ROSALVO ACIOLI JÚNIOR
Rosalvo Acioli Júnior (1955), Maceió, capital do Estado de Alagoas, Brasil, é poeta, escritor, ensaísta, crítico literário e tradutor. Graduou-se em Direito pelo Centro de Estudos Superiores de Maceió (CESMAC) e em Jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL).
Estreou na literatura brasileira com o livro Sonhos Imaginários (Poesia), publicado pela Editora Global, São Paulo, em 1984. A obra foi indicada ao Prêmio Jabuti de Melhor Livro de Poesia em 1985, promovido pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), e ao Prêmio Olavo Bilac de Melhor Livro de Poesia em 1986, promovido pela Academia Brasileira de Letras (CBL).
Em 1987, publicou Maceió (Poesia), Editora Senha, Maceió. Em 1988, publicou ensaio e co-organizou o livro Jornal de Alagoas – 80 Anos, (Ensaios) Editora Escopo, Brasília. Em 1989, fundou e editou dois números do jornal de literatura Página Aberta, distribuído no meio literário nacional e internacional.
Foi selecionado e incluído na Antologia da Nova Poesia Brasileira, organização, seleção, notas e apresentação de Olga Savary, publicada em 1992 pela Fundação Rio / Rio Arte, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Editora Hipocampo, Rio de Janeiro.
A poesia de Rosalvo Acioli Júnior mereceu opiniões dos críticos e ensaístas Gilberto Mendonça Teles, Luciana Stegagno Picchio, Reynaldo Bairão, João Manuel Simões, José Paulo Paes e Paulo Rónai, e dos poetas Lêdo Ivo, Márcio Catunda, Ferreira Gullar e João Cabral de Melo Neto, entre outros escritores.
Atualmente, Rosalvo Acioli Júnior edita a revista Página Aberta, que publica textos inéditos de escritores brasileiros e estrangeiros.
[ ACIOLI, Rosalvo ] CARVALHO, Anete. Presença de Rosalvo Acioli na literatura. Maceió: Imprensa Oficial Graciliano Ramos, 2012. 147 p. 15x22 cm. ISBN 978-85-814228-0-7 Col. A.M. Texto da jornalista Arlete Carvalho Machado de Oliveira sobre a obra poética, crítica e a atividade de promoção cultural de Rosalvo Acioli. Anete é formada pela Universidade Federal de Alagoas e é apresentadora da TV Educativa de Alagoas (Canal 03), emissora do Instituto Zumbi dos Palmares.
De
Rosalvo Acioli Júnior
MACEIÓ
Poesia
Maceió: Editora Senha, 1987. 59 p
Herança das águas
Rosalvo Acioli Júnior
I
Essas águas afloram peixes.
Essas águas bebem estrelas.
II
Todas as águas que aqui murmuram
nasceram com a luz dos ventos:
as águas (génie de esperanças),
múltiplas, genitais, límpidas,
líquidos lírios brancos
que lavraram as sementes,
que estabeleceram as raízes.
III
Aqui os homens fremem-se como peixes.
No fulgor da salsugem e maresia,
as águas crepitantes, a terra,
são evasões de sonhos e claridade.
Demais as criaturas sonham:
os goiamuns enlouquecidos
na lodosa flora da lagoa;
os mariscos floridos
nas areias etéreas do mar;
os peixes e o sururu embriagados
nas transparências em oferta.
Demais aqui, demais,
lírio de sal, plenitude de sol,
na fecunda constelação dos peixes.
IV
Maceió, foz dos ventos,
de doidos sol e lua excursionistas
sobre este triste povo sorridente,
conservador e falso puritano,
grande parte pobre de fazer dó.
Maceió de ruas tortas
onde os transeuntes exalam mar
e estão a vagar, estão a vagar.
Ah, terra insular!
Ah, terra antigamente!
V
Por este azul-verde-sangue
resplendem os horizontes,
que a terra o céu habita,
e abraçados nos ventos livres
os coqueiros assonam em festa
as suas asas de anjo.
VI
Há uma ilha de coração,
canto de núpcias, sal e sangue,
cercado de mar e eternidade.
Incrustada a alma do poeta
num golpe de rosa e solidão.
VII
(A noite derrama suave
sua pátria de estrelas
no mar cheio de línguas.
Bebe da taça o sangue
da multiplicação dos peixes.
A terra recolhe a espuma
e os beijos de sal.
A noite no mar derrama
seu esplendor de bosque negro.)
VIII
Lagoa Mundau
filha dos rios do norte –
Mundau rio
anseia os seus ocultos amores
entre canais e ventos
que o dia rumina criaturas
nas redes dos pescadores.
Lagoa Mundau
de negro ventre
grávido de sururu.
IX
Não lhes deixe, ó águas,
que o veneno dos homens
abortem os seus filhos
que a vida nestas águas
é mais doce que a vida.
X
Diversa fonte da esperança
diga porque os rios bebe –
estrondosa invenção dos peixes
em que trescalam em ondas
os murmúrios antigos de Netuno.
Mar de Maceió,
razão em fluxo e refluxo
no passo a passo cadente
do coração espargido de luzes
no infinito parto das águas.
XI
Que outras águas,
que outros ventos,
que outras luzes,
poderão existir
além – e muito –
da vertiginosa Maceió?
Sagram-se no pendor
de sonho e esperança,
filhos que se banham,
que se iluminam,
que se arejam,
pelas lagoas,
pelas praias,
pelos verdes na terra.
Versejem o azul do dia
e a negritude noturna
aquosos de sempre.
XII
Sempre (senão sempre)
revivem e renascem
habitantes e turistas
devotos da palma branca
do areal das praias,
verde pedra líquida,
das algas mágicas
que silvam a maresia
nos narizes rubros
ardendo a música do sol –
o coração morno
que enlaça os horizontes
(deitando-se na noite)
com sua cantilena de sonho
banhando as vazantes.
Currais de homens
cercando as criaturas.
XIII
Aqui estou, ó terra minha,
pungente sangue do seu sangue
nas criaturas em sementes
e nos brancos lírios da manhã.
Aqui estou, ó terra minha,
nos dedos inéditos das suas águas
que me passam olhos verdes.
XIV
Maceió, rima e rumo, riso e siso,
nas vidas e contra-vidas de faces
que sustentam e habitam os homens.
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De
Sonhos Imaginários
(Poesia),
de Rosalvo Acioli Júnior,
São Paulo: Global Editora, 1984.
Manhã de Midas
A aurora nasce em abóbora
e o céu risca-se em ouro.
Na manhã de Midas
a luz treluz azul –
Os homens olham
com olhos de peixe.
Augusto dos Anjos
Em sombra, a alma do poeta canta
– o infindo Eu de Augusto abarco –,
em ardoroso sustenido, marco,
generoso eco de sua fronte santa.
Vertido semente, o vate é planta
à sombra do tamarindo de Pau d’Arco,
lúcida angústia torcida em arco
removendo a vida em poesia tanta.
No âmago do tempo a voz, além morte,
faz da aguda tristeza suporte
de suas catedrais em purpúrea afasia.
Cresce, Augusto dos Anjos, teu fado.
Sobe, tamarindo, contemplado,
ó singularíssimo templo de poesia.
Igual
Iludo-me do tudo.
Trago-me do nada.
Igual sou do todo
em minhas diferenças.
Antonio Miranda (diretor da Biblioteca Nacional de Brasilia) à esquerda, Galeno Amorim ( Presidente da Fundação Biblioteca Nacional, à direita da foto) com o poeta Rosalvo Acioli Júnior em Maceió, em agosto de 2011.
Página publicada em novembro de 2010 . republicada em agosto de 2011.
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