ERNESTO PENAFORT
Ernesto Penafort nasceu em Manaus, Amazonas, em 27 de março de 1936 e faleceu na mesma cidade em 3 de junho de 1992. Fez seus estudos em Manaus, formando-se em advocacia pela Faculdade de Direito do Amazonas. Era jornalista, poeta, contista. Morou 11 anos no Rio de Janeiro e só não se formou em Ciências Sociais pela Universidade do Brasil porque se desentendeu com um professor faltando um ano para concluir o curso. Foi redator da Rádio Nacional do Rio de Janeiro e da Folha de São Paulo. Voltando para Manaus, trabalhou na Fundação Cultural do Amazonas. Pertenceu ao Clube da Madrugada.
Obra poética: Azul geral, 1973, A Medida do azul, 1982, Os limites do azul, 1985, Do verbo azul, 1988.
A MEDIDA DO AZUL
A medida do azul é o estender-se
do olhar por sobre os seres. Esse arguto
perceber que se tem de não mover-se
o objeto – já por ser absoluto.
A medida do azul é ver um luto
Contido em toda flor e o abster-se
Cada qual de assumir seu tom enxuto
e noutro que o não seu absorver-se.
A medida do azul, pelo contrário,
não é ver no horizonte o fim do olhar,
mas o ter desta vida aonde chegar,
pois ali tem o mundo o seu ovário:
e o retorno acontece, sempre estável,
eis que o azul é o início do infindável.
(A Medida do azul)
Enquanto a lua for calada e branca
enquanto a lua for calada e branca
eu serei sempre o mesmo, este esquisito,
este invisível vulto, apenas visto
quando o vento, de leve açoita as folhas,
enquanto a lua for calada e branca
eu serei sempre o mesmo, apenas visto
quando um raio de sol morre na lágrima
que se despede de uma folha verde,
eu serei sempre assim, apenas sombra,
apenas visto quando a voz de um gesto
colhe no bosque alguma flor azul,
apenas visto quando em fundo azul
voar a garça (o meu adeus ao mundo?).
enquanto a lua for calada e branca.
(Azul geral)
PENAFORT, Ernesto. azul geral. Manaus, AM: Edições Madrugada, 1973. 88 p. 12x19 cm. Composto e impresso na Imprensa Oficial, Manaus. Ex. Biblioteca Nacional de Brasília, doação da família Francisco Vasconcelos.
SONETO
o astuto poder da imagem
no saber-se irrefletida,
foge a sombra dos teus olhos
por mais que a queiras na vida.
e se teus olhos abrigam
tantas ânsias de infinito,
há muito custo retém
a imagem viva de um grito.
mas se não foram vetados
os teus caminhos havidos,
(que dirão teus pés gretados?)
pelo instinto pressentidos,
por que sombras de desgosto
contrastando a luz do rosto?
MATINAL
súbito,
na pedra,
em decúbito,
o amor medra.
AGRIDOCE
de áspera língua é o cão.
lesto se insinua
por entre frescas colunas,
direito à fonte.
hálito e mucosa (de ambos),
úmidos, mornos se conjugam.
súbito
a paisagem desfalece.
Página preparada por Maria da Graça Miranda da Silva, nov. 2013; AMPLIADA EM ABRIL DE 2017
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