ALEXANDRE ALBERTO DIAS OTTO
Nasceu no Amazonas, em 28 de agosto de 1941, Era estudante na época da edição do livro... Já tinha um livro inédito: "Primeira Multidão".
TEMPO DE ESTRADA – 20 POEMAS DA TRANSAMAZÔNICA. Rio de Janeiro: S.D.M.T em co-edição com Instituto Nacional do Livro e Grupo de Planejamento Gráfico, editores, 1972. 208 p. Ex. bibl. Antonio Miranda
PLANISFÉRIO
Manhã
grau
desta lapidação
esmeralda
esperança
fundaremos
Fernão Dias Paes
Francisco Orellana
hoje somos
através o verde
a safra do amarelo
Estrada
na curva
o ventre
área
onde a pele
torna-se expressa
gráfico
que a gestação
amplia
mapa de poros
plano de respiração.
Roteiro
asa concêntrica
espiral
gerando a viagem.
A paisagem após o músculo
suamos
temos o monte
bíceps.
A leste do braço
o ovo
na gema a idéia
sol.
Estrada
nervo
de contato transversal
via-láctea
via-látex
diâmetros próximos
um
mede o cosmo
e brilha
o outro o verde
e move.
Eis a bússola
rosa de quatro pontas
cruz e flor
fé e amor.
Eis a viagem
reta de suor
rota de rio
movido por sal.
Estrada
via-táctea
via-látex
envergadura quando abrimos
os braços para amar.
Entre a direita e a esquerda
quilômetros de sono
áreas de índios
água remada
árvores dentro d'água
igapó
silêncio em ritmo de peixe
várzea
plantação imersa
dor
fechada por água
enchente e olho.
Terra firme de raízes
flora de peso
selva
mata de frutos
sombras
cheiros
lendas de arrepio
caça e caçado
o bicho no homem
o homem no bicho
castanhais
seringais
óleos de cura
copaíba
andiroba
óleos de gosto
bacaba
patauá
caiaué
buriti
tucumã
piquiã
fruto de força
força a fome
palmeira de ver
açaí
e de beber
o vinho roxo
dos frutos pretos
pensando nos dois
caroços escuros
dos peitos maduros
da esguia cabocla.
Madeira de lei
milhões de árvores
ou a esperança
Quem dorme e sonha
coberto de tanto verde?
Cavalo vai para oeste!
Se lá tem sol posto
nós temos o oposto
sem celas
salto
natureza móvel
tamanho e folego
amazônia
estradas sem limites
rosa atravessada
hímem
rompido
roteiro
via-áurea
via-aurora
O futuro que dorme
sub-solo
os minérios brilhantes
sonho
aceso por dentro
calor de olho fechado.
O ouro o diamante
a cal a hulha
o ferro o estanho
o urânio o petróleo
todos em fusão
o porvir
à sombra do celeiro
muito verde daqui.
Amor Trabalho Fé
triângulo
ponta de seta
virada para o futuro.
TRAVESSIA
Cidade de Altamira
primeira vírgula da estrada
história que vai ao horizonte.
Afastam-se duas faces
uma fica
na espera do último quilómetro
a outra some
do alcance dos olhos
porque vai por amor.
Entre o verde da terra
e o azul do céu brasileiro
abriremos no amarelo do barro
o grande caminho branco
via-ordem
via-progresso
Aqui vamos passo e canto
mente músculo máquina
descobrir na peia de rumos
o fio que avança para o dia.
Em roda de transporte
o norte será expresso
via-safra
via-cifra
Das casas que ofertam sombras
nascerão cidades novas
transparentes pois sem muros
cristãs
cristalinas
No verde aberto da Amazônia
o trabalho tem bandeira.
Busquemos através da terra
a pátria reunida na semente.
Ó meu Brasil que na pele
da gente tem um tarol
que o amor bate por dentro
e por fora bate o sol.
Nós somos os companheiros
unidos num só andar
que faz o suor das asas
ter sempre sal pra voar.
O homem que deixa rastros
que outros possam seguir
constrói o rumo da estrada
que avança para o porvir.
Se o mar é mão aberta
que faz o rio desaguar
o norte também é verde
Vamos da Transamazônica
fazer metade da ação
que a via-láctea atravessa
formando a cruz da nação.
Estrada
o poente cumpre em ouro
o dia de quem constrói
Ovo Tempo Azul
pássaro
de norte a sul
Brasil
via-láctea
via-látex
cruz
símbolo deste céu
símbolo deste chão
acústico
atômico
adâmico
Senhor Deus
Que a estrada tenha palmeiras ao vento
e as sombras envolvam suavemente
os que precisam da canção
e do repouso.
E porque somente o por do sol
acende a paisagem dos homens suados,
desperta em nós, Senhor,
os olhos que não escurecem
diante da dor e da solidão.
Senhor! Que amanhã nesta estrada
as margens plantadas vicem cores próximas.
As árvores como braços de trabalho
tenham sempre frutos
e o homem os multiplique pelo nascente
e pelo ocaso
para haver colheita na aurora
e no crepúsculo.
Senhor! Tu que destes à relva seca
a esperança que apenas uma chuva
faz reverdecer a planície,
desce à nós a tua misericórdia,
e assim fortalecidos
tenhamos as mãos acrescentadas de amor
e ajudemos aqueles que molhados de suor
e cercados de filhos
carecem do pão e da justiça
e da luz que aquece com a mesma intensidade
todos os homens que caminham sob o sol.
Página publicada em novembro de 2020
|