Quero meu verso vergo seguro
forma, linguagem fina
sabor, fruto maduro
e mais a harmonia divina.
(Extraído de A NOVÍSSIMA POESIA BRASILEIRA. Seleção de Walmir Ayala. Rio de Janeiro: 1962 (Série Cadernos Brasileiros, 2)
CANTATA DE AMOR
Os segadores chegaram, manhã cedo
E ceifaram todo o trigal maduro, louro de sol,
Aljofrado, ainda, de pérolas de orvalho.
As calhandras, assustadas, soltaram o seu canto forte
Como trombetas de prata anunciando a vinda do Rei...
Os vindimadores vieram com cestos de feno,
Cheirando a frumento seco e colheram
Os cachos vermelhos, polpudos e doces como bagas
[de mel.
No campo vazio e triste, só ficaram espigas murchas.
Pendendo das hastes frágeis...
No vinhedo só ficaram as gavinhas retorcidas
como gestos de desespero e os frutos podres por terra
Depois da colheita farta e bela
O Senhor da vindima veio medir os alqueires.
Todos se reuniram para a grande festa:
E houve danças a passos leves,
Ao som de frautas, como tarantelas de plumas,
Madrigais alegres, romanceados,
Cantos bizarros.
[Plenitude /1961)
CÂNTICO DO VENTO
O vento iluminado enchia as paragens
inabitadas na alvorada cristalina
do primeiro dia...
Oh! Lux Beatíssima que comunicas
ao mais íntimo das coisas, a unção
transfiguradora da criação!
Oh! Lux Beatíssima!
Dom incriado do Mistério, boiando
sobre as águas, no momento em que a Virtude
criadora se exprimiu no poema iluminado
das estrelas, salpicadas no espaço azul.
Expiração única e permanente do Mistério à Voz,
da Voz ao Mistério. Luz suave, geradora das manhãs
festivas, das tardes estivais em arrebóis indeléveis,
que agasalham inspirações de amor e de ternura, nas
vagas horas quietas e plenas. Claridade leve que abriste
os botões primeiros da Primavera primeira e floriste
a face árida da terra primitiva, no instante criador.
Oh! Lux Beatíssima!. Que transfiguraste o limo e o
[tornaste
para sempre semelhante ao Mistério. (Sopro fecundador
[que
trouxeste o Mistério ao homem e o homem ao Mistério,
na união eterna do Infinito ao finito, do Mistério ao
nada, do nada ao Mistério, pela operação inescrutável
[e pura
do Amor, fecundando a virgindade intangível, para a
comunicação do Mistério, pela Voz subsistente
reveladora do sagrado
convívio.
[Plenitude /1961)
(Extraídos de ASSIS BRASIL. A Poesia Amazonense no Século XX. Rio de Janeiro: FBN/Imago/ UMC, 1998]
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