Foto por Adriana Izel
ADRINO ARAGÃO
Adrino Aragão de Freitas, também conhecido como Adrino Aragão, (Manaus, 6 de outubro de 1936), é um escritor brasileiro.
Ao lado do escritor mineiro Elias José (1936 – 2008), Adrino é um dos cultores, no Brasil, do miniconto – que ele define como "fábula, excluída a moral" (Aragão, 2009, p. 41) – e publicou os seguintes títulos, entre coletâneas de contos, novelas, livros infanto-juvenis e uma antologia de contos: Roteiro dos vivos, Inquietação de um feto, As três faces da esfinge, Tigre no espelho, A verdadeira festa no céu, Os filhos da esfinge, No dia em que Manuelzão se encantou, História da Infância, Conto, não-conto e outras inquietações, A cabeça do peregrino cortada em triunfo pelos filhos do Cão e O champanhe, além de contos que vieram a lume em coletâneas diversas e ensaios literários publicados no Jornal do Brasil e em outros periódicos.
Joaquim Branco, doutor em Literatura Comparada pela UERJ, dedicou-se ao estudo da obra literária de Adrino Aragão, sobre a qual escreveu, em 2006, "Minimalista inquieto" [3], versando sua tese pós-doutoral (UFRJ) o miniconto adriniano.
Membro do Clube da Madrugada, Adrino Aragão escreveu sobre essa associação literária e artística amazonense: "(…) O Clube da Madrugada nunca possuiu sede própria: seus escritores sempre se reuníram embaixo de um mulateiro [grande árvore da Amazônia] na Praça da Polícia [Praça Heliodoro Balbi, Centro, Manaus]. Mas sua existência transcendeu os limites geográficos dessa Praça. E, hoje, é reconhecido não apenas no Brasil, mas em várias partes do mundo (…)" (Loc. cit.).
Em 2001, Afrânio Coutinho e J. Galante de Souza incluíram o nome de Adrino Aragão na Enciclopédia de Literatura Brasileira. Ele é articulista regular da revista O Pioneiro, de Brasília, editada pelo poeta e jornalista Heitor Humberto de Andrade.
ARAGÃO, Adrino. Tempo fraturado. Cataguazes, MG: Líder, 2015. 151 p. 14x21 cm. ISBN 978-85-66641-10-3 Prefácio: "Adendo à minificção de Adriano Aragão", por Márcio Almeida. Posfácio: "Adriano Aragão: Minificcionista intertextual", por Márcio Almeida. Arte dacapa: Hélvo Lima.
"Adriano reúne nesta seleta "poesia em gotas de essência", um "delicioso valor da brevidade", como no haikai e uma espécie dekakotoba, compressão de muitas ideias num espaço reduzido por meio, geralmente, de jogo de palavras." MÁRCIO ALMEIDA
o vento e o sol
sonhos que se foram
pipas de papel
*
escamas de prata
o peixe em salto de acrobata
a fruta abocanha
*
ouvidos bem abertos
mãe-dágua espera
mais um encantado
*
assobios na mata
noite de lua cheia
matinta perera
*
a lua cheia
como um touro enfurecido
surge das nuvens escuras
*
ao cair da tarde
o grilo pede
socorro
*
o canto do uirapuru
me põe em comunhão
com o sagrado
*
onde posso encontrar
capelo gaivota mestre
na arte de voar?
*
olho dágua
tudo enxerga
e nada reclama
*
conchas na praia
adornos marinhos
oferendas de iemanjá
*
à sombra da castanheira
releio haicais
do mestre bashô
*
chuviscos luminosos
lanternas na escuridão
minúsculos vagalumes.
POETAS BRASILEIROS DE HOJE 1985. Rio de Janeiro: Shogum Ed. e Arte, 1985. 114 p. Ex. bibl. Antonio Miranda
CAMINHANDO
no traço inconsútil
da madrugada
busco o poema
inatingível
no arco esticado
do guerreiro
me sustento
assustado
caminhando
por outras terras
sou cancioneiro
sem viola
quero montar poema
nas asas
do pássaro
e sair
como doido
à procura
de nada.
*
Página ampliada em outubro de 2021
Página publicada em março de 2017