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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ISAAC RAMOS

 

 

Nasceu em Tabatinga-AM. Graduação em Letras (CEUA-UFMS). Especialização em Letras (UNESP-Assis), Mestrado e Doutorado em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa (USP). Professor da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT-), no campus de Alto Araguaia. Participou de diversos livros e revistas indexadas, com estudos críticos acerca das literaturas de língua portuguesa. Publicou os seguintes livros de poesia: Reflexões (1984), Astro por rastro (1988) e Festa de letras (1997).

 

RAMOS, Isaac.  Teias e teares. Cuiabá, MT: Carlini & Cantato, 2014.  96 p.14x21 cm.     Prefácio de Pires Laranjeira.  Capa: Marcelo Cabral.   ISBN 978-85-8009-101-4   

 

CONCHAS DE SILÊNCIO

 

Eu me visto com conchas de silêncio

Solto um grito de verso

Que escorre

Nas areias do deserto...

O oásis me contagia de sinestesias.

 

          DESEJOS

O poema empalma o pecado

E o que era suplício é agora desejado

A pena satisfaz a sina

E o que era seco passa a ser salivado

O veneno satisfaz a vontade

E o que era ínfimo agora é sublimado

 

Não me enterrem ao largo da poesia

Não me condenem

A uma estupidez eterna

Não me provoquem

Impossíveis diálogos

Prefiro ornar

O corpo alvo do poema

Cingindo nele ideias cortesãs.

 

Quero coroação em festa bacante

Quero brindar com desejos errantes

Assumir tolas inconsequências

Por beber vinho no desnudo corpo do poema

Quero lambuzar-me de versos tortos de sintaxe

Eriçar penugens dos impossíveis cantos

E nos encantos de cada palavra

Satisfazer-me com as nervuras do texto.

 

 

TINTAS

 

Tanto me tentas com tuas tintas

Que tuas tintas tanto me pintam

 

Tanto me pintas nas tuas linhas

Que tuas linhas tanto me rabiscam

Tanto rabiscas nas minhas páginas

Que minhas páginas tanto me tentam.,

 

Tintas, tentas, pintas, linhas.

Rabiscas os meus rascunhos

Que eu te passo a limpo.

 

 

MEMÓRIAS DE MENINO

 

I

 

Meus olhos de índio

Antropofagiam-se em luz

Solto um riso entardecido

Para um casal de tuiuiús

Empino pandorga

Com o fio

Da memória cacerense.

II

 

No azul do céu fisgado

Um insuspeito pacu

Revira os olhos

Para o almoço de domingo

Haverá

Farofa de banana

E um pote de doce de caju.

 

III

Pescador, pesca a dor do ribeirinho!

Pesca a esperança do menino

Que de si só tem couro e uma roupa de sol

Que veste toda a manhã.

 

IV

 

O Rio Paraguai põe chapéu de nuvem

Para não pegar insolação.

 

 

 

Página publicada em setembro de 2015


 

 

 
 
 
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