PEDRO LOPES
Nasceu no Engenho «Bom Sucesso», município de Atalaia, em 17 de junho de 1920. Fez o curso primário na sua terra natal, ingressando em 1934 no “Ginásio Santos Dumont», de Maceió, transferindo-se em seguida para o Liceu Alagoano. Em 1939, com a idade de 19 anos, fugiu da casa paterna para Salvador, onde ingressou no Comércio, só regressando a Alagoas em 1949. Plantou cana na propriedade do pai, depois foi proprietário de uma fábrica de bebidas, funcionário do Fomento Agrícola, e depois hoje exerceu a função de Agente Especial do I. P. A. S. E., na Delegacia de Alagoas. Colaborou na revista «Caeté», de Maceió.
FANTASIA
Cor da tragédia
— sua fantasia
naquela noite.
A névoa do seu colo
— um grito de sexo
que se perdia.
E nos meus olhos
ainda agora
um arroio de sonhos.
ATALAIA
Cidade Alta:
Nos sinos mudos da tua igreja
corujas soturnas piam;
e no abandono das sombras
os gestos parados dos santos
abafam o rumor dos meus passos.
Caminho. Os morcegos voam.
Piso os mármores encardidos;
em cada laje uma cruz
guarnecendo não mais ossos,
não mais pó.
— Apenas a pompa dos nomes.
Cidade Alta:
Muros caídos.
Casas carcomidas
pelas noites do tempo;
biqueiras coloniais ;
vidraças partidas.
Evocações. Fantasmas histéricos.
Vejo negros açoitados nos troncos;
gargalhadas dos brancos Senhores.
Tocaias nas ladeiras. Calabouços.
A luta da rua das Tábuas:
o padre ferido, morto;
mulheres de seios decepados;
e na barba patriarcal do chefe
manchas de sangue do invasor que fugiu.
Cidade Alta :
Vejo cavalos loucos correrem.
Zabumbas. Pífanos. Foguetes.
A argola ferida pela lança medieval
— fitas no peito do cavaleiro.
Gritos. Gargalhadas. Vozes roucas
— vermelho ...
— azul ...
Panos de chita voando como bandeiras.
Cidade Alta :
Abraço as tuas gêmeas palmeiras imperiais,
elas acenam para as donzelas
de cabelos compridos
debruçadas nos janelões.
As moças sorrindo, suspiram
e fixam os olhos negros
numa lua inexistente.
Página publicada em outubro de 2015
|