DJALMA PASSOS
(1923-1989)
Djalma Vieira Passos nasceu em Boca do Acre (AC) no dia 19 de julho de 1923, filho do comerciante e arrendatário de seringais Diomedes Vieira Passos e de Joana Crispim de Sousa.
Estudou no Colégio Estadual do Amazonas e em 1943 ingressou na Polícia Militar do estado, instituição na qual permaneceria até 1955. Formado em direito em 1951 pela Faculdade de Direito do Amazonas, em outubro de 1954 elegeu-se vereador à Câmara Municipal de Manaus, exercendo o mandato entre 1955 e 1958. Eleito deputado estadual pelo Partido Social Democrático (PSD) em outubro deste ano, assumiu um assento na Assembleia Legislativa amazonense no início de 1959. Em outubro de 1962, disputou uma vaga na Câmara dos Deputados pelo Amazonas na legenda do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Eleito, encerrou o mandato de deputado estadual em janeiro de 1963 e, no mês seguinte, assumiu sua cadeira na Câmara.
Em consequência da extinção dos partidos políticos pelo Ato Institucional nº 2 (27/10/1965) e da posterior instauração do bipartidarismo, filiou-se, em 1966, ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido de oposição ao regime militar instalado no país em abril de 1964. Candidato à reeleição no pleito de novembro de 1966, obteve apenas a segunda suplência da bancada emedebista amazonense. Deixou a Câmara dos Deputados em janeiro de 1967, ao final da legislatura.
Diretor da Coordenação do Desenvolvimento de Brasília (Codebrás) entre abril de 1967 e setembro de 1969, voltou a candidatar-se a deputado federal pelo MDB nas eleições de novembro de 1970, ainda dessa vez conseguindo apenas a primeira suplência. Transferindo-se para a Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido governista, disputou, por sua nova legenda, um assento na Câmara dos Deputados no pleito de novembro de 1974, sendo uma vez mais derrotado. Assessor jurídico da Secretaria de Justiça do Amazonas entre 1975 e 1976, no ano seguinte tornou-se secretário-geral de Justiça do estado. Em novembro de 1978 tentou uma vaga no Senado na bancada do Amazonas, pela legenda arenista, mas não logrou eleger-se.
No pleito de novembro de 1986, candidatou-se ao governo do estado do Amazonas pelo Partido Democrático Social (PDS), agremiação sucessora da Arena, mas o Executivo estadual acabou sendo ocupado pelo candidato do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) Amazonino Mendes.
Djalma Passos foi ainda presidente do PDS amazonense. Exerceu também as atividades de escritor, jornalista e editor do Jornal do Comércio, do Amazonas. Dedicou-se também ao estudo da vida e obra de Joaquim Nabuco.
Faleceu no Rio de Janeiro no dia 18 de junho de 1989.
Era casado com Alcina Raposo Passos, com quem teve três filhos.
Publicou Poemas do tempo perdido (1949), As vozes amargas (1952), Tempo a distância (1955), Bazar de angústias (1972), Ocupação da Amazônia e outros problemas (1974). [Fonte: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/djalma-vieira-passos)
PASSOS, Djalma. As Vozes amargas . Poemas. Rio de Janeiro: Livraria Editôra da Casa do Estudante do Brasi, 1952. 77 p. 14x19, 2 cm.
POEMA DO MOLEQUE BRASILEIRO
Moleque vadio
Que anda nas ruas
Dizendo pilhérias às moças que passam;
Moleque vadio, sem compostura
Que apedreja as vidraças
E não respeita ninguém;
Moleque sem Deus, sem lar e sem pão
Que rasgou a cartilha, e esqueceu a lição;
Moleque que brinca de manja nas noites escuras
Que briga e vai preso
E dorme nas calçadas abandonado
Sob olhares tristes da irmã lua;
Moleque vadio,
Viciado,
Que anda armado à procura do crime
Que se embriaga nos botequins
E rouba os brinquedos dos outros meninos,
Que nunca soube o que foi carinho
E vive sem rumo e sem finalidade
Pelas ruas da cidade,
Pelas veredas dos velhos subúrbios;
Moleque quase homem
Que nunca chegou a ser criança,
Que não sabe o que é ter uma esperança
Que tem uma história tão triste, tão amarga
E traz no olhar despido de ilusões
A mágoa de gerações e gerações...
Moleque!
Você não pode ser o futuro de Brasil!...
PROCEDÊNCIA
Venho do mundo dos desiludidos,
De onde a vida se tornou amarga e inconcebível,
De onde a tristeza estendeu suas asas negras
Como um pássaro agoureiro e cruel
Sobre os homens e as cousas...
Venho de um submundo abandonado
Onde não há Deus nem manhãs de sol,
Nem noites de luar nem dias sem crepúsculos,
Onde tudo vaga sem destino,
Sem finalidade e sem conforto...
Trago na garganta o gemido dos aflitos,
No peito a tortura dos injustiçados
E no olhar a mensagem dos eternamente perdidos...
É por isso que a minha alma tem essa vontade estranha
De pairar acima do infinito
E de viver no fundo dos abismos...
POEMA
Venho de longe descalço e triste
Pelas estradas
Caminhando nas noites
Como um viajor soturno e sem destino.
Não trago veste sobre o meu corpo,
Venho confundido com a natureza
Tonto de luz e de cor...
Na caminhada imensa e sem rumo
Tudo perdi,
Tudo ficou na solidão da poeira dos caminhos percorridos,
Menos este bastão inglório
Que continua me guiando como uma estrela,
Como uma luz,
Uma esperança.
MADRUGADA SANGRENTA
Em vão eu te busquei ó madrugada
Quando a minha alma quase morta necessitou de auroras
E o meu corpo de um refúgio inviolável...
Não pude contemplar a tua paz
Nem deixar que minhas mãos mergulhassem em teus lírios...
No desembarque impossível,
Eu vi apenas o teu clarão sangrento
E os teus pássaros entoando uma canção de guerra...
NAUFÁGIO
Dormirei no leito imenso do mar
Inatingível como um navio perdido para sempre
Sem soluços nem pesadelos...
Dormirei tranquilo,
Vítima do meu naufrágio voluntário
Até a minha dissolução definitiva...
Página publicada em abril de 2017