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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POESIA AMAZONENSE

 

MAX CARPHENTIER

 

Max Carphentier Luís da Costa, nasceu em Manaus a 29 de abril de 1945. Advogado, bancário e escritor, é membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, da Academia Amazonense de Letras, do Clube da Madrugada e da União Brasileira de Escritores, do Amazonas. Tem sangue e tradição de poeta, herdados naturalmente de Hemetério Cabrinha, seu avô, um dos autores a espera de estudos. 

Seu primeiro livro foi " Quarta Esfera ", em 1975, poesia. Premiado, tem outros títulos de poesia, conto, romance e discursos acadêmicos em cuja prosa faz poesia com primoroso sentimento espiritualista. 

O Sermão da Selva " foi publicado em 1ª edição em 1979, e é o segundo livro do autor, e em 2ª edição em 1982. A apresentação original é do professor Arthur Cézar Ferreira Reis. A obra inaugura, para o autor, a concretização da linguagem espiritualista com a qual vem enveredando insistentemente na literatura amazonense, mas junta como pano de fundo a exaltação a natureza amazônica. Canta a terra, o conjunto de belezas. Canta o Paraíso. 

Fonte da biografia: http://www.bv.am.gov.br/portal/conteudo/serie_memoria/61_literatura.php

 

CARPHENTIER, MaxA Palavra de Tudo.  Manaus: Sejamos Luz, 2017.  139 p.  ilus. Capa e projeto gráfico:Lo Ammi Santros.Prefáci: Marcos Frederico Kruger.   ISBN 978-85-92738-06-8    Ex. bibl. Antonio Miranda

 

                VOLÚPIAS DA PANELA

 

— Nunca me vejam fria, eu sou mais quente

do que o fogo que amo e que me cumpre.

Panela sou, a dama da cozinha,

a que vive feliz do amor fervente

que exulta em carnes, vegetais, aromas.

 

Vinde até mim, espigas desterradas
do campo em que sonhastes em ser só pão:
vos tornarei delícias numerosas
de açúcar e sal em vestes vaporosas,
para a celebração da mesa farta.

 

Vinde até mim, ó carnes desgarradas
nas feiras, vós de guelras ou de patas,
que eu elevarei vosso martírio
em dádivas cheirosas para a vida,

a terra e o céu em caldeiradas lindas!

 

Vinde até mim, ó camarões aflitos,

que vos repousarei em iguarias.

Ó ostras talvez grávidas de pérolas,

eu tenho cochas para as vossas conchas!

Lulas e polvos, provisões do mar,

mostrai em mim que sois bênçãos do abismo.

 

Alegrai-vos, tubérculos sepultos,

porque em sopa e pudim vos ressuscito!

Grãos que dançais nos campos, derramai-vos

em mim que sou feliz de oferecer-vos

a transpirar canções que ouvis dos pássaros.

 

De alumínio ou de barro, a minha tampa
é cúpula que guarda e favorece
graças da flora e fauna e do trabalho
com que a Providência em meu destino
cumpre a misericórdia do pão nosso.

 

 

 

MEMÓRIAS DE UMA ROSA

 

— Como Rosa que sou, mulher do Lírio,
decido como quero a cor do meu vestido,
nos dias em que sou oferta e símbolo,
nos dias em que só minha presença pode
dizer do evento a síntese impossível.
Sou mais cor do que aroma na memória
minha e dos que diante de mim se deram
ao gesto de ofertar-me, à unção de receber-me.

 

Eu de amarelo, lembro de uma festa

em que me depuseram entre os seios da amada,

e ouvi que um coração bate um pouquinho mais

por um amor que chega do que por um que parte

Um frémito inventei de tal maneira,

que no momento aéreo mais feliz das taças

uma gota caiu sobre meus lábios-pétalas,
e bêbada acordei entre os lençóis da noiva.

 

Recordo-me de branco sobre o túmulo
de um pianista. A mão que me ofertara
recomendou-me lágrimas por ele.
 E derramei-me em pétalas nas sombras
até o corpo que encarnara músicas:
eterno dom, vibrava ainda uma valsa
entre os dedos parados. Quase danço
algo pleno de vida em plena morte.

 

Vesti-me de vermelho em tarde de Sevilha
e fui rodar nas mãos da musa do toureiro,
eu que sempre conforto o sangue das arenas.
Trompetes porfiaram anunciando a hora
em que trajes de luzes vestem a morte. A espada
nesse dia rendeu-se para um chifre. A morte
levou-me soluçante, oferta intercessora,
do olhar alto da moça ao olhar baixo da Virgem.

 

Resumo-me na flora: estrela vegetal.
Defino-me no altar: flor do Cordeiro,
além de terço universal dos santos.
Beijos na dor e palmas na alegria,

intérprete da alma e da matéria,

tanto digo de Deus quanto do homem.

E vivo de morrer a cada instante

que me arranca de mim para cumprir-me.

 

CARPHENTIER, MaxTiara do verde amor. Tríplice coroa de sonetos.  Manaus:  SCA/ Edições Governo do Estado, 1988.  130 p.  14,5x21 cm.   Apresentação: Antonio Carlos Vilaça.  Capa e ilustrações de Van Pereira.  Texto e ilustrações impressos na cor verde.  Col. A.M. (EA)

 

DA MANDIOCA

Em nós, de amor maior, canta a floresta,
se ninhos sob a terra há desse alado
tubérculo que ama e no chão reina,
e reina mais se nos acode louro,
sumo e chibé da fraternal farinha.
Esse amor de raiz que nos sugere
vinho na cuia e caldeirada linda
não morre nunca, é selva renascendo
em cada folha que transforma a luz.
É a herança de inverno que te entrego,
roupa molhada de suor do céu,
pela chuva que passa, e volta e vem
    molhar o corpo de Mani brotando
    como o rosto de um círio se elevando

 

A COROAÇÃO DA ANUNCIAÇÃO

X

Fontes de vida que os vão salvando,
as canoas contentes de verdura
desabrocham no cais da praia dura,
vindas da selva, a selva revelando.
Vêm por elas paneiros abraçados,
espigas claras, fachos contra o escuro,
ramos de frutas, lendas dos roçados
inda com a voz e a cor do luar puro.
Conservai-vos assim, canoas plenas,
distribuindo o verde amor do chão,
tal como a fé de um grande coração
reparte sonhos, não se rende às penas.
    E seja forte como as vossas quilhas
    o amor sozinho como o são as ilhas.

 

CARPHENTIER, MaxQuarta esfera. Manaus: Casa Editora Madrugada, 1975.  143 p.   14,5x21 cm.  Menção honrosa no Concurso Prêmio Estado do Amazonas 1968.  Capa: Aluísio Sampaio.  Ilustrações: CARPHENTIER, Max.  Quarta esfera. Manaus: Casa Editora Madrugada, 1975.  143 p.   14,5x21 cm.  Ilustrações: Van Pereira . J. Maciel e Afrânio Castro.  Retrato do autor: bico de pena de J. Maciel.  Col. A.M. (EA)

 

22

Nudez de prece: coito
de áspide na pedra
          faturada –

o quartzo não geme, colhe
a pústula da sombra, pelo cetro
da nádega mais luz do que
          rubéola.

(Esta é a terceira vez de os trópicos
          corrigirem o sorriso
de que morre: tudo pronto
para nascer do hormônio
          outra loucura).

Adeus, força, esmeralda,
parto no carro de um suspiro:
          breve,
o veneno que mata vence a
          morte.

 

CARPENTHIER, Max.  Orfeu do Nazareno.  Manaus, AM: Imprensa Oficial, 1983.  95 p.  14,5x21,5 cm.  Introdução: Jean-Leon Jaurés.   Capa: Jair Catanhede.  Ex. Biblioteca Nacional de Brasília, doação da família de Francisco Vasconcelos. 

 

O SENHOR É INVOCADO NO DELTA DO PARNAÍBA

 

I

 

O Parnaíba abre no oceano um leque de cidades,

aquática hipotenusa entre o deserto e a selva.

Esse rio, que já foi o Grande dos Tapuias,

tece o cocar de praias do seu delta

e no talvegue acolhe esses vestidos

que as dunas secam no varal dos ventos.

Esse é o rio do gado olhando as ondas

como capim de sal crescerem e se acabarem

próximo de onde o arroz levanta o ouro

de relâmpagos verdes sobre a terra.

Aqui também há o homem e a nova lei

assegurando o sínodo das garças,

a permanência da vida em suas mínimas ternuras,

do concerto das rãs à ronda dos jacus.

 

 

II

 

Esse é o rio de "Parnaíba, Norte do Brasil"

e sua praça colonial de mercadores de charque,

e da Tutóia esquina dos alíseos,

nau fenícia que ao mar fende com as suas

bujarronas palmeiras enfunadas.

Esse é o delta do mestre Egeu, buril do sertão,

com suas fortes madonas da caatinga

talhadas na madeira; o delta da Francisca

da Conceição, mestra na conceição

de anjos e bichos de igual barro, oleira

de vocação glorificada entre as paredes de taipa.

 

 

III

 

Guardai do mal, Senhor, essas águas e terras, e animais e pescadores e caminhos

que ainda têm o ritmo próprio das coisas que evoluem em pa/j

Inspirai as mãos de Egeu e de Francisca

e mais as mãos rendeiras da lagoa

do Sobradinho, que entretecem os fios

dessa carícia plena de humildade.

Assim também, Senhor, as bordadeiras da ilha

de Santa Isabel, essas que sabem

converter o sisal nos ideogramas

das toalhas oradas pelas mãos

Nesse delta, Senhor, o teu cajado

reúne os homens, cereais e quilhas,

e o rio, que o vento lava e as ilhas tange.

 

 

CARPHENTIER, Max.  O Sermão da Selva.  Manaus, AM: Edição da UBEAM, 1979.  56 p.  ilus.  15,5x22  cm. Ilustrações e capa de Jorge Palheta.  "Editado sob os auspícios da União Brasileira de Escritores do Amazonas."  Ex. Biblioteca Nacional de Brasília, doação da família de Francisco Vasconcelos.

 

         (fragmentos)

 

         E a selva terá sempre, contra a fome,
         gesto de fruta-pão e, contra o medo,
         as mãos cheias de amparo das palmeiras.
         E a selva manterá a íntima castanha,
         essa cabocla pérola protéica
         presa nas ostras rudes dos ouriços;
         assim também o guaraná velando,
         na sua vigília de rubis calados,
         os dons da aurora e os cálices do inverno.

         Selva de cujos vasos o branco sangue de látex
         é derramado por nós pra remissão do homem.
         Esse homem que é índio e quer o índio
         a salvo da asfaltada garra urbana;
         índio senhor, não inquilino dos remansos.
         Índio livre porque celebra o voo e sua mensagem;
         índio lembrando a hora de voltar
         ao ritmo biológico, a hora de acabar
         com essa pressa cardíaca das ruas.

(...)


Página publicada em fevereiro de 2012; ampliada em abril de 2017. Ampliada em nov. 2018.

 

 

 

 
 
 
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