Fonte: catadordepapeis.blogspot.com.br
MAVIGNIER DE CASTRO
Mavignier de Castro (1895 - 19721 ) foi um poeta, advogado e administrador público brasileiro. Escreveu Djalma Batista na segunda edição do livro Amazônia Panteísta, de Mavignier de Castro: "(...) O autor estudou humanidades em Paris e viveu a juventude na Europa. Voltou depois para o Amazonas (...)". Tendo exercido o ofício de jornalista quando jovem, ainda de acordo com Djalma Batista, "Viveu mais de vinte anos no interior, como promotor em Tefé e outras Comarcas, e foi prefeito de Moura (...)" (Apresentação da Obra. in Apresentação de CASTRO, 1994).
Publicou sua obra poética em jornais e revistas, à exceção de um opúsculo sobre história de Manaus e do citado livro sobre amazonologia, que foram publicados durante a vida do escritor. Seu terceiro e último livro foi lançado postumamente, em 1999.
Publicou três livros:
Síntese histórica e sentimental da evolução de Manaus (1948 [2]; 2ª. ed. 1968
Amazônia panteísta: cenas e cenários da grande hiléia (1958 [4]; 2ª. ed. 1994 [5]
Luar amazônico (1999 [6])
Luar Amazônico
Verão, Rio em deflúvio. A lua cheia
alonga perspectivas pela mata;
só a fauna da noite ali vagueia
à sombra errante que o luar dilata...
Álgido, estreito igarapé serpeia,
Qual sinuosa lâmina de prata...
Que melopeia o urutauí flauteia
Na solidão lunar da terra grata!
Amanhece; mas imitando um rito
Sobre a mata flutua um véu de neve...
E o sol – pátena de ouro do infinito.
Espera que no altar da selva nua,
O Sacerdote imaterial eleve
A imagem eucarística da lua!
(Luar Amazônico)
Alma de marujo
Amo, às vezes, fitar como os marujos
do velho cais, ao céu crepuscular,
o perfil oscilante dos saveiros
e o adeus das velas para o meu olhar.
Ao contato dos barcos forasteiros,
Sinto em mim o desejo singular
De correr mundo como os marinheiros,
De ser marujo dominando o mar...
É que, de certo, em épocas remotas,
As minhas ilusões foram gaivotas
No anil dos mares, ao rugir do Sul...
E, alé, seguiram – desgraçadas delas! –
o roteiro de sol das caravelas
talvez perdidas nesse abismo azul!...
(ibidem)
MELLO, Anisio. Lira amazônica. Antologia. São Paulo: Edição do Correio do Norte, 1965. 294 p. 12,5x18 cm. Ex. Biblioteca Nacional de Brasília, doação da família de Francisco Vasconcelos.
M A N A U S
Na margem onde agora, um cais amarra
grandes naves, calando trinta pés,
outrora, o forte São João da Barra
dispersou as igaras dos Barés.
Logo um aldeamento — a Historia narra
cortando a selva, drena igarapés,
em mil setecentos foi bizarra
Manaus, arruando choças e quartéis...
Capital da Província, ei-la cidade;
transformando em modernos artifícios
seu colonial aspecto de outra idade...
Hoje nada relembra a velha taba,
Mas, vive no esplendor dos edifícios
a glória perenal de AJURICABA!...
O C A C T O
Quer no areal deserto, o caule alçando a custo,
ou num parque, soberbo, à margem da alameda,
o cacto não ostenta a folhagem do arbusto,
mas entre espinhos orna a floração mais leda.
Glabro, e palmando os nós, protubera-se em busto,
volteia-se de anéis quando eriça a vereda,
e ao roble pertinaz, no ínvio sertão adusto,
talvez sua existência unicamente exceda.
Perpassam levemente as brisas vesperais,
a esparzir o aroma e o pólen de outras flores,
exuberante, o cacto irrompe dos sarçais,
e túmido, fecundo, o filamento hirsuto,
reponta-lhe do hastil, numa orgia de olores,
escarlate, sanguínea, a carnação de um fruto!
Página ampliada em novembro de 2020
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