ÁLVARO MAIA
Álvaro Maia (ÁLVARO Botelho MAIA), nascido a 19 de fevereiro de 1893, no município de Humaitá, Rio Madeira, veio criança para Manaus. Estudou direito, em Fortaleza e colou grau na Faculdade do Rio de Janeiro. Seu primeiro emprego no Amazonas foi de redator da Assembleia Legislativa, depois Procurador da República. Era jornalista, poeta e político atuante. Foi Deputado Federal (1933–1935), Governador (1935–1937, Interventor com o golpe político do Estado Novo (1937-1945), Senador (1946–1951), novamente Governador (1951–1954 e também Senador da República (1967–1969). Faleceu na madrugada do dia 4 de maio de 1969, na Santa Casa de Misericórdia, acometido de infarto.
Príncipe dos poetas amazonenses.
Obra poética: Jacaré de assombração: lenda do interior do Amazonas (Manaus, 1958) e Buzina dos paranás (Manaus, 1958).
Árvore ferida
Ante a constelação do céu florindo em lume
Temos, ó árvore, o mesmo ideal e a mesma sina...
Sangrou-me o peito inerme a sensação divina,
Como a acha te sangrou em golpe de negrume.
Dando esmola ao faminto e consolo à ruína
Subimos em bondade, ardemos em perfume...
Bendita a dor criadora, o perfurante gume,
Que em mim produz o verso e em ti produz resina...
Ninguém virá curar-te! Apenas os ramalhos
ensinarão à flor a música dos galhos
e ensinarão ao galho as lutas das raízes.
Ninguém virá curar-me! Os meus versos apenas
serão o bálsamo desfeito em minhas próprias penas,
sob a ronda de dor dos dramas infelizes.
(Buzina dos Paranás, pág. 127,in “Correio do
Norte! no. 3, S. Paulo, maio de 1959).
Página preparada por Maria da Graça Miranda da Silva, nov. 2013.
MELLO, Anisio. Lira amazônica. Antologia. Antologia: Amazonas. Acre. Roraima. Rondônia. São Paulo: Edição do Correio do Norte, 1965. 294 p. 12,5x18 cm. Ex., bibl. Antonio Miranda
Poemas de Álvaro Botelho Maia na antologia:
TORRES
As torres da Matriz de minha Terra
elevam-se de frente para o rio,
entre as águas girando em trons de guerra
e os arvoredos de um jardim sombrio...
Quando a saudade nos espaços erra
e a voz do sino fere o céu de estio,
muito lábio piedoso, orando a fio
pelos que estão ausentes, se descerra...
As andorinhas, à hora das novenas,
fogem da terra, elevam-se na altura,
como se as orações, vestindo penas,
Voassem, fossem vencer a nostalgia
dos que longe têm mundo de tristeza
por instante antigos de alegria.
(Do livro "Buzina dos Paranás")
VEIO D´ÁGUA
Gosto de ouvir-te, veio d´água pura,
recortando os recantos escondidos
de soluços, de vozes, de arruídos,
entre hinos de alegria e de amargura...
Choras no coração da selva escura
a saudade dos trilhos percorridos,
e ao teu pranto, lembrando os tempos idos,
a verde alma da terra se mistura...
És calmo e frio em fases diferentes,
ora na rude angústia das vazantes,
ora no desespero das enchentes...
E, corda de harpa rebentando em festas,
ergues ao céu, em notas delirantes,
a epopeia convulsa das florestas...
(Do livro "Buzina dos Paranás")
ÚLTIMA PRECE
Venho agora com os olhos comovidos,
depois de andar por dédalos velozes,
balbuciar-te a oração de minhas vozes
e o funeral dos últimos gemidos...
Tenho o tremor dos corações feridos
pelo gládio das cóleras atrozes...
Sorvi da dor, em pequeninas doses,
os amargos venenos diluídos...
Sorvi... Na queda, no supremo instante,
vi, debruçado no meu corpo exangue,
o duplo céu de teu olhar constante...
Ergui-me ante essa luz consoladora
para beber da vida de teu sangue
o sangue de uma vida redentora...
(Do livro "Buzina dos Paranás")
Álvaro Maia – Brasil – Poesia dos Brasis – Amazonas – poesia amazonense
-Página publicada em abril de 2017; Página ampliada em novembro de 2020
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