POESIA ALAGOANA
Colaboração de CRISTINA PATRIOTA
Foto:www.adufal.org.br/
RICARDO CABÚS
Ricardo Cabús (Maceió, 1964) é engenheiro civil e atua como professor de graduação e pós-graduação na Universidade Federal de Alagoas. Graduado em Engenharia Civil pela mesma universidade em que hoje é professor, em 1986, fez especialização em Matemática Aplicada: Computação, em 1988, terminou o mestrado em Engenharia Civil na Universidade Federal de Santa Catarina em 1997 e doutorado em Arquitetura na University of Sheffield (Sheffield, Inglaterra) em 2002.
Como poeta tem três livros publicados: Estações Partidas (1994), A Galinha Saudosa (2009) e Cacos Inconexos (2010).
Em Estações Partidas é possível encontrar temas que variam do amor carnal, consumível, à crítica social (vez por outra voltada especificamente para sua cidade natal: Maceió). A presença de rimas é constante, embora a assimetria predomine. Em geral, a “surpresa” do poema surge no verso final que destoa estruturalmente dos demais e encerra o pensamento do poeta sobre o tema em questão de forma inesperada. Como na paráfrase feita a partir do trava-língua popular “O rato roeu a roupa do rei de Roma”, e intitulada “O Rato e a Roupa do Rei”, que diz: “O Rato roeu a roupa/Do Rei de Roma/ O Rato hoje está na cama/ Em estado de coma/ A roupa do Rei estava envenenada.”.
A Galinha Saudosa é uma história infantil em versos que trabalha explicitamente com a questão da saudade (este é um tema bastante recorrente na obra do poeta) e implicitamente com o medo da perda e a dependência emocional das relações humanas. Este livro concedeu a Ricardo Cabús seu primeiro prêmio literário, que em 2009, recebeu o “V Prêmio Espia: Notáveis da Cultura Alagoana”, na categoria “Melhor livro de literatura infantil”.
Cacos Inconexos solidifica o estilo do autor quanto a estruturas e sentidos inesperados, e busca com muito mais recorrência aos temas: solidão e saudade. Também, neste livro, é possível perceber a influência de sua área acadêmica de pesquisa: Iluminação. Palavras e expressões como luz, luminescência, iluminação, refratar, reflexo (entre diversas outras desse meio) são facilmente encontradas nos textos do poeta. Cacos Inconexos traz, além de poemas, letras de músicas, fotografias e traduções de autoria de Ricardo Cabús. As músicas foram gravas em diversos estilos, desde o forró à MPB; as fotografias são lembranças do tempo em que passou em Sheffield; as traduções trazem nomes importantes da literatura de língua inglesa e língua espanhola, tais como: Bukowski, Elizabeth Bishop, T. S. Eliot, e. e. cummings, Pablo Neruda, Alfonso Calderón, entre outros.
BIOGRAFIA – Ricardo Cabús (por Cristina Patriota)
Amor e Dor
E pensar que a solidão
É tão maldita
Por trazer a dor
Mas o que dizer do amor
Com sua mão bendita
Que traz, além da dor, a desilusão
(De: Estações Partidas)
Que Nada...
Seis Anos
Que nada, eram menos
Dez horas
Que nada, eram mais
Verti uma lágrima
Ao vê-la
Sozinha de bar em bar
A vender suas rosas
Suas?!
Que nada!
Explorada
Sei lá por quem
O porquê
Todos sabemos
E será que alguém dessa idade a essa hora trabalhando pode ser feliz?
Que nada...
(De: Estações Partidas)
Reencontro
O prazer de rever
Sem antever o ponto
Sem prever a duração
Entre o ver
E o rever
Haver e reaver
Ter
Sem reter
Nem deter
Compraz-me
(De: Estações Partidas)
Não Sei o Quanto de Mim Sou Mulher
(Cacos Inconexos)
Não sei o quanto de mim sou mulher
Se na lágrima que deita calada
numa manhã cinzenta
Se na inconstância do desejo
que nuveia a tristeza
Não sei o quanto de mim sou mulher
Se no querer- me livre
assim como os outros
Se no querer-me onipresente
assim como Ele
Não sei...
Sei que de tanto gostar
carregá-lá em mim
faz-me feliz
Cardiolatifúndio
Ele era tão ateu
que não conseguia dizer
adeus
Tentava aprender a fazer reforma agrária
em um cardiolatifúndio
(De: Cacos Inconexos)
Luz e Poesia
A luz está para a arquitetura
assim como a poesia
está para a literatura
ambas carecem de corpos sensíveis
para serem vistas.
(De: Cacos Inconexos)
Beijos Comprimidos
No vagar da tarde
sonho
com teus beijos compressores
No vagar da tarde
pede-me ficante
faz-me pecante
traça-me picante
E deixa o Sol rastrear nosso odor
e deixa a dor rastejar solo ardente
e rilha, rilha, rilha
cada dente siso
cada cadeira básica
cada porta tesa
E eu te aguardo
para beijos comprimidos
beijos compressores
no vagar da tarde
(De: Cacos Inconexos)
Dialógica
Eu quero uma buceta cabeluda
ou raspada
A boemia para mim é um acidente
Eu quero estar em casa
filosofando cada pentelho
iluminado pelos raios que transpassam
aquela cortina encardida
Eu quero esse cheiro impregnado
o espaço impreenchível
de um coração implexo
Para fora com suas vaginas monologais
Eu quero uma buceta que dialogue
(De: Cacos Inconexos)
E Não Me Venha
E não em venha me chamar de brega
Eu não quero convertê-la
Só quero tê-la
Minha religião é o mar
Só quero que me carregue
e me entregue a planta da cidade
com suas moucas
e tuas locas
com suas ocas
e tuas toucas
Jogue a tranquilidade
e me deixe o caos
Aos incautos a paz
a mim a guerra
Errante cavaleiro do horizonte ocasional
Ocaso de um dia atroz
encoberto pelo perdão da dor
Acaso na mansidão tardia
e indesejável
E não me venha me chamar de louco
fique rouca e te penetrarei
só quero tê-la
minha religião é o mar
E os ladrilhos quebrados
rachados pelo tempo
não me levam a você
Você vem no vento
E se não atento
Te perco
Com você me sacio
E o vadio solitário desaparece no mar
(De: Cacos Inconexos)
MÚSICAS
Ser-te-ei Teu
http://grooveshark.com/#!/search/song?q=J%C3%BAnior+Almeida+Ser-te-ei+Teu
Um beijo
https://www.youtube.com/watch?v=jHp9MGkR5Vg
Página publicada em julho de 2015
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