Silêncio.
Entre os números
o tempo parado
na hora vertical.
Os ponteiros no tempo,
(entre os números)
em vagas sonolentas se confundem.
No centro a noite
névoas em mantos cobrem o poeta
no tempo,
prelúdios de madrugada.
II
Interstícios no mundo.
O tempo nas asas do poema,
a palavra dormindo no silêncio,
o poeta esperando a madrugada
para desfolhar poemas:
(da flora anônima que vai nascer na aurora
entre a música imperceptível dos cristais de nevoas
para a morte presente).
III
Silêncio.
Surge o poeta no inconsútil sentimento,
entre orvalhadas lactescentes.
O poema rola com metáforas e símbolos
em fina essência na palavra livre
anunciando ausências, auroras e ocasos
na madrugada transcendente.
P O E S I A V O L U N T Á R I A
Da roseira escolhi a rosa mais simples,
sem a extravagância peculiar das rosas
sem os atrativos artificiais das rosas.
Escolhi esta simplesmente
bem modesta e sem perfume.
Agora enfrentarei a curiosidade dos amigos.
Talvez (eles que observam) fiquem cegos
ao penetrarem no meu refúgio.
Na expectativa olharei cada intenção:
— os meus amigos estão cegos
e a paz em mim repousa.
Agora posso sorver o mais insignificante
tudo o que meus amigos não sentem.
Coordenarei o mais simples motivo
para adorno da poesia numa como o mar.
Agora posso enfrentar o mundo
e beber da poesia voluntária
que pousa nos meus lábios.
(“O Estado do Pará”, 19-08-1951, Belém)