OLIVEIROS LITRENTO
Oliveiros Litrento nasceu em S. Luis de Quitunde, Alagoas, em 1923. Em Maceió, fez a educação primária e secundária.
Submeteu-se a exames e cursou, com pleno êxito, a Escola Preparatória de Cadetes, em Fortaleza e no Rio de Janeiro, a Escola Militar. Aspirante a Oficial do Exército vai para o Recife, onde, na Faculdade de Direito, é destacado aluno nos cursos de Bacharelado e Doutorado.
Professor de Direito Constitucional, veio a ensinar na Academia Militar de Agulhas Negras por um período de 20 anos. Professor de Direito Político na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e de Direito Internacional Público na Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Perito e Doutor em Direito Internacional da ONU. Em 1962 foi promovido a tenente-coronel professor de Direito Constitucional Penal Militar Internacional Público na Aman. Em 1974 reformou-se como coronel.
Também foi professor titular de Direito Internacional Público na Universidade Federal do Rio de Janeiro, Estadual da Guanabara e Gama Filho, todas no Rio. Por quatro vezes foi laureado pela Academia Brasileira de Letras, recebendo o Prêmio Sílvio Romero, de história literária com a obra Apresentação da Literatura Brasileira. Litrento integra Conselho Superior do Instituto dos Advogados Brasileiros, as academias de letras do Rio de Janeiro e de Alagoas, além da Federação das Academias de Letras do Brasil.
Também pela Academia Brasileira de Letras recebeu dois outros prêmios, inclusive o Prêmio Olavo Bilac, de 1973, pela coletânea de poemas "O Astronauta Marinho". Na ficção é detentor do Prêmio Orlando Dantas, 1958, do Diário de Notícias, Rio de Janeiro. Recebeu o Prêmio Coelho Neto, de romance, 1982, pela Academia Brasileira de Letras, com "Tempo da Cachoeira.
Fonte: http://www.onordeste.com/onordeste/enciclopediaNordeste
AGORA EM BARCELONA
Agora, na cidade, não há vida.
Só há mesmo grinaldas de bonina.
Agora, que coberta na neblina
Estás em Barcelona, adormecida.
Agora, nos teus sonhos, a menina
Pastoreia há milênios esquecida.
Agora, em Barcelona, enternecida
Tens o frio da aurora ultramarina.
Agora, em Barcelona, está chovendo.
Flores mortas no tempo aparecendo,
A noite declinando o anoitecer.
Agora, na cidade, não há nada.
Só há mesmo no olhar da fuzilada
Os galos a saudar o amanhecer.
CALENDÁRIO
Eram conchas batidas levemente
Pelas brisas da praia e da distância.
Garças brancas, povoando um céu tranquilo,
Fugiam para o azul, que é a cor do sonho.
Na paisagem o mar se levantava
E era claro como uma ninfa nua,
Evocando as mulheres mais formosas,
Plenas de forma e cheias de ternuras.
Róseas conchas batidas em silêncio.
O vento, parecendo um gênio alado,
Anunciava carícias e venturas.
Era o tempo perdido. O calendário,
Esquecido entre o mar e a aventura,
Galopa pela tarde e esmaga o sonho.
LITRENTO, Oliveiros. Vinte composições. Poesia. Rio de Janeiro: Livraria Editôra da Casa do Estudante do Brasil, 1956. 55 p. 14x19 cm. Capa de Edmir Domingues. “ Oliveiros Litrento “
INFÂNCIA
Onde as acácias brancas do caminho?
As rosas são grinaldas de algum morto.
Perdi-me pela vida e nalgum horto
A noite espessa e úmida, adivinho.
Passa a rua da Infância ao desconforto.
A morta surge nua e em desalinho.
Na taça de cristal o amargo vinho
E no olhar da criança o antigo porto.
Relógios regressando a noite imensa.
A vida que perdi, e a chuva intensa,
A cobrir as idades de mistério.
No clima onde parei, calma e chuvosa,
A aldeia em que nasci, e a fabulosa
Infância, anjo a sonhar em cemitério.
SONETO QUASE FANTASIA
Emergindo da noite nos meus ombros
Em visões de abandono e desalento
O rosto, clareando o pensamento,
É aurora dormindo sobre escombros.
Faz-se brumas do rio ouro momento.
É mulher e canção nos meus assombros.
E regressa, deixando nos meus ombros.
Lembranças de ventura e de lamento.
É mulher. Está nua pelos prados
Cavalgando os cavalos mais alados
Nas sombras fugidias e errantes
Escuto-a na ternura e no naufrágio,
Nos pássaros, nos ventos, no presságio
Das mortes violentas e distantes.
Página publicada em outubro de 2015ç ampliada em novembro de 2015.
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