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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



POETAS DO AMAZONAS

Coordenação: Donaldo Mello e Inês Sarmet

 


Inês Sarmet s/ foto de capa de SUCO DE ESTRELAS


AUREO MELLO

(1924-2015)


 

Aureo Macedo Bringel Viveiros de Mello nasceu em Santo Antônio do Madeira, MT, em 1924, mas viveu boa parte de sua vida no Amazonas. Poeta, advogado, jornalista, pintor e político (ex-deputado e ex-senador). Publicou, entre outros, os livros: Luzes tristes (1945), Claro-escuro (1948),  Presença do estudante Inhuc CambaxirraAs aureonaves (1985), Inspiração (1989),  O muito bom sozinho(2000),  Como se eu fosse um cantador (1999), Onde está Gepeto?(1999), Heliotrópios adamantinos lácteos: suco de estrelas (2004).

 

 

 Como se eu fosse um cantador, para mim, é uma autobiografia diferente de tantas, pioneira, em 132 sonetos caprichadamente medidos, lantejoulados de rimas ricas, sonorizantes (...)” KIDENIRO TEIXEIRA

 

Aureo vem de uma tradição poética marcada pelo metro e rima. Régua e esquadro riscando curvas que se transfiguram em “suco de estrelas”. A lira do delírio, quase, num majestoso encontro do rio com o mar, denunciando as profusões amazônicas da criação e destruição. Verdadeira pororoca desafiando. A ponta da lança, atingindo a memória e explodindo na mais nova galáxia do planisfério da invenção. Desfiando as memórias do Rio Guaporé, por exemplo, em tantos sonetos. Alexandrinos alguns, amorosos cristalinos, “de bubuia”, a flutuar sobre as águas da poesia, esplendendo alegria de menino “numas conversas de Áureo e passarinho.”    DONALDO MELLO

 

 

 

MELLO, AureoComo se eu fosse um cantador.  Águas do Guaporé.   Maricá, RJ: Editora Blocos, 1999.   142 p.  14x20,5 cm.   Capa: de Urhacy Faustino e Mônica Bandeiras sob foto de Áureo Mello e família.  Prefácio de Kideniro Teixeira.   Ex. Biblioteca Nacional de Brasília, doação família de Francisco Vasconcelos. 


 

 

Como se eu fosse um cantador
( memórias do Rio Guaporé)

 

I

 

Andei rondando pelo mundo afora

E quase me esqueci de ti, poesia.

E quão mais longe caminhando eu ia

Menos pensava em ti, meiga senhora.

Mas nesta noite novamente agora

Estou contigo aqui, rezando pia

Prece de rendição e de alegria

Porque afinal tu não te foste embora.

Como viver sem ti, poesia amada,

Se tremo ao defrontar-me ao pensamento

De um dia ver chegar enfim o nada

 

E como Alphonsus, escutar um sino

Com seu dobre pesado e macilento

Apagando o meu tempo de menino?

 

 

 

XII

 

A vida é como um trem que vai passando...

Cada vagão é um ano transcorrido

Puxados por um coração sofrido

Aos poucos da estação se distanciando.

Esses tablóides cheios vão rodando

Nos trilhos do mistério indefinido,

Levando histórias do que foi vivido,

Do infante ao velho que já vai findando.

 

Às vezes passam mais de oitenta ou cem

Vagões repletos de produtos vários

(O conteúdo vivencial do trem)

 

E sempre apita um derradeiro adeus

Como se fosse um som de Stradivarius

 Se despedindo dos amores seus...

 

 

 

XXXV

 

O homem ou crê ou fica louco. A vida

É mistério, tão bárbaro e medonho,

Que o sujeito ou se pendura no sonho

Ou numa áspera corda bem comprida.

 

Que venha a fé, mesmo estando vestida

De estranhos balandraus ou que tristonho

Seja o rosto de Paulo, ou Possidônio,

Expressando uma lágrima contida.

 

Um momento há que faz rendermos loa

Àquilo que nos céus finge que voa

Ou ao da besta urrar no abismo fundo.

 

Tem de haver algo que não crer na morte

Nos faça e acreditar que um poder forte

Fará de amor o amálgama do mundo.

 

 

 

XCIII

 

Voltando a Santa Fé. Meu pai me ensina

Lições de Português, principalmente

E nós mantemos um duelar freqüente

Sobre consoantes, porque nem na China

Aceitava eu PH como genuína

Forma de dizer f corretamente,

Commércio com dois emes é indecente

No meu conceito e uma batata quente

Era Ella com dois eles. Eu teimava.

Em etimologias se apoiava

Meu pai, filho da Atenas brasileira.

 

Phantasma, Commerciante, Pharrnacia

Eram fórmulas que eu me comprazia

Em contestar, chamando-as de "besteira".

 

 

 

XCIV

 

Uns seis dias depois de o Elefante

Ter sido morto pelo jacaré

Meu pai, pela manhã, me trás, ovante

Um "Diário Oficial" que lê com fé.

Por um decreto irrevogável é

Que o nosso idioma, dessa data em diante

Se escreve na fonética falante

E que etimologia não dá pé.

 

Fora os "phantasmas", o "commercio" e os "ella"

Abaixo os "pharmaceuticos", seqüela

Do tempo antigo que traía o fonema.

Viva a revolução do tempo novo

Onde se escreve como fala o povo

Quer seja em prosa, em verso ou seja em poema!

 

Transcrito de Como se eu fosse um cantador ( memórias do Rio Guaporé)

 

 

MELLO, Aureo.  Neomênia. Capa e ilustrações do autor. Brasília, DF: 1971.  111 p. ilus.   Ex. Biblioteca Nacional de Brasília, doação da família de Francisco Marques de Vasconcelos Filho.

 

         NÚBIL

 

         Núbil, chegou tua vez. A ara te espera.
         Vais, heroica, sorrindo ao sacrifício.
         Como se faz ao mar uma galera
         Mistério é o teu porvir, talvez propício.

         Um tigre a bafejar sangue em bulício
          Tua carne enlouquecido dilacera.
         Indiferente tu estarás à fera
         E teu ciclo irisado teve início.

         Liquefazer-te-ás e crespa ou lisa
         Haverá sempre u´a música imprecisa
         Nos teus hestos de amor, na tua perene

         Glória. E decerto desdobrada
         Em frutos rever-te-ás,  já realizada,
         Ao turbilhão, morta sorrindo, indene.

 

 

         AS MADEIRAS

 

         Ah! Que você está aqui, árvore boa!
         São de jacarandá a mesa bela
         E esta banqueta em forma de canoa.
 '        O piso escuro é feito de canela.

         E essa arca patinada, tão singela!
         Poltrona de caviúna não destoa
         E cobrindo a extensão dessa janela
         Essa cortina de bambu não voa.

         Em toda parte tem madeira! O mato
         Está bem por aqui, entre o cimento
         E o ferro e o vidro deste apartamento!

         Fico contente! Caboclo de fato
         Ouvirei sempre o ruído da floresta
         E para mim isso será uma festa!

        

 

 

MELLO, Aureo.  Heliotrópios adamantinos lácteos (suco de estrelas).  3ª. edição.  Brasília: Maggiore, 2004.   486 p.  15x21 cm.  “ Aureo Mello” ex. na bibl. Antonio Miranda

 

 

Mandatos

 

Fui benigno. E também leal com os meus patrícios.

Não retirei o pão da.boca de coitados.

Fechei-me às tentações e dei volta aos achados

Potes de ouro e dobrões que me seriam propícios.

 

Ao sonho consagrei, qual fogos de artifícios

Palavras com clarõesque vos foram mostrados

E no potro do ideal corri nos descampados

A bandeira a agitar do Cristo os sacrifícios.

 

Só  pequei por amor a celestes fascínios

De corpos aromais e sagrados escrínios

Onde depositei meus astros lapidados.

 

Ou Heliotr6pios meus, adamantinos lácteos

Que o mistério maior, sem ter piedade, abate-os

Na campina surreal dos fatos consumados.

 

 

(transcrito de Heliotrópios Adamantinos Lácteos: suco de estrelas)

 

 

 

MELLO, Aureo.  As aeronaves.  Brasília: 1985.   156 p.  15,5x22,5 cm.  Capa e ilustrações do autor.  “ Aureo Mello” ex. na bibl. Antonio Miranda

 

 

Campos de Ceres e Rialma

 

Campos de Ceres e Rialma

Sorrindo todos os verdes

Mais seu rio cor de carne

Canto-vos por merecerdes.

Árvores distribuídas

Muitas cercas soldadinhas,

Barrancos cor de laranja

Macegas verdes arminhas.

Oh, morada esplendorosa

Erguida num manso aclive

Na curva do rio riacho

Quem será que nela vive?

O/ pincelada de verde

De verde vivo a gritar

Ao céu azul de Goiás

Que aqui há um génio a pintar.

Fios de eletricidade

Em postes feitos de pau

Capoeiras verde-escuro

Casas de tijolo, vau

Vacas pastando no campo

Como flocos de sumaúma

De longe parecem imóveis

Quer-se contá-las uma a uma.

Da estrada se vêm tais campos,

Campos de Ceres e Rialma

Digital de quem criou tudo

Que fala direto à alma
As nuvens lá no horizonte
No céu azul descorado
Desgostos de nossa fronte
Vão ficando para o lado.

 

 

Estudo no. 1

 

Os gatos solfejavam seus violinos

Fazendo amor por cima dos telhados.

Os alísios sopravam, superfinos,

Indo, sutis, despentear os prados.

 

As estrelas puríssimas, hialinos

Alfinetes cravavam nos relvados

E o marulho dos rios assassinos

Feria os meus ouvidos extenuados.

 

A noite era de ritos e presságios.

Aos poucos, em vagarosos estágios

Uma lua grená subiu da terra.

 

Havia no ar um cheiro acre de fumo...

Um brado de pavor se ouviu no rumo

Da silhueta colossal da serra.

 

 

 

MELLO, Aureo. Inspiração. Vol. I. Poesias. Brasília, DF: Senado Federal, Centro Gráfico, 1989. 193 p. . Ex. Biblioteca Nacional de Brasília, doação da família Francisco Marques de Vasconcelos Filho.
 

Os olhos

Que água tão funda
Cheia de ossos
Negra e distante
Dos meus e nossos.

 

Porque há viveres
Tão divergentes
Que nem sonhamos
Acontecentes.

 

Que águas tão negras
Entre esses cílios
Fitam paradas
Calando idílios.

 

Que move os gestos
De sua dona?
Impenetráveis
De linda tona.

 

Ah! que organismo
Tão semelhante
Mas diferente
E tão distante!

 

Água parada
Dos igapós
Que é tanto ela
Tão pouco nós!

 

MELLO, Aureo. Inspiração. Vol. 2.  Brasília, DF: Senado Federal, Centro Gráfico, 1989.  3 v.  Ex. Biblioteca Nacional de Brasília, doação da família de Francisco Vasconcelos.

 

 

         AS PANTERAS

         Vai marchando, na selva, a besta predatória.
         É uma pantera azul, de olhos cor de topázio.
         Marcha, a fauce escancara, horrenda, agora em gázeo
         Olhar, na escuridão da grande massa flórea.

 

         Flexuosa, é o terror e a sua marcha é de glória
         Filha da maldição, varando a noite da Ásia
         Levando a destruição, a indiferença, a afásia
         Ao fraco que encontrar nessa sua trajetória.

 

         Então ruge e golpeia e o sangue espirra quente
         E ela arfa deliciada e mais violentamente
         Brama e estraçalha mais, na sua festa legítima.

 

         Depois, em meio à selva e à luz azul dos astros
         Segue, e às vezes esquece, em meio dos seus rastros
         Sangrando, a palpitar, o coração da vítima...

 

 

 

MELLO, ÁureoOs dois violinos.  Ilustrações de Appe.   Edições Acaiaca, 1957.  109 p.  Ex. bibl. Antonio Miranda [Doação de José Brito]

 

 

NA AMAZÔNIA

 

"Aqui, sim, estou bem. Estou na minha terra
Cavalgando o meu rio, olhando as minhas matas.
Contemplando o banzeiro e as remadas exatas
Do caboclo na sua igarité de guerra.

O rio é largo e belo, é como um livro aberto
Da natureza ideal, narrando uma epopeia.
O mundo, tora disso, é soturno e deserto
E somente aqui vive, e canta e vibra a ideia!

Amazónia! Urutau que chama da distância,
Incêndio-verdejante em celestes paragens,
Chama que acende nalma as labaredas da ânsia
Imagem que me acorda  um  turbilhão de imagens...

Aqui, sim, estou bem. Estou singrando o rio
Olhando o "tucuxi" boiar, lá muito adiante,
No toldo de uma lancha, a sentir muito trio
Ou o tépido soprar de uma lutada errante...

Os barrancos estão tora dágua, que lindo!
É na vazante, e a selva os recobriu de verde.
As margens do meu rio agora estão sorrindo:
Nelas o meu olhar, deslumbrado, se perde...

Aqui, surge a morada simples de um "cunhado".
Bem na beira do rio, enorme castanheira.
Um pouco adiante ondula um suave descampado
E mais além, bem verde, a selva brasileira"...

 

 

AVE DA ERMIDA

 

Conheço, na planície azul da minha vida,
No silêncio abismal da solitude imensa,
Uma branca, delgada e prazenteira ermida
Que ali se perde, como um pavilhão da crença...

 

Dentro dela, que outrora — há quanto! — foi guarida

De asas vindas da tarde iluminada e intensa.

Hoje vive somente uma ave recolhida

— A única que ficou, no coruchéu suspensa...

E essa que não partiu, doce criatura amada,

És tu, que na fugace, ilusória revoada,

Foste a que muito amei e a que tanto me quis...

Deixa agora que o tempo, abrindo o livro de ouro,
Narre a história, ao luzir deste sol muito louro,
Da avesita que fez uma ermida feliz...

 

 

VENTOS FUNESTOS

 

1

Todos os ventos maus, em triste coorte
Sobre este amor sopraram seus hiemais
Ou quentes hálitos sabendo a morte
Gozando em minha dor seus festivais.

 

Esse que raspa os "fjords", o vento norte

Zurziu seus gumes frios nos meus ais.
O minuano do sul, cantando forte
Feriu-me com seus frígidos punhais.

 

Os simuns e os tornados, gargalhando
À luz das minhas lágrimas rolando
Rebentaram o amor que eu tinha um dia

E ao canto das lufadas soltas, nada
Prometeram deixar, para a jornada
|0Triste da minha grande nostalgia...

 

 

2

 

Mas eu tenho uma terra ebúrnea, bela
Torre onde quedarei, na hora soturna.
Torre que brilha ao sol, pura e singela
E que as gemas do amor resguarda e enfurna.

 

Enquanto os ventos maus, tufando a vela
De dor, andem na ríspida e noturna
Caçada, eu fico aqui, morando nela
Porque ela é o meu refúgio, é minha urna.

 

Não sabeis, ventos feros do infortúnio
Que ululantes passais, no plenilúnio
Da faina de destruir meu coração

 

Que a Poesia me obriga, é o meu casulo
Onde eu rio da dor, e onde regulo
Sonhos com a força da recordação...

 


 

Os poetas Donaldo Melo, Aureo Mello e Antonio Miranda na ANE-Associação Nacional de Escritores, Brasilia 03/05/06. Foto: Robson Corrêa de Araújo

 

 

 

MELLO, ÁureoOs dois violinos.  Ilustrações de Appe.   Edições Acaiaca, 1957.  109 p.  Ex. bibl. Antonio Miranda [Doação de José Brito]


 

 

 

NA AMAZÔNIA

 

"Aqui, sim, estou bem. Estou na minha terra
Cavalgando o meu rio, olhando as minhas matas.
Contemplando o banzeiro e as remadas exatas
Do caboclo na sua igarité de guerra.

O rio é largo e belo, é como um livro aberto
Da natureza ideal, narrando uma epopeia.
O mundo, tora disso, é soturno e deserto
E somente aqui vive, e canta e vibra a ideia!

Amazónia! Urutau que chama da distância,
Incêndio-verdejante em celestes paragens,
Chama que acende nalma as labaredas da ânsia
Imagem que me acorda  um  turbilhão de imagens...

Aqui, sim, estou bem. Estou singrando o rio
Olhando o "tucuxi" boiar, lá muito adiante,
No toldo de uma lancha, a sentir muito trio
Ou o tépido soprar de uma lutada errante...

Os barrancos estão tora dágua, que lindo!
É na vazante, e a selva os recobriu de verde.
As margens do meu rio agora estão sorrindo:
Nelas o meu olhar, deslumbrado, se perde...

Aqui, surge a morada simples de um "cunhado".
Bem na beira do rio, enorme castanheira.
Um pouco adiante ondula um suave descampado
E mais além, bem verde, a selva brasileira"...

 

 

AVE DA ERMIDA

 

Conheço, na planície azul da minha vida,
No silêncio abismal da solitude imensa,
Uma branca, delgada e prazenteira ermida
Que ali se perde, como um pavilhão da crença...

 

Dentro dela, que outrora — há quanto! — foi guarida

De asas vindas da tarde iluminada e intensa.

Hoje vive somente uma ave recolhida

— A única que ficou, no coruchéu suspensa...

E essa que não partiu, doce criatura amada,

És tu, que na fugace, ilusória revoada,

Foste a que muito amei e a que tanto me quis...

Deixa agora que o tempo, abrindo o livro de ouro,
Narre a história, ao luzir deste sol muito louro,
Da avesita que fez uma ermida feliz...

 

 

VENTOS FUNESTOS

 

1

Todos os ventos maus, em triste coorte
Sobre este amor sopraram seus hiemais
Ou quentes hálitos sabendo a morte
Gozando em minha dor seus festivais.

 

Esse que raspa os "fjords", o vento norte

Zurziu seus gumes frios nos meus ais.
O minuano do sul, cantando forte
Feriu-me com seus frígidos punhais.

 

Os simuns e os tornados, gargalhando
À luz das minhas lágrimas rolando
Rebentaram o amor que eu tinha um dia

E ao canto das lufadas soltas, nada
Prometeram deixar, para a jornada
|0Triste da minha grande nostalgia...

 

 

2

 

Mas eu tenho uma terra ebúrnea, bela
Torre onde quedarei, na hora soturna.
Torre que brilha ao sol, pura e singela
E que as gemas do amor resguarda e enfurna.

 

Enquanto os ventos maus, tufando a vela
De dor, andem na ríspida e noturna
Caçada, eu fico aqui, morando nela
Porque ela é o meu refúgio, é minha urna.

 

Não sabeis, ventos feros do infortúnio
Que ululantes passais, no plenilúnio
Da faina de destruir meu coração

 

Que a Poesia me obriga, é o meu casulo
Onde eu rio da dor, e onde regulo
Sonhos com a força da recordação...

 

 

 

MELLO, Aureo.  Onde está Gepeto?  Versos e poemas.  Rio de Janeiro: Razão Cultural, 1999.  88 p.  14X21 cm.  ISBN 85-86280-69-0  Ex. Biblioteca Nacional de Brasília, doação da família de Francisco Vasconcelos.

 

 

         SEMPER MACAQUITA

 

         Menina sagica,
         Numa tropelada,
         Quando bate quica,
         Levanta revoada.

         Alguém te suplica:
         — Pera aí, danada!
         A poeira fica
         No meio da estrada.

         És pura pimenta
         Malagueta que arde.
         Neste fim de tarde

         Passaste a noventa,
         Mica de uma figa,
         Por favor me liga.

 

 

         ONDE ESTÁ GEPETO?

 

         Um morto é um rádio quebrado,
         Brinquedo perdia a corda.
         Esse engenho inexplicado,
         Calado, não mais acorda.

         Pois dos mortos, de repente,
         Vai-se o ar dos seus pulmões,
         Enregela o que era quente,
         Desligam-se as emoções.

         Mas os rádios ressuscitam,

         Voltam a falar de novo.
         Por que para sempre evitam
         Um pobre membro do povo?

         Por que não se dá conserto
         A quem morreu, revivendo?
         É justo esse desacerto
         Que todo dia estou vendo?

         Vamos consertar os mortos:
         Fazê-los rir novamente,
         Endireitá-los, se tortos,
         Fazê-los  voltar pra gente.
        

 

 

 

Ampliada em setembro de 2016; ampliada em março de 2017; ampliada em abril de 2017.

 

 

 


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