Fonte: http://praler.org/
MILTON HATOUN
Milton Assi Hatoum nasceu em Manaus em 19 de agosto de 1952.Na cidade natal morou até 1967. Mudou-se nesse ano para Brasília e, em1970, para São Paulo, onde se formou em Arquitetura na USP. De volta aManaus, lecionou Francês e Literatura na Universidade Federal do Amazo-nas. Atualmente reside em São Paulo. Antes de se tornar o famoso romancista de Relato de um certo Oriente (1989), Dois irmãos (2000), com os quais ganhou o Prêmio Jabuti e
Cinzas do norte (2005), publicou, em 1979,o livro Amazonas – palavras e imagens de um rio entre ruínas, que se constitui de poemas e crônicas feitos sobre fotografias.
As portas do rio foram abertas
e vazaram peixes, caboclos, ubás.
Remar tornou-se verbo estático.
O tempo ancorou no raso
E o verde se decifrou
( Amazonas... )
O porão de um barco tem suas redes,
como o cemitério seus mortos.
As redes respiram um sono
como o rio respira seus mistérios.
Sono de terceira classe, sobre o aquático
e não dormitar à flor da terra, sono jazigo, mármore.
(Ibidem)
Entre cemitério e última classe
há uma diferença motriz:
um é plano jazigo e só gira
com todos os vivos da Terra e suas tumbas.
Enquanto o porão, com seu espaço casulo, gira
no ritmo da Terra e, ainda, com a fluência da água.
Porão e túmulo jamais serão um único frasco.
O porão poderá ser tumulto
ou redoma de ossos falatórios.
Redoma, lugar hemisfério
onde se enxerga fora – longe do leme – o celeste.
Ou lugar que desfia, tecendo ao inverso,
destelhando o sono do homem
que já córrego, não mais será mistério.
(Ibidem)
Página preparada por Maria da Graça Miranda da Silva,
publicada em novembro de 2012
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