ARTEMIS VEIGA
(1946 – 2015)
Artemis Silva Veiga nasceu em Manaus no dia 30 de julho de 1946 e faleceu em 28 de abril de 2015.
Formada em Letras pela Universidade do Amazonas, onde também foi professora de Língua e Literatura Portuguesa.
Poeta da geração Pós-Madrugada.
Dois poemas de Marupiara – 1988:
QUASE TOADA
(Para um menino-muito-meu-amigo)
Creio em ti, menino vadio
é no teu silêncio puro
só quebrado
pelo pranto sem lágrimas
contido num único soluço
que tua voz não realiza...
Creio em ti, menino-grande
e nos teus sonhos encantados
que acalantam
segredos de coisas
eternas
nas curvas turvas
da madrugada...
Creio em ti menino-noturno
e no teu silêncio grave
machucado
por presenças impossíveis
que mastigam
solidões gêmeas
entre gritos estrangulados...
Creio em ti, menino-trazverso
e nas tuas tramas
claras e cheias
de palavras perfeitas
urdidas
no rio matreiro
e no hálito de noite
que te inaugura
em azul-grávido
de certezas.
(De Marupiara – 1988)
NOTURNO PARA O POETA
(Para o Bacellar)
Noite suada
de odores e amores
amontoados
acolhe o poeta
que tritura
nos dentes
carinho e castanha de caju
torradinhos.
Vai o poeta
escondido
atrás do bigode
a pescar verbos e Marias
no verde-musgo
de suas perplexidades
e noturnas economias
defloradas
no homem que passa
na dor que fica
na madrugada que espanta
no galo que canta
a verdade
da manhã que vem.
As 3 horas se pressa
da madrugada vadia
encontram o poeta
em yoga profundo
no banco branco
da circunspecta pracinha.
E já a aurora
se fez palpável
no seu terceiro minuto
quando o poeta encerra
o último terceto
de mais um soneto
companheiro de bolso
do lápis, chaveiro
cigarro e isqueiro.
No seu traje de brumas
lá se vai o poeta
triturando a manhã
na cadência da poeira
dono de mais um soneto
proprietário absoluto de estrelas
amando todos os estranhos
rindo todos os segredos
e buscando
coisas úteis
de paisagens inúteis.
Página publicada em janeiro de 2020
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