AMÉRICO ANTONY
(1895-1970)
Américo Amorim Antony nasceu em Manaus (AM), em 23 de setembro de 1895. Faleceu em Manaus (AM), em 18 de agosto de 1970.
Publicou um único livro de poesias: Os Sonetos das Flores, em 1979..
Foi membro da Academia Amazonense de Letras e da União Brasileira de Escritores do Amazonas.
Sua poesia é de difícil filiação a qualquer escola, podendo, no entanto, situar-se entre o simbolismo e o neo-parnasianismo.
ANTONY, Américo. Os sonetos das flores. 2ª. edição. Organização Tenório Telles e estudo crítico por Marcos Frederico Krüger. Manaus, AM: Editora Valer, 1998. 165 p. (Série Coleção Resgate, 6) Coedição Secretara de Estado da Cutura e Estudos Amazônicos do Estado do Amazonas. 14x21 cm. ISBN 85-866512-11-7. 2 Inclui também o texto "O poeta de monóculo", de Luiz Bacellar. Ex. Biblioteca Nacional de Brasília, doação da família de Francisco Marques de Vasconcelos Filho.
"Há uma constante na poesia de Américo Antony: a selva e com ela, a água (igapós, lagos, etc.), os pássaros, tudo enfim, que a integra e lhe dá expressão do mundo à parte, que é a Amazônia, da qual se fez cantor. Américo Antony sempre se rebelou contra imposições e regras poéticas. Como esteta, preocupou-se apenas com o belo, com o amor, como o lirismo, que alimentava o estro e faziam com que ele contruisse versos tocantes com o no soneto "Cigarras". Arthur Engrácio.
A FOR DO CRIME
Nos valados sombrios do Negrume,
De árvores tristes gotejando sangue,
A um atro, ascoso, putrefacto mangue
Nasceste, ó Flor com pétalas em gume!
Com punhais, mostrando-os por costume,
Como a serpente venenosa e langue,
Prostas feroz uma ave incauta, e exangue...
Diabólica em furor como o Ciúme!
Que vale antigo de mudez adversa
Tua corola arquitetou perversa
Para tudo matar, tudo ferir?!
És o símbolo aberto da Maldade,
Perfume da atração na Crueldade,
Antros consecutivos morte a abrir!!!
A FLOR DO REFLEXO
Impressão no cristal, no seu sensório
Da Água a imaginação faz colorida
E material, sensível, mais sentida
Da imagem desse olhar fluido, incorpóreo...
Leitura espiritual no espelho arbóreo
Do lago, que duplica o ramo em vida
E a flor em beijo luminoso, ebóreo
Como intangível ilusão vivida!
Ah! seu pudesse recolher-te a forma
E a cor, mais belas, que as do original,
Pelo banho que as deu a água lustral!
Extrair-te em relíquia onde a transforma
Nesse Visível Real... mas, que se alcança
Só pelas Mãos do Sonho e da Esperança!
VITÓRIA-RÉGIA
Nos campos desta lúcidas devesas,
No abismo em flor dos roseirais mais belos,
Eu vim soltar no adeus das correntezas
As almas dos meus rútilos castelos.
E ouvia a voz das líricas Princesas
Num delírio fatal.. frios cutelos
Cerceando os cantos íntimos, realezas
Da Esperança irradiando em setestrelos!
E assim, uma por uma, em paroxismo
As emoções, no resplendente abismo
Lancei-as todas. Mas, somente a Dor
Não sucumbiu nos vórtices, e egrégia,
Circundada de espinhos, Grande Flor!
Flutuou, viveu... — Era a Vitória-Régia.
A FLOR DA EXORTAÇÃO
Calada voz perdida no Passado
Que cantou em penumbras de cristal
Sensíveis sons de luz do que é encantdo
Nos seres todos da Alma Universal:
Secretos luares do silêncio amado
Tão brandos e potentes, que afinal
Os fluidos regem do que foi criado
Da Luz, dos sons, do intrínseco causal:
Revelai-vos, amebas invisíveis
Dos vossos mundo! órgãos de emoções
Do Todo Eterno que voz fez sensíveis
Da sinfonia que se fez correntes
Trazendo o pego à flor, em corações
De originais idiomas transparentes!...
Página publicada em março de 2017