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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

MADY B. BENZECRY

 

A poeta Mady Benoliel Benzecry, ou Mady Benzecry, filha de família tradicional do Amazonas, deixou pouca informação bigráfica. Sabe-se que nasceu em Manaus, no dia 19 de fevereiro de 1933 e que mudou-se para o Rio de Janeiro, onde dedicou-se as artes plásticas. Casou-se com o entalhador pernambucano Eugênio Carlos Batista, mais conhecido como Batista. Mady fez diversas exposições de seu trabalho ao lado do marido e publicou alguns poemas no jornais de Manaus.

Contribuiu para a literatura amazonense ao publicar dois livros de poesia: De Todos os Crepúsculos (1964) e Sarandalhas (1967), ambos ilustrados pelo artista amazonense Moacir Andrade. Dois de seus poemas, Às dez horas de uma noite triste e Procissão do tempo, foram publicados em 2006 na Antologia Poesia e Poetas do Amazonas. De acordo com o jornal local Amazonas em Tempo (03/06/2004), a carreira de Mady como poeta não foi bem sucedida devido ao encalhe de seu segundo livro nas prateleiras, o que a obrigou a recolhê-los.  Fonte: http://www.sumauma.net  

 

BENZECRY, Mady B.   Sarandalhas (Poemas).  Rio de Janeiro: Editôra Pongetti, 1967.  122 p.  14x18,5 cm. Ilustações de Moacir Andrade.  Ex. Biblioteca Nacional de Brasília, doação da família de Francisco Vasconcelos. 

 "Sarandalhas" mostram, na singeleza de sua concepção, que a poetis Mady B. Benzecry vem continuando seu caminho, conforme previu Paschoal Carlos Magno ao anunciar "seus altos voos". Não é difícil prever que ela não se deterá no sucesso atual e nos dará livros ainda mais realizados do que "Sarandalhas", onde reuniu suas recordações de infância.  JORGE AMADO

 

                   E MAIS CLAMOU O SENHOR:

10 – Preciso de um escrivão.
Que seja homem de letras
além de ser gente "bem".
Alguém que esteja por dentro
do "modus vivendi" do povo,
que siga "Os pastores da noite",

que faça farra com Oxum,
que pegue santo em batuques,
que tome pinga com Ogum.

11. Alguém que abrande Iemanjá
em noites de tempestades,
que vibre com atabaques,
que farte a mesa de Exu,
que seja Ogã de terreiro
no reino dos candomblés.
Um escrivão? Ah! Já sei...

SARAVÁ JORGE AMADO!
SARAVÁ MEU IRMÃO!

 

                   E PROSSEGUIU O SENHOR:

12 — Para cevar este povo,
não pode ser como o "maná",
envio minha preta Eva
(não Eva mulher de Adão,
mas Eva mãe de um negão
mais forte que Oxumaré)
Chamei-a Eva porque
seu leite materno é de coco,
seu sangue, azeite dendê.

13 — Que chame-se "Estrela do Mar"
à sua casa de pasto
e seja Maria São Pedro,
(que deve ser qualquer coisa
pra Pedro meu bom porteiro)
aquela que deve ocupar
da minha Eva o lugar.

14 — E mandem-me a preta de volta,
meus anjos a irão buscar
pois já no céu ninguém passa
sem seu efun-oguedê,
quibebe,  acarajé,
efó, caruru, abará.

Perdoa, minha preta velha,
tão boa!  Mas teu lugar,
não é na terra é no céu,
pra minha mesa fartar.

                                     

                   NEGA CHARUTO

Carregando a sua lata,
ia a nega Petronila
(Charuto na intimidade)
e a sua eterna mania
era andar de porta em porta
pedindo lata vazia:
Lata de querosene,
lata de azeite doce,
lata de leite Ninho,
mas qualquer lata servia
— se lata — pra Petronila.

O que é que ela fazia
com tanta lata? — Dizia:
Mesa, cadeira, pote,
telha, prato, panela,
e até pra cortina servia
tapando tanto buraco
que havia lá na janela
de seu teimoso barraco.

Petronila!  Petronila!
Pra que foste te fiar
em homem, se eras virgem?
"Ah! Mas foi bom, que me deram
um filho pra eu cria,
que quando dotô vai me dá
um camburão lá da usina
do seu Isaac Sabá,
e tanta lata vazia!
Meu Deus! Nem quero pensa..."

E ainda pra completar
quando Toninho cresceu,
Petronila ando pedindo
além da lata vazia
crianças para criar,
"pois Deus não quis me manda
mais outro..."

                   Petronila!  Petronila!
De lata em lata, um dia,
vais ter uma lataria
es ó de adoção farás
uma ou mais população!

 

                  RECEITA DE TACACÁ

                            (ao poeta Luis Bacelar)

Ponha-se num recipiente
(ou tijela de qualquer cor)
uma pitada de sal,
(de cozinha, naturalmente).
Derrame-se dentro dela
1 litro de água fervente,
e quebre-se duas gemas
(só serve da amarelinha,
contendo colesterol)
nem sei onde isso li,
mas é importante que sejam
para imitar tucupi.

Numa panela à patê,
um bom mingau de maizena,
(desses que o bebê toma
que depois de bem cozido,
fica com jeito de goma)
adicione-se o conteúdo
da panela na tijela
e deixe-se isso de lado.

Camarão não é problema,
(não é lagosta nem nada...)
mas no sul só tem dos frescos
(camarões naturalmente.)
Frite-se 6 do maiores,
em azeite de dendê,
(na cidade o Lidador
tem sempre para vender,
embora um pouco azedado
este óleo engarrafado.)

Jambú às vezes se encontra
em banca de macumbeira,
(mas só em dia de feira
que não calhe em dia santo)
e o mais certo, portanto,
é folha de bananeira,
recortada como bola
com tampa de coca-cola.

Pimenta do sul não arde,
mas pegue-se o dedo mindinho
de uma garota dourada
pelo sol do Castelinho,
e mergulhe-se na panela:
É química, meu amigo,
se não explodir, queima e coça,
mais que pimenta da roça,
que é pimenta picante,
mas não tem graça nem boça..

Bacellar, poeta amigo,
por favor não leve a mal,
sua receita é pru norte,
e a minha pro pessoal
que não pode vir aqui
buscar nosso tucupi,
que não pode vir de lá
tomar nosso tacacá...


CIDADE FLUTUANTE

          (A Drummond de Andrade

Barracos de umbaúba,
soalhos de acapú,
esteios de acaricoara,
telhados de ubuçú.

Cortinas de céus bordados,
tapetes de muriré,
nimbados de espuma afloram,
serão frotas de Noé?

No manto líquido negro,
pardo, mesclado, barrento,
vomitam estampidos horrendos
dragões com asas de vento

 e da garganta da noite
escapam berros medonhos,
elétricas espadanas
serão Dante, os demônios?

 Barracos de umbaúba,
soalhos de acapu,
Veneza não tem teu verde,
nem o canto do sanhaçu!

Mulheres pantagruélicas,
misto de peixe e de gente
que grega mitologia
tem serva mais bela e ardente?

Caboclo forte e sem medo
de guerras, de vendaval,
que antiga couraça é mais rija
que a tua, de animal?

O teu corcel é canoa,
com rédeas de pixiúba,
teu capacete de aço,
é chapéu de carnaúba

 E tu menino macrôptero,
mais gordo que um matrinchão
quantas estrelas tu fisgas
nas pontas do teu arpão?

Barracos de umbaúba,
soalhos de acapu,
Veneza não tem teu verde,
nem o canto o irapurú

Veneza não tem palmeiras,
Veneza não tem teu azul,
Veneza não tem tua gente
nem o canto do Sanhaçu!

 

Página publicada em abril de 2017
        



 
 
 
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