ISAAC RAMOS
Nasceu em Tabatinga-AM. Graduação em Letras (CEUA-UFMS). Especialização em Letras (UNESP-Assis), Mestrado e Doutorado em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa (USP). Professor da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT-), no campus de Alto Araguaia. Participou de diversos livros e revistas indexadas, com estudos críticos acerca das literaturas de língua portuguesa. Publicou os seguintes livros de poesia: Reflexões (1984), Astro por rastro (1988) e Festa de letras (1997).
RAMOS, Isaac. Teias e teares. Cuiabá, MT: Carlini & Cantato, 2014. 96 p.14x21 cm. Prefácio de Pires Laranjeira. Capa: Marcelo Cabral. ISBN 978-85-8009-101-4
CONCHAS DE SILÊNCIO
Eu me visto com conchas de silêncio
Solto um grito de verso
Que escorre
Nas areias do deserto...
O oásis me contagia de sinestesias.
DESEJOS
O poema empalma o pecado
E o que era suplício é agora desejado
A pena satisfaz a sina
E o que era seco passa a ser salivado
O veneno satisfaz a vontade
E o que era ínfimo agora é sublimado
Não me enterrem ao largo da poesia
Não me condenem
A uma estupidez eterna
Não me provoquem
Impossíveis diálogos
Prefiro ornar
O corpo alvo do poema
Cingindo nele ideias cortesãs.
Quero coroação em festa bacante
Quero brindar com desejos errantes
Assumir tolas inconsequências
Por beber vinho no desnudo corpo do poema
Quero lambuzar-me de versos tortos de sintaxe
Eriçar penugens dos impossíveis cantos
E nos encantos de cada palavra
Satisfazer-me com as nervuras do texto.
TINTAS
Tanto me tentas com tuas tintas
Que tuas tintas tanto me pintam
Tanto me pintas nas tuas linhas
Que tuas linhas tanto me rabiscam
Tanto rabiscas nas minhas páginas
Que minhas páginas tanto me tentam.,
Tintas, tentas, pintas, linhas.
Rabiscas os meus rascunhos
Que eu te passo a limpo.
MEMÓRIAS DE MENINO
I
Meus olhos de índio
Antropofagiam-se em luz
Solto um riso entardecido
Para um casal de tuiuiús
Empino pandorga
Com o fio
Da memória cacerense.
II
No azul do céu fisgado
Um insuspeito pacu
Revira os olhos
Para o almoço de domingo
Haverá
Farofa de banana
E um pote de doce de caju.
III
Pescador, pesca a dor do ribeirinho!
Pesca a esperança do menino
Que de si só tem couro e uma roupa de sol
Que veste toda a manhã.
IV
O Rio Paraguai põe chapéu de nuvem
Para não pegar insolação.
Página publicada em setembro de 2015
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