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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POETAS DO AMAZONAS

Coordenação: Donaldo Mello  e  Inês Sarmet

Contato: poesiaamazonas@gmail.com

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LUIZ  RUAS

 

 

 

Inês Sarmet

s/foto do acervo do escritor Francisco Vasconcelos 

 

 

Luiz Augusto de Lima Ruas nasceu em Manaus, no dia 28 de novem­bro de 1931. Optando pela vida eclesiástica, fez o curso de Filosofia no Seminário Metropolitano de Fortaleza e de Teologia no Rio de Janeiro, no Seminário São José. Jornalista dos mais talentosos, exerceu o magistério em escolas de nível médio e na Universidade Federal do Amazonas. Um dos mais ativos membros do Clube da Madrugada, foi vítima de perseguições políticas por causa de suas posições progressistas, após a implantação da ditadura militar, em 1964. Faleceu em Manaus no dia 1.° de abril de 2000. Obra poética: Aparição do clown (Manaus, 1958) e Poemeu (Manaus, 1985)”.

(dados biográficos constantes em Poesia e Poetas do Amazonas, antologia organizada por Tenório Telles e Marco Frederico Krüger, publicada pela Editora Valer, em 2006)

 

 

SONETO

 

És desejo, talvez, ou limpo canto

Que se põe como branca toalha sobre

A descampada e vaga solidão

Do vasto campo azul deste meu canto.

 

És a fuga, talvez, de fontes puras

Que se lançam medrosas e perdidas

Para o mar tenebroso, inavegável,

De onde chego no canto feito nave.

 

És a rosa. Ou quem sabe se és a sombra

Das estrelas morridas de não ser

Mais que luz, mais que brilho solitário?

 

Ou te pões, simplesmente, como a nota

Que fugiu para sempre da sonata

Imatura que eu compus de brilhos falsos?

 

 

****

 

SONETO

 

Estas aves vêm sempre, ao fim da tarde,

Descansar seus remígios agoirentos

No pomar de onde colho doces frutos

Com que faço meus vinhos suculentos.

 

Elas vêm de bem longe. Me olham sempre

Com desdém. E nas asas trazem ventos

Que uma vez - já faz tempo - naufragaram

Minha nave que nautas desatentos

 

Dirigiam. E estas aves que espiam

Lá de cima das árvores crescidas

No pomar irrigado de águas verdes

 

Bem conhecem meu fim, vencido nauta

Pus-me, agora, a plantar frondosas copas

Que sugerem veleiros em meu canto.

 

 

 

I

 

Faz mistério palhaço

e ri teu riso esbandalhado

gargalha palhaço e faz sofrer

os que contigo riem e sofrem

e vivem.

 

.........................................

 

ninguém entende tua vida mascarado

que se esconde atrás de cortina

das pinturas e das vestes.

onde está tua face palhaço onde?

 

.........................................

 

a estrela pousou - sombra de sonho em seu ombro

- venho do céu vi o mundo nascer. Sou como tu eterna.

sou a mais antiga estrela de todas as estrelas.

dou-te-todo o meu brilho se disseres

porque ris tanto se és tão triste assim.

 

.........................................

 

II

 

Havia inocência e terror, pureza e crime

em teus olhos abertos para o mundo.

luzes

as luzes da ribalta não revelam o que não

dizem também

nem as cores nem os saltos nem as

cambalhotas

que fazes no trapézio longínquo.

Palhaço. Quem já viu tua face, tua única face?

aquela que não é partida

aquela que não é pintada?

Quem já beijou tua boca verdadeira?

as bailarinas beijam a boca mentirosa

a que conta a que ri a que chora,

mas ninguém beijará o teu silêncio.

 

(Aparição do Clown) 

 

 

 

APOCALIPSE

 

 

Os meteoros ameaçam nossos jardins.

 

É hora de decolarmos

Para a infinitude do silêncio dilatado

Com nossas asas de sonho

Antes que a terra exploda

E se escancare como a fauce

De uma desmedida flor carnívora

Faminta de nossos corpos.

 

Não mais teremos tempo

De colher o fruto do nosso canto

 

Os meteoros ameaçam nossos campos.

 

Os mares cobrirão nossas faces;

Os vulcões ressecarão nossos ossos;

As mãos, os ventres, os sexos

Murcharão sob o fogo das estrelas

Que cairão sobre vales e colinas.

 

Os meteoros ameaçam nossos rios.

 

É tempo de partirmos para o espanto desmedido.

Do que fomos, fizemos ou cantamos,

Ficará, apenas, o invisível traço

Do vôo da ave indivisível

Que se consumiu no espaço.

 

(Poemeu)

 

 

SONETOS AUTOBIOGRÁFICOS

 

VIII

 

O cais está deserto. A noite é vasta.

O vento sopra fino. As águas negras

Paradas se repousam das fadigas

De naves que partiram soluçantes.

 

As luzes tremeluzem cochilantes

Dos negros postes magros penduradas.

Do guarda, os passos lerdos, sonolentos,

Acordam surdos ecos nas distâncias.

 

E a sombra do seu corpo se projeta

No longo tombadilho do silêncio

Escura e densa como ponte armada

 

Do cais para o silêncio da água negra,

Do fim para o começo de outro dia

Do pranto de quem fica ao de quem parte.

 

                                                  (Poemeu) 

 

 

Inês Sarmet s/fotos do arquivo do acervo do escritor Francisco Vasconcelos:

 

 

1 Luis Maximino de Miranda Correia; 2 Pe. Ruas; 3 Francisco Vasconcelos; 4 Livreiro Brito; 5 Alencar e Silva;

6 Elson Farias; 7 Galdino Alencar; 8 Moacirzinho; 9 Marcos Krüger;10 Aurélio Michiles;

11 Enéas de Medeiros Vale

 

 

1 Marcio Souza; 2 Luis Maximino de Miranda Correia;3 Luiz Ruas; 4 Livreiro Brito;

5 Galdino Alencar; 6 Luiz Bacellar; 7 Elson Farias

 

 

***

 

O (MEU) SENTIR DOS OUTROS

 

SUBSÍDIOS DE MARINHAS PARA O POETA SEBASTIÃO NORÕES

 

 

O relógio se fixou no mar.

Na praia sou apenas permanência.

E crio na minha estática sonâmbula

Momentos do mar silêncio.

 

Tudo é muita sugestão.

Estas palavras pescadas

Nestas marinhas andadas

Ao longo do mar sertão.

A praia não me conduz

Esta praia que é agora.

 

É preciso muito mar

Para poder captar

A hora certa do sou.

 

As ondas despertam a praia

E jogam na permanência

Restos do mar que o relógio

Há muito guardou fixados:

São búzios, são conchas róseas,

Azuis e brancos de infância,

São longas jornadas findas

Numa qualquer solidão.

 

Com os restos do mar jogados

Na praia a custo libertos

Por este ponteiro-anzol

É que fabrico no verbo

O meu veleiro de mito

Que me transforma em retorno

Pelo mar de um verde ontem

De onde eu vim flútuo.

 

É preciso muito sangue

Muita palavra translúcida

E muito só sem mesura

Não pra fazer o veleiro

Mas pra repor tanto verde

Na aquarela tão estática

Da face da praia morta.

 

(Poemeu)

 

***

 

O PORTO É O RELÓGIO

O relógio está parado

Doce vestígio encalhado

Não marca o tempo de aqui.

Que o tempo já foi, já fui.

Nesta praia, apenas,

Sou:

 

Concha morta, azul vazio,

Róseo inútil,

Morto ser.

 

Mas quando sinto que o mar

- Ó esperança em azul -

Vem despertar esta praia,

Então, fabrico o meu barco

E parto - o porto é o relógio -

E volto pro mar fecundo

Eu, ressurgida criança,

Em palavras verde-azul.

 

(Poemeu)

 

 

 

 

 

RUAS, L(uiz).  Poemeu. Manaus, AM: Edições Puxirum, 1985.  94 p.  -14x21 cm. “Primeiro Prêmio de Poesia Governo do Estado do Amazonas conferido em 1970.  “ Luis Ruas “  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

CANTO MATINAL

 

Há sempre sóis miliágonos

Nessas manhãs furtacores.

Desejo imenso: ser chão

Germinando malmequeres.

Relincham éguas no cio

E o sol cravou-se nos olhos

Do cão que brinca entre flores.

 

Ah! Dálias desodoradas!

Estou livre! Uma pantera

Devorou minha certeza.

E esta luz, semente-luz,

Mal se esconde comprimida

Na carapaça de argila.

Este desejo me enrija.

 

Um canto milhões de pássaros

Se estilhaça em diamantes

Polidos, puros, brilhantes.

Ó lucilância de estradas!

São todos os vegetais

Incestos de luz e cor:

 

Rubi, topázio, esmeralda.

 

Nesta manhã furtacor

Multicor, infindacor,.

Quisera ser urzes bravas

Desses prados orvalhados

Que esperam fecundação.

Nesta manhã toda luz

Somente sou luz-manhã.

 

Há tanta vida no chão,

Há tanta vida no azul.

Em clorofila me banho

E me tomo vegetal.

No lugar do coração

Girando está loucamente

Rosavento um girassol.

 

A voz animal me comove.

Já não sou mais relação

De paralelas eternas.

Neste mundo natural

Tenho raízes — subsolo

Tenho tronco e fronde — solo

Sou deus fecundo de mundos.

 

Sei que não vou mais poder

Suportar a compressão

De tantos mundos querendo

Libertar-se delirantes

De tão pouca ontologia.

Como um fogo de artifício

Vai romper-se todo o ser.

 

E vou morrer de viver.

 

 

 




 

 

 
 
 
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