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Sobre Antonio Miranda
 
 


 
 

HENRIQUE JOÃO WILKENS

e

FRANCISCO VITRO JOSÉ DA SILVEIRA

A MUHRAIDA, primeiro poema sobre coisas Amazônicas e dois sonetos oferecidos a D. FRANCISCO REQUEÑA,  constituindo, estes, a primeira obra literária que aparece, em Português, no Amazonas.

A MUHRAIDA ou a Convenção e Reconstituição do GENTIO MUHRA, (I) poema heroico em seis cantos, composto por HENRIQUE JOÃO WILKENS. Este poema foi oferecido ao Exmo. Senhor D. ANTONIO JOSÉ DE OLIVEIRA, Bispo d´Eucarpia, coadjutor e Provsor do Arcebispo d´Évora, do Conseho de S. Majestade.

Os dois sonetos foram escritos por FRANCISCO VITRO DA SILVEIRA e lidos, pela primeira vez, em Tabatinga a 15 de novembro de 1783, em comemoração à chegada, depois de penosa viagem, acompanhado de sua esposa, D. Maria Luíza, de D. FRANCISCO REQUEÑA, comissário espanhol e Comandante da expedição, encarregada de estudar os limites entre Portugal e Espanha.

Esta obra encontra-se na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, incompleta. Há duas fotocópias da obra, mandadas tirar pelo professor Athur Cézar Ferreira Reis, podendo ser encontradas no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e na biblioteca particular do professor Mário Ypiranga Monteiro.

 

          A MUHRAIDA

                        Poema-heróico

                        CANTO I

                                1

        Canto o sucesso fausto inopinado,

Que as faces banha em lágrimas de gosto;
Depois de ver n´hum século passado
Correr só pranto em abatido rosto;
Canto o sucesso, que faz celebrado
Tudo o que a Providência tem disposto
Nos impensados meios admiráveis,
Que confirmam os fins enexcrutáveis.

        

CANTO II

                        1

        Do inverno na noite longa, e tenebrosa
Em nuvem densa envolto, que ameaça,
Além da obscuridade, ser chuvosa,
E a caminhante em dúvidas enlaça;
Temendo sem saber, se a enganosa
Vereda que então segue, nova traça
Aproximando-o vau certa e segura.

 

CANTO III

                        1

O Zefiro mais brando, que movendo
A flor mimosa, agalla lhe acrescentas,
Tão sereno não hé, nem vai fazendo
Efeito tão suave; assim violenta
Torrente das paixões já suspendendo,
As luzes da razão faz ser atenta
O anjo, quando se lata à formosura
Do Criador, criado, e criatura.

 

CANTO IV

                        1

Qual vento impetuoso, que arrancando
Do campo a flor, do bosque alto carvalho,
Sem resistência os leva, e abalando
Vai torres, e edifícios sem trabalho,
No trânsito violento não deixando
De estrada indícios, ou sinal de atalho,
Assim não de outra sorte irresistível
Fôrça acompanha a voz, efeito incrível.

 

CANTO V

                        1

        Oh tu, Supremo Autor da natureza!
Que fundas na equidade o teu juízo,
Protetor da inocência indefesa,
Que ao inseto não faltas com o preciso;
Oh tu! Que os corações, alma, e feresa
Ilustras e mitigas no conciso
Prescrito espaço, pondo os elementos
Do criado regulando os movimentos.

 

CANTO VI

                           1

Plantado pela mão do Onipotente
Na semente da fé, da graça o fruto
Dispõe, que da colheita a inocente
Primicida se lhe oferte, que o produto
Antecipado seja, e permanente
Padrão do seu domínio absoluto,
De altos desígnos seus, e de aliança
Disposição, motivo de esperança.

                (Publicado em Lisboa, no ano de 1819, pela Impressão Régia).

 

        SUNETO

Se para se cantar a erocidade
Apsunto nos dás, brilhante estrela,
Pequena já no luzimento
Torna de no ao, Imineo, Portento.

Resplandecem, acompanhão
Mais estrelas de candente porporim
Na flama decantados desse
Guyaquil mais exzaltados

Selehese com gosto duplicado
A vinda de Maria Luiza,
Que este orle piza.

Em mortal repita a
Portuguesa e espanhola gente
Viva Hespanhola e pequena no ossidente.

 

        SUNETO

Alcides Valeroso Triunfante
que vencendo consagros redimentos,
Pois justamente vencido, sem alentos,
Tevelo duminado e duminante

Vencido por aquela luz brilhante
que na lembrança cansasse tais tormentos
quantos sam de sua Graça os luzimentos
com que tem duminado o peito amante

Vencentes a Hydra feroz e venenosa
Esta, de Hercules, foi igual pruesa
E de toda ação mais decorosa

Mas hoje tudo rendes a beleza
dando-lhe com vontade de grandiosa
Por jubileos os triunfos desta empresa.

 

Extraído do livro

 

LINS, José dos Santos.  Seleta literária do Amazonas.  Prefácio de Arthur Cézar Ferreira Reis. (Com notas Biobliográficas).  Manaus, AM: Edições Governo do Estado do Amazonas, 1966 . 366p.   (Série Raimundo Monteiro, volume V) 14,5x20,5 cm.  Ex. Bibloteca Nacional de Brasília, doação da família de Francisco Vasconcelos.

 

 

Página publicada em abril de 2107


 
 
 
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