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CELDO BRAGA
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ELIBERTO BARRONCAS
CELDO BRAGA
- traduz em si, pela força das águas, um filho caboclo que canta o seu chão. Defensor incontesto da cultura amazônica, já publicou três livros com enfoques de sua vivência no interior, além de ser fundador e líder do Grupo Musical Raízes Caboclas, cuja ressonância é o ponto central do presente trabalho.
Formado em Letras (PUC-RS), sabe com presteza conciliar o erudito com o popular, obtendo um resultado simples, com a maturidade de quem já percorreu caminhos. É membro da União Brasileira de Escritores e integra o Clube-da Madrugada.
• Mário Ferreira
ELIBERTO BARRONCAS, natural de Autazes, "Boça do Cumã", Estado do Amazonas. Até os dezessete anos, viveu no espaço do seu chão, onde aprendeu que a arte é a parte que não cala porque é vida.
E formado em Educação Artística (artes visuais) pela Universidade do Amazonas. Como artista plástico, também extrai da natureza, a essência do seu trabalho.
É percussionista do Grupo Musical Raízes Caboclas. Confecciona novos instrumentos de percussão que também traduzem o "eco das águas" e os sons da floresta.
Sua poesia é parte poética do trabalho do Grupo (muitas já foram musicadas) que por si já é um poema amazônico.
• Mário Ferreira
BRAGA, Celso. BARRONCAS, Eliberto. O eco das águas. Apresentação de Anísio Mello. Manaus: Gráfica Fenix, 1992. 114 p. 14 x 20,5 cm. Capa e ilustrações: fotos de Jessé de Jesus.
CELDO BRAGA
O ECO DAS ÁGUAS
No espelho brilhoso das águas
onde tantas vezes o olhar do caboclo se ofuscou
nasceram muitos poemas
ao som de cada remada
que pela selva ecoou.
E o eco de cada verso
começou a se ampliar
na voz de cinco caboclos
feito pássaros canoros
que cantam, só por cantar.
A MARCA DA ENCHENTE
É noite.
O rio cheio se espraia
e alaga a floresta varzeana
para repousar tranquilo
a fadiga da correnteza.
Abraça com ternura cada tronco da mata
e todo manhoso
adormece.
Quando o primeiro raio do sol o desperta
num misto de luz e sombra
copula com a imagem
e se torna igapó.
Chega o dia de partir
e ele vai
lentamente
deixando em cada tronco um traço de saudade
a lembrança de um abraço
a marca da enchente.
RIO SOLIMÕES.
Solimões é um rio menino
que brinca de escorregar
na argila lisa do leito
no tobogã dos barrancos
que vai dos Andes ao mar
E escorrega manhosamente
como quem não quer chegar
talvez pra passar bulindo
com tanta coisa bonita
que vai notando ao passar
Pelas tantas do caminho
num abraço espetacular
se faz parceiro do Negro
trocam de nome e prosseguem
de mãos dadas para o mar.
LAMPEJOS
Sentado na beira do barranco
o caboclo espiava o rio
quieto, feito um monumento.
E era tamanho o sentimento
que vinha do seu olhar
que o poeta enxergou o rio
sentado na ribanceira
vendo o caboclo passar.
ELIBERTO BARRONCAS
ALÉM DA TRIBO
Enquanto era rio de novas águas
na mira de uma gaivota
era uma linda poesia
Enquanto era uma rosa
além de cm canteiro
era poesia aflorando
Enquanto eram coisas
de "gente da tribo"
era muito poético!
Mas quando
tudo tornou-se uma luz
nos perdemos no escuro de nós.
ORAÇÃO DE PALHA
(musicado pelo Raízes Caboclas)
Eu quero das matas
o valor do silêncio
e o canto dos bichos
pra ser um caminho
de paz e oração
Dos rios que passam
eu quero a corrente
que leva um rio
aos braços do mar
pra buscar o infinito
o eterno infinito
na ilusão de encontrar
E num ponto distante
de um canto qualquer
vou cantar mi'a morada
pra ecoar lá no mato
o próprio retrato da graça alcançada.
O TEMPO AGORA
Agora o tempo é temporal
A hora é quase tarde
Uma flor é uma só
pra muita gente encontrar
O tempo é temporal
anunciando a tempestade
que vai tirar da flor
o direito de florar
Haja tempo temporal
Seja tarde a nossa hora
Caia tudo afinal
em cada canto deste chão
mas no peito sempre mora
uma possível floração.
17 .07.91
TEMPO DE MIRAR GAIVOTAS
É tempo
de olhar pro alto
e mirar gaivotas
voando no tempo
Porque já é tempo talvez
de buscar o chão
no céu
ao vento.
Página publicada em novembro de 2018
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